A população em situação de rua em Goiânia em 2019 é majoritariamente composta por homens, adultos, negros e solteiros. O perfil faz parte do 2º Censo da População em Situação de Rua de Goiânia, realizado pelo Núcleo de Estudos sobre Criminalidade e Violência (Necrivi), da Universidade Federal de Goiás (UFG), e foi apresentado ontem. O levantamento mostra que 41,2% fazem da rua uma morada há mais de dois anos, 75,35% são de negros e 69,5% estão sozinhos. A pesquisa, encomendada pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos indica ainda que a maioria dos identificados saiu de casa por problemas familiares.No total, 353 pessoas foram contabilizadas pelo censo como moradores de rua. Além desta classificação, foram analisadas pessoas que trabalham na rua, mas que não têm na rua um lar. Neste universo, a pesquisa identificou 435 vulneráveis que atuam ou em semáforos ou como catadores de recicláveis ou como “flanelinhas”, vigiando veículos. Os números, no entanto, divergem com dados da Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas), que apresenta relatórios mensais com média superior ao resultado apresentado pela universidade. Já em comparação com o primeiro censo realizado pela UFG em 2015, a população em situação de rua apontada foi de 351 pessoas, não havendo divisão entre moradores de rua e trabalhadores nas ruas. Titular da Secretaria de Direitos Humanos, Filemon Pereira afirma que os números similares aos de 4 anos atrás mostram descontinuidade no trabalho que deveria ter sido realizado pela Prefeitura de Goiânia neste período. “Se tivéssemos avançado desde a pesquisa de 2015, com certeza teríamos números melhores. Tivemos mudança de prefeito, de secretários, e pouca coisa foi feita. A Semas tem a Casa de Acolhida, por exemplo, mas não houve um trabalho efetivo e temos que dar o braço a torcer. Não houve, por exemplo, qualificação profissional, destinação de moradias e nestes termos precisamos avançar”, completa.Filemon diz ainda que a pesquisa da universidade irá continuar até julho do próximo ano e explica que aproximadamente 30% dos moradores devem ser interrogados para que as respostas sejam ainda mais claras e tragam informações mais detalhadas. De imediato, para 2020, ele já anuncia cursos de alfabetização e capacitação profissional que devem ser realizados em parceria com a academia. “Sabemos que algumas coisas dependem da Prefeitura como habitação e cuidados com saúde.”O coordenador estadual do Movimento Nacional de População de Rua, Denizar Oliveira, de 33 anos, diz conhecer bem a realidade apontada na pesquisa da UFG. Ele morou na rua por 16 anos e, além de ter usado inúmeros tipos de drogas, foi preso várias vezes. Ele conta que tudo começou quando um sargento da PM atirou e matou a irmã. “Vi minha mãe sofrendo, minha família foi desmoronando e eu saí de casa para não ver minha mãe sofrer. Passei por dias muito difíceis, perdi meu último irmão recentemente, morto por envolvimento com drogas e chegou ao ponto de nem mesmo a minha mãe me querer”, completa.Conhecido como Denis, ele conta que já acordou diversas vezes sendo agredido por policiais ou mesmo pela população, por comerciantes. “Há seis anos minha luta é para que as pessoas que moram nas ruas tenham um pouco de dignidade. Na Avenida Independência, por exemplo, sempre tem gente doando comida. Não concordo com isso, porque o que precisamos é de políticas públicas”, destaca. Casos como de Oliveira não são incomuns, como aponta a pesquisa: 63,3% dos moradores de rua na capital já sofreram algum tipo de violência.-Imagem (1.1951224)