Os Conselhos Tutelares de Goiânia vão realizar no dia 18, quarta-feira da próxima semana, o protesto Omissão Também é Abuso, uma manifestação contra a falta de abrigos adequados para receber adolescentes vítimas de abuso sexual. A movimentação integra os eventos alusivos ao Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, data definida por legislação federal no Brasil. O protesto será no Shopping Cerrado, em Campinas, a partir das 15 horas.Falando em nome dos conselheiros da capital, Valdivino Silveira explicou que, anualmente, órgãos que integram a rede de proteção à criança e ao adolescente fazem campanhas para que sejam denunciados casos de violência sexual contra este público. “Mas quando isso ocorre não há uma instituição para abrigar a criança e o adolescente, que precisa ser retirado da residência”, afirma.Roselei Galhardo, também conselheira, confirma que há em Goiânia um único abrigo para vítimas de 0 a 12 anos. Para vítimas das demais faixas etárias, há convênios com instituições que enfrentam sempre entraves com repasse de verbas.O documento Panorama da Violência Letal e Sexual contra Crianças e Adolescentes no Brasil, lançado em outubro do ano passado pelo Unicef e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), mostra que em média há no país 45 mil casos por ano de estupro ou estupro de vulnerável com vítimas de até 19 anos.De acordo com o documento, que reúne dados de 2017 a 2020, crianças de até 10 anos representam 62 mil das vítimas, um terço do total. E, para piorar ainda mais a situação, a maioria dos casos ocorre na residência da vítima.Leia também:Polícia indicia tios por tortura contra criança de 1 ano em GoianiraMãe denuncia que filho foi agredido por diretora de escola, em GoiâniaPara os conselheiros tutelares, Goiânia precisa de uma casa-acolhida para crianças e adolescentes. “Todos os anos chamamos a atenção para essa situação. Sentimos que há um descaso por parte das autoridades”, afirma Valdivino.O problema ficou maior desde que o Centro de Valorização da Mulher (Cevam), após investigações policiais, deixou de atender, entre novembro de 2019 e fevereiro de 2020. A instituição reabriu suas portas, mas focada apenas no atendimento de mulheres adultas, vítimas de violência doméstica. “Não temos recursos financeiros e profissionais para esse tipo de acolhimento”, explica a presidente do Cevam, Carla Monteiro.Este ano, como anunciou a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), Cristiane Britto, um dos destaques da campanha Maio Laranja, em alusão à data, é o anúncio da criação pelo governo federal dos Centros de Atendimento Integrado para Crianças e Adolescentes Vítimas ou Testemunhas de Violência, também chamadas de Casas da Criança e do Adolescente Brasileiro. Os equipamentos públicos deverão reunir, em um mesmo complexo, programas e serviços disponibilizados por equipes multidisciplinares especializadas.O principal objetivo desses centros, segundo a ministra, é combater uma prática comum no Brasil, que força a criança ou adolescente a falar várias vezes sobre a situação vivida. “Ela vai ser ouvida uma única vez”, disse Cristiane Britto à Agência Brasil. A primeira casa nesses moldes foi inaugurada em Vitória da Conquista (BA), em agosto de 2021.A expectativa é que os demais entes da Federação façam adesão ao projeto, cuja metodologia foi formulada em parceria pela Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (SNDCA/MMFDH) e a Childhood Brasil. A adesão deve ser por meio das secretarias estadual ou municipais que detêm a pauta dos direitos da criança e do adolescente.A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) 2019, divulgada em setembro do ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela um grave cenário de vulnerabilidade e abuso entre adolescentes. Segundo o estudo, um em cada sete deles sofreu violência sexual alguma vez, as meninas em maior número. Os dados foram coletados antes da pandemia. A Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos do MMFDH contabilizou 18,6 mil registros de violência sexual entre janeiro e dezembro de 2021. Em 2022, já foram registradas 4,4 mil denúncias.O principal canal de denúncias é o Disque 100, que funciona 24h por dia, incluindo sábados, domingos e feriados, e pode ser acionado por qualquer pessoa. O serviço também está disponível por meio do site da ONDH/MMFDH, aplicativo Direitos Humanos Brasil, Telegram e WhatsApp (61 - 99656-5008).