Às 10h18 minutos de ontem um comboio com oito carros da Ronda Ostensiva Tático Metropolitana (Rotam) subiu pela Avenida T-4, até o Setor Serrinha, em baixa velocidade. Ao entrarem pela Rua Thomas Edson, em frente à sede da Organização Jaime Câmara (OJC), os carros pretos ocupam toda a primeira quadra. As sirenes e os giroflex foram ligados. Ao terminar a quadra, sirenes e giroflex foram desligados e cada carro da Rotam seguiu destino diferente.Cada veículo era ocupado por quatro policiais militares (PMs), totalizando a passagem de 32 PMs fardados e presumidamente armados para o trabalho de policiamento ostensivo previsto para ontem. No mesmo dia, o POPULAR havia publicado, com exclusividade, reportagem mostrando um dos inquéritos da Operação Sexto Mandamento com trechos de gravações feitas pela Polícia Federal (PF) que comprometem autoridades e os PMs envolvidos, presos e investigados. Em um trecho da gravação, o tenente-coronel Ricardo diz que os membros da Rotam são "os assassinos da PM" e que alguns tomam remédios "para deixar o cara acelerado".Enquanto os carros da Rotam passavam na porta da OJC, os olharam fixamente para a empresa, como mostram as imagens do circuito interno e como foi presenciado por diversas pessoas, entre funcionários, fornecedores e outros, que estavam entrando ou saindo. Uma das testemunhas foi o procurador de Justiça (recentemente eleito procurador-geral de Justiça de Goiás), Benedito Torres Neto. A instituição que ele presidirá, o Ministério Público (MP) estadual esteve à frente das ações que levaram à Operação Sexto Sentido, pela Polícia Federal.Sem armasNenhuma arma aparecia do lado de fora dos carros, como fazem os PMs da Rotam quando estão em patrulhamento, buscando suspeitos pela cidade. Os carros estavam em baixa velocidade. Como observa um especialista de segurança militar, a atitude é completamente diferente da adotada por equipes policiais apenas de passagem, rumo a outros destinos, por isto, típica de intimidação. "A postura era para parecer um patrulhamento, mas é claro que a Rotam não faz patrulhamento andando em comboio, ligando e desligando sirenes em apenas um trecho antes de desagrupar os carros", explicou o especialista ao ver as imagens, indicando se tratar de um claro recado com foco intimidador.O secretário de Segurança Pública, João Furtado, considerou gravíssima a tentativa de intimidação. "Não é papel do Estado, com policiais fardados, armados e nas viaturas da Polícia Militar, intimidar a imprensa, que deve ser livre. Não apoiamos em nenhum aspecto essa manifestação", disse João Furtado. O subcomandante-geral da PM, coronel Weligton Rodrigues, também condenou a atitude dos policiais. Ele disse que o comando estranhou muito a ação: "Isso não é normal", declarou ele.OAB repudia tentativa de represália"É inadmissível essa tentativa de calar a imprensa". A afirmação é do presidente da seccional goiana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Henrique Tibúrcio Peña, ao comentar a atitude tomada por alguns policiais integrantes da Ronda Ostensiva Tática Metropolitana (Rotam) de tentar intimidar a Organização Jaime Câmara (OJC) após a publicação de reportagens pelo POPULAR apontando a violência e a banalização das mortes atribuídas a policiais em um dos inquéritos da Operação Sexto Mandamento.Tibúrcio repudiou a postura dos policiais que, segundo ele, coloca em cheque o comando da Polícia Militar no Estado. "Até acho que ela pode ter sido adotada à revelia da direção da corporação, mas o comando não pode deixar o caso passar em branco", afirma, acrescentando que é favorável a uma punição exemplar no caso.O presidente da OAB ponderou ainda que, se não houver firmeza do comando da PM, a atitude desses poucos militares respingarão em toda corporação, que passará a ser muito mal vista perante à sociedade. "Muitos já temem a ação violenta adotada em muitos episódios", afirma.E para que a Polícia Militar não seja encarada como a vilã da história, Henrique Tibúrcio assegura ainda que a corporação precisa repensar a forma como ela se relaciona com os cidadãos. "O ideal não é agir à revelia do povo, mas, sim, envolvendo cada um de nós no combate ao crime, expondo as limitações e as dificuldades enfrentadas na atuação policial", pondera.CUTA direção da Central Única dos Trabalhadores de Goiás (CUT-GO) decidiu conclamar a sociedade a apoiar a investigação da Polícia Federal (PF) na Operação Sexto Mandamento, e a divulgação dos fatos pelos meios de comunicação, como O POPULAR. "Em reunião, avaliamos que é hora de a sociedade se manifestar. São fatos gravíssimos", afirmou ontem a presidente da CUT-GO, Bia de Lima.Conforme ela, os dirigentes da central analisaram o cenário das prisões de policiais militares (PMs) suspeitos de execuções e tomaram posição por divulgar a aprovação da CUT à detenção deles no presídio de segurança máxima de Campo Grande, em vez de Goiânia.A ação de ontem lembrou fato ocorrido em setembro de 2007, quando policiais da Rotam foram tirados das ruas e seu comandante afastado depois que parte da tropa, sob o comando do então major Wellington de Urzêda Mota, hoje tenente-coronel, entraram armados e se posicionaram em cadeiras laterais do plenário da Assembleia Legislativa de Goiás.O fato causou polêmica entre os parlamentares diante da tentativa de intimidação ao deputado estadual Mauro Rubem, do PT, que havia declarado que "policiais que praticam violência, execuções sumárias" seriam bandidos de farda. Urzêda é atualmente o chefe da segurança da Assembleia.Associação de jornais e sindicato também se manifestação sobre o casoVárias instituições, autoridades e personalidades se manifestaram ontem mesmo contra a tentativa de intimidação promovida pelo grupo de policiais da Rotam ? que é uma parte da PM formada por quase cem policiais com treinamento e preparo diferenciado do restante da corporação. A Associação Nacional de Jornais (ANJ) divulgou uma nota se pronunciando: "Diante do ocorrido, a ANJ repudia a ação dos oficiais e soldados da PM que participaram da manobra intimidatória", infoforma a nota.Ao mesmo tempo, a ANJ insiste junto às autoridades estaduais para que apurem o ocorrido e ofereçam garantias de segurança ao jornal e seus profissionais, destacando: "Eles (os jornalistas) nada mais fizeram do que cumprir seu dever de informar a sociedade sobre a atuação de agentes do Estado", observando que a conduta dos suspeitos já havia levado à detenção de 19 PMs.Já o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás, em conjunto com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) tornou público se tratar "de uma clara ação que atenta contra o princípio maior da liberdade de imprensa", e que, "ao circular de forma ostensiva em torno do prédio-sede da OJC, os policiais agiram de forma claramente intimidatória para com os jornalistas que ali trabalham e que vêm desenvolvendo um importante trabalho de divulgação de lamentáveis fatos que envolvem alguns elementos da PM goiana". Na nota, cobram apuração rápida e transparente.O deputado federal e Valdir Soares, que é delegado da Polícia Civil, informou que fará pronunciamento na Câmara dos Deputados nos próximos dias repudiando a tentativa de intimidar o POPULAR, situação que ele afirmou ter vivido quando da desocupação do Parque Oeste Industrial. Na época, incumbido de investigar excessos de policiais e autoridades na ação que acabou tendo mortos e feridos, ele e familiares que estavam em outro estado sofreram ameaças atribuídas a PMs da Rotam.Ontem também houve manifestações de procuradores de Justiça, como Ivana Farina ? que denunciou o ocorrido em um evento sobre segurança. A ação dos policias em frente à sede da OJC também foi destaque no site do jornal O Globo e foi tema de reportagem no Jornal Nacional, da Rede Globo.Repercussão TwitterO termo Rotam foi um dos mais citados na rede social8AMPAlessandroTeve tempo que a população pedia a Rotam nas ruas, hoje é diferente, maus policiais vão acabar com a Rotam...leandro_calacaAinda existe na Rotam quem acredita que ela esteja acima das leis. A atuação dela hoje só comprova isso.Padu_PradoIdiotice do comando da equipe...correta a atitude do governador @marconiperilloNabiljamA Rotam não pode ser tirada de ação.jairopereiraaParabéns ao sr. governador de Goiás @Marconiperillo, que afastou imediatamente o comandante da Rotam Goiás por tentativa de insulto a OJC.NickyfelixTirar a ROTAM de atuação? Vocês estão muito loucos!! Especializada sempre!! Não sabem o que dizem!Prof_EduMarinhoUma coisa é certa. A sociedade precisa de segurança e liberdade.caiohenriquesbSerá que os fatos recentes diminuirão a sensação de impunidade que a Rotam demonstrou em frente à OJC e nos inquéritos revelados hoje?NOTA OFICIAL FENAJO Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) vêm a público lamentar a atitude adotada por comboio com várias viaturas das Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam) na manhã desta quinta-feira, 3 de março. Trata-se de uma clara ação que atenta contra o princípio maior da liberdade de imprensa.Ao circular de forma ostensiva em torno do prédio-sede da Organização Jaime Câmara, no Setor Serrinha, os policiais agiram de forma claramente intimidatória para com os jornalistas que ali trabalham e que vêm desenvolvendo um importante trabalho de divulgação de lamentáveis fatos que envolvem alguns elementos da Policia Militar goiana.O Sindicato dos Jornalistas e a Fenaj cobram do comandante maior da segurança pública estadual, governador Marconi Perillo, que este e outros fatos que ocorreram venham a ser apurados de maneira rápida e transparente. A sociedade goiana e os jornalistas de Goiás não podem conviver com essas ações e continuarem se sentindo reféns de quem é pago para proteger e não para amedrontar nossa população.Goiânia, 3 de março de 2011.Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de GoiásFENAJ - Federação Nacional dos Jornalistas NOTA OFICIAL ANJANJ repudia ação intimidatória da PM goiana contra O PopularA Associação Nacional de Jornais ANJ, repudia os atos intimidatórios praticados contra o jornal O Popular, na manhã desta quinta-feira (03/03), por viaturas das Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (ROTAM), unidade da PM de Goiás.Em sua edição de hoje, o jornal publicou reportagem sobre uma investigação da Polícia Federal - Operação Sexto Mandamento - sobre a existência de um grupo de extermínio, envolvendo efetivos da ROTAM. Horas depois da edição circular, sem qualquer justificativa e com o claro intuito de intimidar o jornal, um comboio composto por viaturas dessa unidade percorreu ruas da cidade, passando diante da sede de O Popular com sirenes acionadas.Diante do ocorrido, a ANJ repudia a ação dos oficiais e soldados da PM que participaram da manobra intimidatória. Ao mesmo tempo, insiste junto às autoridades estaduais para que apurem o ocorrido e ofereçam garantias de segurança ao jornal e seus profissionais, que nada mais fizeram do que cumprir seu dever de informar a sociedade sobre a atuação de agentes do Estado cuja conduta, conforme as evidências que já levaram à detenção de 19 PMs, vinha agindo de forma criminosa.Brasília, 03 de março de 2011Francisco Mesquita NetoVice Presidente da ANJResponsável pelo Comitê de Liberdade de Expressão