Moradores e comerciantes fixados na região da Avenida Goiás, no setor Central de Goiânia, reclamam da qualidade de vida reduzida devido às obras na via. Tópicos como redução de clientes, falta de acessibilidade às calçadas, buracos e alto volume de poeira são algumas das queixas acumuladas pelos cidadãos.André Luiz Monteiro do Espirito Santo, de 64 anos, nasceu no centro da capital e permanece morador até o hoje. Acostumado a passear com os dois cachorros dele todos os dias, o aposentado percebe as mudanças na área e avalia como negativa a forma de condução da obra. “Se eu não tivesse os cachorros, nem desceria aqui. Não é agradável e estava perigoso de andar com tanto buraco, além de que é lixo subindo e descendo, e uma poeira que toma conta do prédio”, indigna-se.Os trabalhos na Praça Cívica foram iniciados em julho de 2021. A previsão inicial era que o serviço fosse concluído em 75 dias, o que não ocorreu. Maior tempo têm as alterações na Avenida Goiás, cujas mudanças tiveram começo em setembro de 2019. À época, a administração municipal prometia intervenções em trechos, com o objetivo de provocar poucos inconvenientes para a comunidade.As construções são um desagrado comunitário. Uma moradora da avenida, na altura da Praça Cívica, diz que espera ansiosa pela finalização de todas as mudanças na via. “Quando estava grávida, já tinha dificuldade para respirar bem, com garganta sempre seca, tudo por conta dessa poeira. Agora o menino está pequeno e vive gripadinho. Também de tanto pó que fazem aqui”, afirma. A mulher preferiu não ser identificada.Alfredo Bruno, de 29 anos, há seis trabalhando na esquina em frente a Praça do Trabalhador, diz estar cansado de esperar por melhorias. O jovem aponta dificuldade para manter limpos os panos e a tapeçaria. “(A obra) me dá altos prejuízos, se você passar a mão, vai ver que fica uma bagunça, sem falar que incomoda demais. Até o olho fica seco”, comenta. O pó já faz parte da rotina e Alfredo, que se queixa de descaso do órgão público responsável pelo serviço.Em torno da Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, a Praça Cívica, as camadas de terra geradas pelas máquinas são ainda maiores. Em pouco menos de cinco metros de distância, o dono de um ponto de chaveiro, o proprietário de um estacionamento e o vendedor de uma lanchonete precisam realizar uma limpeza dobrada para conter a sujeira dos comércios.No local, que trabalha com alimentos, a preocupação é pela qualidade da mercadoria vendida e bem-estar dos clientes. “A gente tem de passar pano toda hora e às vezes eles passam com um caminhão pipa aí, mas só atrapalha mais, e também diminui os clientes”, explica Arthur Salles Santana, de 24 anos, vendedor há cinco anos da lanchonete.A comerciante Mônica Carvalho Santana, de 50 anos, começou a ajudar o pai na banca de lanches da família, aos 10 anos, e percebe a baixa movimentação desde o início da obra do BRT. “A Goiás e a Praça Cívica, por exemplo, estão abandonadas, não vem o mesmo público aqui (no comércio) mais, o pessoal desiste de andar sem acesso”, afirma.Mônica considera, inclusive, que a situação influenciou gravemente no trânsito das vias ligadas à obra. “Tem carros de aplicativo que nem aceitam quando você fala que vem pra cá e perto da praça (Cívica), os ônibus ficam travados e pra ficar andando aqui é ruim demais”, diz. “Não entendo como deixaram o centro de Goiânia assim, com tanto órgão do governo aqui no meio”, desabafa.DesinformaçãoO chaveiro Marcos Rodrigues Silveira, de 39 anos, herdou o ponto da família e convive com qualquer alteração da região há 25 anos. Além da poeira, redução de clientes, buracos nas calçadas e resíduos que ficam espalhados pela área, ele critica a falta de informação a respeito das próximas mudanças, e não possui expectativas para uma finalização da obra em breve.“Se eles desviam a rota, abrem buraco, colocam cones, tudo isso a gente fica sabendo por jornal, televisão”, comenta. “Tem hora que parece um faz de conta, que não vai acabar nunca, só vão ficar postergando mais”, acrescenta.Jauner Rodovalho, de 69 anos, é dono de um estacionamento ao lado do chaveiro, e reforça os descuidos com a execução da obra. Neste cenário, Rodovalho julga a conduta dos funcionários da obra. “Eles passaram falando que ia durar 6 meses a obra no começo, agora direto você vê um batendo martelo e dez sentados olhando, conversando, ficam quietinhos, isso aí parece que é uma obra faraônica”, diz.Conclusão fica para setembroEm nota, a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Seinfra), esclareceu que obras de implantação e de revitalização das calçadas situadas nas duas faixas de todo o trecho do BRT estão em fase de conclusão, restando apenas intervenções em trechos situados na Avenida Goiás e na Praça Cívica.“As calçadas localizadas na Avenida Goiás estão em processo de revitalização do piso em concreto, com alguns pontos aguardando adequações de acessibilidade, a quadra situada entre as Ruas 1 e 2 está em processo de revitalização do piso de concreto”, afirmou. A previsão para conclusão deste trecho é em meados de setembro.Em relação aos funcionários que trabalham diretamente na execução da obra, a Seinfra disse que os contratos pertencem ao Consórcio BRT Goiânia e são orientados por sua equipe de engenharia.(Manoella Bittencourt é estagiária do OJC em convênio com a PUC-Goiás, sob supervisão do editor Rodrigo Hirose).Leia também: Obras do BRT danificam fios, e prédio administrativo fica sem energia na Praça CívicaTrecho 1 do corredor do BRT em Goiânia segue sem nenhuma previsão de conclusão