O auditório do piso térreo da Faculdade de Direito (FD) da Universidade Federal de Goiás (UFG), localizada na Praça Universitária, está interditado por não apresentar as condições de segurança e acessibilidade. Na mesma situação está o auditório da Faculdade de Educação (FED) e parte do Instituto de Física, este no Câmpus Samambaia, do Setor Conjunto Itatiaia, que necessita de fiação elétrica. Na Universidade Federal de Catalão (UFCat) há elevadores que estão sem funcionar, o que dificulta o acesso de pessoas com a mobilidade reduzida, enquanto que metade dos 14 campus do Instituto Federal de Goiás (IFG) não possuem restaurantes universitários.Esses casos foram listados pelos reitores das instituições de ensino da rede federal em Goiás e descritos como consequência dos cortes orçamentários para o custeio das unidades, o que ocorre desde 2016. Só neste ano, UFG, UFCat, IFG e ainda Instituto Federal Goiano (IFGoiano) e Universidade Federal de Jataí (UFJ) somam cortes na ordem de R$ 18,4 milhões. A reitora pro tempore da UFCat, Roselma Lucchese relata que o clima nas instituições é preocupante, com alunos que chegam nas universidades querendo aprender, mas verificando um sucateamento da infraestrutura que já perdura ao menos 5 anos.“Recebemos reivindicação dos estudantes, como de um grupo de alunos indígenas, que pedem ações próprias importantes para eles, mas não conseguimos fazer. Estamos engajados na articulação para buscar instrumentos eficazes para isso”, conta a reitora da UFG, Angelita Pereira de Lima. Ela relata ainda que há diversas reclamações também de professores com a falta de reforma dos prédios públicos. “Agora que vai começar a época de chuva vamos ter muita reclamação. Os telhados da UFG são um problema, pois pinga dentro das salas e não temos dinheiro para arrumar”, diz.Angelita explica que a UFG começou o ano com a previsão orçamentária de R$ 65,9 milhões, um valor equivalente ao que recebeu em 2019, por exemplo. No entanto, houve corte de R$ 7,8 milhões deste total, sendo que o custo básico mensal da universidade está orçado em R$ 5,2 milhões. “Esse valor é só para manter o básico mesmo, só para água, energia, limpeza. Ou seja, são pelo menos dois meses que ficamos inviáveis”, avisa. Ela diz que a principal questão tem sido a falta de reformas, especialmente pela impossibilidade de adequação aos pedidos do Corpo de Bombeiros para segurança, como extintores de incêndio, e acessibilidade.AprendizadoOs problemas também afetam no aprendizado dos estudantes e no trabalho dos professores, já que o corte reduziu as aulas práticas e de campo, além dos investimentos em laboratórios. O reitor da UFJ, Américo Nunes da Silveira Neto, conta que há dois anos não é possível comprar insumos para os laboratórios da instituição e o estoque que havia está no fim.“Nossa universidade foi implantada em 2019, estamos dentro do processo de implantação e só a manutenção do orçamento já seria traumática, imagina com os cortes. Para terminar 2022 estamos acumulando dívidas de mais de R$ 3 milhões.”Leia também:- Bloqueio na UFG supera os R$ 5,8 milhões- Instituições federais de Goiás já perderam R$ 17 milhões em 2022A reitora do IFG, Oneida Cristina Gomes Barcelos Irigon, relata que o instituto tem obras paradas desde 2016 pelos cortes. No IFGoiano, o reitor Elias de Pádua Monteiro conta que o impacto do corte de R$ 4,4 milhões é especialmente em pesquisa, extensão e nos contratos terceirizados, como os serviços de limpeza e segurança. “Isso indica menos laboratórios, menos eventos, menos programas de extensão e futuros problemas nos contratos continuados.”Administrações dão prioridade para a assistência estudantilEm todas as Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) de Goiás a situação de problemas com as estruturas físicas se repetem até mesmo por uma decisão administrativa das reitorias em priorizar a assistência estudantil, já que os cortes orçamentários impedem a continuidade de investimentos e dos programas aos alunos. Neste sentido, os reitores alegam que o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) tem sido insuficiente para manter a moradia, bolsas e alimentação dos alunos que possuem famílias em vulnerabilidade. Para se ter uma ideia, na UFJ, o reitor Américo Nunes da Silveira Neto conta que metade dos 4,4 mil alunos é de famílias cuja renda é de menos de 1,5 salário mínimo. “Como os cortes são de porcentuais, a gente consegue fazer esse remanejamento e dar prioridade aos estudantes. É o que estamos fazendo para garantir a assistência”, diz. Ainda assim, os reitores das IFES goianas lamentam que não é possível atingir todos os estudantes com necessidades financeiras e contam que há casos de alunos que reclamam até mesmo de fome. A mobilização dos reitores é parte de articulação nacional pela recomposição orçamentária de 2022, ou seja, sem qualquer corte para que fosse possível fechar o ano. Isso tem de ser realizado até o final de novembro, já que a data limite para o recebimento dos recursos é dia 9 de dezembro, quando ainda é possível realizar o empenho dos recursos. Além disso, ainda há a tentativa de aumentar o orçamento para 2023, cuja previsão atual é de queda em 12,5%. Os reitores acreditam que todas as IFES do Brasil deveriam ter um recurso de no mínimo R$ 12 bilhões, como era em 2015. Atualmente o valor é de R$ 5,4 bilhões.-Imagem (1.2543757)