As clínicas de diálise de Goiás têm enfrentado dificuldades para comprar soro fisiológico. O produto é imprescindível para o andamento do procedimento que mantém diversos portadores de insuficiência renal vivos. Os estabelecimentos reclamam do aumento do preço e da dificuldade de achar a mercadoria, o que faz com que os estoques diminuam drasticamente.O setor farmacêutico argumenta que apesar do aumento da demanda, a produção continua normal e que o valor de venda está dentro do limite determinado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).O administrador da clínica Clinefro Goianésia, Cristiano Almeida, relata que desde o final de 2021 eles vêm enfrentando problemas para comprar soro fisiológico. “É uma verdadeira crise. Já cheguei a pagar R$ 4 em um litro de soro. Atualmente, quando acho, o preço varia entre R$ 23 e R$ 50. Ninguém nos dá nenhuma explicação do porquê desse aumento. Normalmente mantemos um estoque para dois meses, mas está difícil. Muitas vezes temos que pegar emprestado com outras clínicas próximas. Na nossa unidade de Porangatu, a realidade não é diferente”, explica.Almeida esclarece que a situação se agrava porque a maioria dos pacientes fazem o tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que paga um valor fixo de R$ 218 por sessão. Cada sessão dura cerca de quatro horas e usa entre 2,5 e 3 litros de soro. Comprando o produto a R$ 23, as clínicas gastam entre R$ 57,50 e R$ 69 apenas com soro em cada sessão. “Ainda temos que gastar com a manutenção da máquina, outros medicamentos, salários, água, energia elétrica, dentre outras coisas. A situação está ficando insustentável.”Leia também:- Justiça condena Prefeitura por condições precárias em unidades de saúde- Deputados goianos reembolsam R$ 629 mil em gastos com saúde- Goiás define protocolos de enfrentamento à Monkeypox; vejaA Clinefro Goianésia atende 178 pacientes, de 18 cidades diferentes. O enfermeiro nefrologista Marcelo Gomes, diz que o soro fisiológico é usado para preparar e limpar o material que será usado na diálise. “Também usamos para manter o nível de pressão arterial do paciente quando ele está ligado na máquina. A diálise é feita pelo menos três vezes na semana e sem ela, invariavelmente, o paciente perde qualidade de vida e corre o risco de morte”, diz. Em Itumbiara, a situação é semelhante à encontrada em Goianésia. “Vivemos uma tensão. O valor da sessão de diálise não deixa que tenhamos um estoque alto. O aumento de preço do soro fisiológico foi abusivo. Eu pagava em média R$ 8 em um soro de um litro e agora tem chegado até R$ 49. Da última vez consegui pagar R$ 24. ”, afirma Eliza Manzan, que é administradora do Instituto de Hemodiálise de Itumbiara, que atende cerca de 100 pacientes de nove municípios diferentes.BrasilPesquisa recente da Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde) identificou que 53% dos equipamentos de saúde do país estão com estoque de soro abaixo de 25%. Outros 37% estão com estoque abaixo de 50%. O levantamento também mostra que 40% das unidades só têm encontrado o produto no mercado com preços acima de 100% do usual. A pesquisa foi respondida por 106 estabelecimentos, como hospitais e clínicas especializadas, do Distrito Federal e de 13 estados, inclusive Goiás. Em resposta à entidade, o Ministério da Saúde afirmou que o desabastecimento de insumos médicos é resultado de “diversas causas globais que extrapolam” sua competência, mas publicou uma portaria em junho, que libera critérios de estabelecimento ou de ajuste de preços para remédios com risco de desabastecimento no mercado.FarmacêuticasA indústria farmacêutica Halex Istar, que fica em Goiânia e é uma grande fornecedora de soro fisiológico, informou que a produção do produto está normal e que o preço de venda é regulado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), órgão ligado à Anvisa que também regula o preço de outros medicamentos. “Tivemos sim alguns aumentos de preços em função de novos custos que estamos sofrendo”, diz trecho da resposta enviada ao POPULAR. A indústria esclareceu ainda que a demanda do mercado está aumentando, “uma vez que os pacientes ficaram sem tratamento durante a pandemia”, e que a empresa enfrenta dificuldades para a obtenção de insumos pois eles “são importados e devido aos últimos acontecimentos a nível mundial o desabastecimento foi geral.”O presidente executivo do Sindicato das Indústrias Farmacêuticas no Estado de Goiás (Sindifargo), Marçal Soares, diz que o soro fisiológico tem um valor de venda tabelado que não pode ser extrapolado pela indústria. “É crime. O que acontecia é que antes elas (indústrias) conseguiam desconto na venda e hoje não conseguem mais por conta do aumento de custos. O valor da embalagem do soro, que é 80% do valor de custo do produto, sofreu um aumento recentemente.”Por conta do preço regulado, Soares acredita que o aumento no valor do soro pode estar acontecendo nos atacadistas e varejistas. Ele explica que as indústrias só podem vender esses produtos para estabelecimentos com autorizações de funcionamento específicas como atacadistas do setor, hospitais e secretarias de saúde.“Como essas clínicas costumam comprar em um volume menor e o soro é um item muito pesado para transportar, elas acabam optando por atacadistas ou varejistas que estão mais próximos e que podem estar aumentando o preço do produto. O que posso garantir é que do lado de cá estamos seguindo tudo que nos é determinado”, disse o presidente do Sindifargo.