Atualizada às 21h34 o dia 10/5/2022O genótipo cosmopolita da dengue, encontrado em Aparecida de Goiânia, faz parte do sorotipo 2 da doença, que é o mais virulento de todos. A preocupação de autoridades e especialistas é saber como a linhagem, que é a mais disseminada do mundo, irá se comportar em Goiás no período chuvoso de 2023. Atualmente, o sorotipo 1, considerado o menos virulento, é predominante no estado.“Além do vetor da doença, que é o próprio vírus, a introdução de um novo genótipo preocupa, pois não sabemos como ele vai reagir e se vai se tornar dominante”, explica a superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), Flúvia Amorim. “O sorotipo 2 é mais agressivo. Este genótipo (cosmopolita) é mais transmissível que os outros e provavelmente tem uma capacidade de carga viral maior”, destaca o infectologista Marcelo Daher.Leia tambémCepa da dengue mais disseminada no mundo é encontrada em Aparecida de GoiâniaComurg tira 90 toneladas de lixo por dia dos córregos de GoiâniaA preocupação em relação ao genótipo cosmopolita gira em torno do período chuvoso de 2023, que é quando o número de casos da doença costuma aumentar por conta da proliferação do mosquito aedes aegypti. “Esta descoberta aumenta a preocupação em relação ao ano que vem”, destaca Flúvia.De acordo com ela, as melhores medidas que o poder público pode tomar para conter uma grande quantidade de registros em 2023 é continuar com o controle do vetor da doença e também promovendo uma vigilância epidemiológica avançada.“Precisamos controlar e diminuir ao máximo a quantidade de criadouros. Para isso, precisamos da contribuição da população, pois os agentes não podem ir toda semana na casa das pessoas. Também é preciso melhorar a vigilância genômica de arboviroses no Brasil, para que possamos adiantar os possíveis cenários epidemiológicos que teremos.”A presença do genótipo foi descoberta por meio da Fiocruz em parceria com o Laboratório Central de Saúde Pública de Goiás (Lacen-GO). O caso foi verificado em fevereiro. O homem, de 57 anos, já se recuperou completamente, de acordo com a SES-GO. Este genótipo é predominante no mundo. Ele é mais presente na Ásia, Pacífico, Oriente Médio e África.O achado representa o segundo registro oficial deste genótipo nas Américas, após um surto em Madre di Dios, no Peru, em 2019. De acordo com a Fiocruz, análises iniciais mostram que o patógeno detectado no Brasil é semelhante a dois microrganismos isolados durante o surto registrado no Peru. Porém, ainda não é possível dizer que o genótipo cosmopolita foi introduzido no Brasil a partir do país vizinho.SorotiposO genótipo cosmopolita faz parte do sorotipo 2 da dengue, que é suscetível de se evoluir com gravidade, inclusive para dengue hemorrágica. “O vírus tem uma capacidade maior de aumentar a permeabilidade dos vasos sanguíneos. Assim, o sangue extravasa e a pessoa morre de choque hipovolêmico”, esclarece Flúvia. Neste sentido, outra preocupação em relação a esta linhagem é que ela se dissemine de forma mais eficiente do que a linhagem asiático-americana, que atualmente é o genótipo do sorotipo 2 que circula no País e em Goiás.Neste ano, Goiás registrou uma explosão de notificações de casos de dengue. De acordo com o Painel da Dengue, da SES-GO, já são 135 mil notificações nas 17 primeiras semanas epidemiológicas de 2022, uma variação de 301% em relação ao mesmo período do ano passado. Ao todo, já são 25 mortes confirmadas e 124 em investigação.Laboratório indica que genótipo não tem relação com cenário atualOs dados de mapeamento de genomas do vírus da dengue indicam que a nova linhagem não é a responsável pelo aumento de casos em Goiás.De acordo com a Fiocruz, em Goiás, cerca de 60 genomas foram decodificados pelos pesquisadores nas duas primeiras semanas de fevereiro. Metade pertencia ao sorotipo 1 e a outra metade ao genótipo asiático americano, do sorotipo 2. Apenas uma era do genótipo cosmopolita, o que demonstra que ela não tem predominância de circulação até o momento.Daher afirma que independentemente do genótipo ou sorotipo que esteja circulando, é importante que a população mantenha os cuidados, pois a gravidade dos de dengue não é relacionada somente ao tipo de vírus que está infectando a população. “Normalmente, uma segunda infecção tende a ser mais grave. Agora estamos com predominância do sorotipo 1. Se ano que vem este sorotipo 2 passar a ser predominante e tivermos uma nova epidemia, teremos uma tendência de que os casos sejam mais graves.” O infectologista explica que isso ocorre por conta da imunidade heteróloga. “No cenário pós infecção, por um determinado momento, os anticorpos adquiridos de um determinado sorotipo, protegem a pessoa de outros. Entretanto, à medida que os anticorpos diminuem, essa imunidade também deixa de existir e passa a haver a facilitação da penetração do vírus de maior gravidade.”-Imagem (1.2453297)