O reaproveitamento dos resíduos sólidos dispostos atualmente no Aterro Sanitário pela Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) está sob análise na empresa. A viabilidade de projetos para obtenção de biogás ou energia elétrica a partir do uso do material orgânico é estudada e deve ser entregue ao prefeito Rogério Cruz (Republicanos) até o fim do ano, de acordo com o presidente da estatal, Alex Gama.Um estudo da Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (Abren) aponta que Goiânia tem potencial para gerar até 40 megawatts (MW) a partir dos resíduos sólidos.O presidente da Comurg afirma que hoje 60% dos resíduos sólidos urbanos da capital são de materiais orgânicos, que é o utilizado para a produção de biogás ou energia ou mesmo fertilizantes. Outros 30% são de materiais recicláveis, nos quais o projeto analisado contempla na forma de uma triagem mais efetiva e oferta para indústrias de reúso destes produtos, que seriam montadas no Arranjo Produtivo Local (APL) a ser criado no entorno do Aterro, localizado na Região Noroeste de Goiânia. Os 10% restantes do total coletado são rejeitos.Segundo Gama, historicamente, não há qualquer projeto para o reaproveitamento do lixo na capital goiana e que ele tem recebido diversas empresas, até mesmo internacionais, propondo negócios com o uso do material. O projeto que vem sendo analisado pela Comurg pretende reaproveitar até mesmo estes rejeitos, a partir de uma parceria com universidades que possuem cursos de Engenharia Química, onde haveria estudo sobre este material e o que poderia ser feito com ele. Gama considera que a principal questão a ser desenvolvida pelo projeto é o que fazer com o material orgânico e aponta três possibilidades: compostagem, biogás e energia elétrica.“A gente precisa fazer um estudo detalhado para saber qual a viabilidade de cada negócio. Queremos saber quanto vai se destinar para qual fim, quanto é viável para transformar em biogás, quanto em energia ou se tudo em um só produto.” Atualmente, a Comurg já realiza a compostagem de parte do material orgânico, utilizando apenas as galhadas recolhidas nas ruas da capital. O adubo gerado é utilizado pela própria administração pública, como nos viveiros e praças do município, mas a produção ainda é pequena. “São produtos que nós podemos utilizar na própria Prefeitura e na Comurg. Se gerarmos biodiesel suficiente para abastecer toda a nossa frota, já seria um ganho enorme, uma economia para a gente. O que precisamos esclarecer ainda é o quanto isso é viável, em quanto tempo daria esse retorno, qual seria o investimento”, aponta o presidente.ParceriaGama explica ainda que o Marco Legal do Saneamento, atualizado pela Lei Federal 14.026 de 2020, passou a permitir a realização de contratos de concessão com a iniciativa privada e que isso possibilita ter investimentos e tecnologia que o poder público não possui para viabilizar o reaproveitamento dos resíduos. “Se dependesse só da Comurg não teria como ir para frente, precisamos de uma parceria”, diz. Atualmente, apesar do potencial de 10% de recicláveis na produção da capital, o reaproveitamento só ocorre em cerca de 6%. Isso pode inclusive ser ampliado com as parcerias, já que ocorreria a implantação de um serviço de triagem mais efetivo.A ideia é que a companhia seja sócia de uma empresa privada que viabilize o reaproveitamento dos resíduos gerados pela população, ou seja, possa transformar o material hoje despejado no Aterro Sanitário em produtos que seriam utilizados pela administração pública e vendidos no mercado. Para se ter uma ideia, o Aterro recebeu em todo o ano de 2020 1.186.128,75 toneladas de resíduos. Segundo Gama, não é verificada a viabilidade de apenas vender esse material a outras empresas que possam fazer o reaproveitamento. “Queremos ser sócios, precisamos dos recursos financeiros que isso gera, não queremos apenas vender os materiais, mas criar uma sociedade. Esta é a nossa intenção hoje”, diz o presidente. Energia gerada seria maior que solarO potencial energético a partir do uso dos resíduos sólidos orgânicos em Goiânia é estimado por estudo da Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (Abren) em 40 megawatts (MW). Para se ter uma ideia, a capital possui hoje a geração de 31 MW operacionais a partir da fonte solar, via placas fotovoltaicas, uma tecnologia mais difundida atualmente. Os dados são da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) e referentes a 2020. Com isso, a criação de usinas geradoras de energia a partir do lixo partiria de um potencial maior atualmente.Presidente da Abren, Yuri Schmitke, explica que este potencial de energia via lixo representa 5% da demanda de Goiânia. Ele estima também que a capital poderia ter até quatro usinas, o que geraria ainda 2,5 mil postos de trabalho e cerca de R$ 2,4 bilhões por ano em impostos. Desde o começo do ano, a Abren tem intermediado a viabilidade de projetos de lei para realizar a licitação em conjunto entre municípios e governo federal para que usinas privadas utilizem o material gerado nas cidades. Isso é necessário porque a geração de energia é regulada pela União e o produto é vinculado ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).Schmitke explica que a geração de energia já ocorre normalmente em outros países, sobretudo europeus, mas que no Brasil ainda havia problemas pela fragilidade dos contratos de concessão para os cuidados com os resíduos, como entendia o mercado. Com o Marco Legal do Saneamento, que inclui a regulação dos resíduos sólidos, e a possibilidade de concessão de até 30 anos para o serviço nos municípios e regiões metropolitanas, criou-se uma garantia de retorno no investimento. “Nem mesmo com a tarifa do lixo haveria esta segurança. Criou-se no Brasil contratos de 5 anos, não tinha como”, afirma.O presidente da Abren considera ainda que com as parcerias e condições para viabilizar o reaproveitamento dos resíduos ainda ocorrerá o fim dos aterros sanitários e lixões. “O aterro é a disposição final, mas não é a destinação final. Não vai precisar mais do aterro, vai ser aproveitado. Hoje em dia não vai precisar nem para captura do gás metano do aterro, que também é desperdício, pois gera dez vezes menos energia do que com as usinas em tratamento térmico dos resíduos”, explica Schmitke. Ele complementa que o objetivo da gestão sustentável é justamente desviar os resíduos dos aterros e cita como exemplo Brasília que tem feito trabalho para a geração de biogás.Atualmente, a Abren informa que já conseguiu que fossem realizados no fim deste mês três leilões para a geração de energia via resíduos. A indicação é de que fosse pago R$ 639 por megawatt-hora (MWh) gerado. Os três projetos mais adiantados vão ocorrer nas cidades paulistas de Mauá e Barueri e ainda na capital carioca, o Rio de Janeiro, no próximo dia 30, sendo os primeiros do País. Projeto é previsto para ser implantado em até 5 anosO reaproveitamento do lixo disposto no Aterro Sanitário e coletado diariamente das residências, comércios e ruas de Goiânia está sendo estudado pela Comurg para ser implantado em até cinco anos. O estudo tem o objetivo de viabilizar a companhia financeiramente e otimizar as práticas da empresa. O que se pretende é estabelecer qual produto vai gerar maior rendimento financeiro e para uso próprio. Segundo o presidente da Comurg, Alex Gama, a cidade é analisada sob a divisão em quatro partes e cada uma delas se tenha a produção entre 350 e 400 toneladas de resíduos sólidos por dia, ou seja, um total de cerca de 1.300 toneladas diárias.A intenção inicial é que sejam construídas quatro usinas para obtenção de energia na capital, uma em cada regional da Comurg que vêm sendo criadas. Os estudos sobre as regionais se baseiam também na economia do transporte dos resíduos. A lógica é que, com um depósito em cada parte da cidade, haveria economia de caminhões e combustíveis, pois hoje é necessário que se faça a coleta dos resíduos nos domicílios e depois leve o material até o Aterro Sanitário, antes de colocar o veículo de novo na coleta. Apenas nesta mudança na logística, Gama aponta que será possível economizar R$ 7 milhões ao ano.“Primeiro de tudo precisamos fazer esta regionalização, fazer as garagens, preparar tudo isso. Esta regionalização é urgente, os caminhões não vão mais precisar ir até o Aterro e só vamos levar para lá o que não for reaproveitado mesmo”, considera Gama. O presidente acredita que a primeira a definição a ser feita pelo estudo vai ser a determinação de qual produto vai ser utilizado (se biogás ou energia, por exemplo) e depois qual a tecnologia para esta produção. Isto porque para a geração de energia é possível utilizar a técnica a partir do próprio gás e decomposição do material ou pela queima do resíduo.Em relação à geração de energia, Gama alerta que a participação de leilão federal, como o que tem sido feito em outras cidades do País, é uma possibilidade, mas não a única. “A vantagem do leilão é que a gente garante o mercado, participa da geração de energia, mas o compromisso a ser firmado é muito grande, a garantia de produzir certa quantidade de energia e isso pode não ser viável. Por outro lado, não teremos a garantia de mercado, mas não teremos este compromisso também. Estamos estudando tudo”, garante. Ele afirma que o projeto, a ser finalizado ainda neste ano, vai trazer todos esses cenários para que a Prefeitura possa escolher.Para se ter uma ideia, a construção de uma usina para a geração de energia a partir dos resíduos sólidos deve necessitar de um período entre 4 anos e 8 anos. Gama explica que até que isso seja feito, o material disponível no Aterro Sanitário poderá ser reaproveitado de outras maneiras. É analisado o uso do Combustível Derivado dos Resíduos (CDR), por exemplo. Neste caso, o composto é feito a partir de resíduos sólidos urbanos (domiciliares e comerciais) e resíduos industriais não-perigosos que passam por triagem e limpeza mecânica antes de serem triturados e utilizados como combustíveis em fornos industriais.Gama afirma que essa seria uma opção até que o projeto esteja completamente instalado para a geração da energia, caso este seja o produto entendido como mais viável para o reaproveitamento dos resíduos. Outra opção é a captação do biogás do próprio Aterro e utilização deste produto. Neste caso, conforme explica o presidente da Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (Abren), Yuri Schmitke, isso é utilizado por pouco tempo, já que a quantidade do biogás, a partir do gás metano, cai após dois anos e meio do início da captação, o que evidencia o uso transitório da prática. -Imagem (1.2326646)