A Covid-19 é a doença que mais tirou vidas em Goiás em seu primeiro ano de existência, em comparação com toda a série histórica. Nem mesmo outras pandemias provocaram mais de 7 mil óbitos em seus 8 primeiros meses desde o primeiro óbito registrado no Estado, em 26 de março de 2020. Médico e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Elias Rassi, que também já foi secretário municipal de Saúde em Goiânia, conta que doenças infecciosas, como a Covid-19, costumam, todas juntas, matar uma média de 1,6 mil pessoas em Goiás por ano, ou seja, pelo menos quatro vezes menos o que se tem com o coronavírus (Sars-CoV-2) até então.“E isso é antes de completar um ano, enquanto que das outras doenças já temos um número de doze meses”, afirma Rassi. Para ele, nenhuma doença na história de Goiás provocou tantas mortes. “Nesse volume, não. Na década de 1970 e 1980 tivemos muitos surtos, muita morte infantil, mas sem chances de chegar neste volume, mesmo levando em conta a população da época.” O médico lembra que na década de 1980 houve problemas com a Doença de Chagas no Estado, quando em 1981 atingiu o pico com 1.157 mortes. Na época, Goiás contava com cerca de 3,8 milhões de habitantes, o que concede uma taxa de 29,97 óbitos a cada 100 mil habitantes. Hoje, com 7,1 milhões de habitantes, os 7.237 óbitos registrados nos cartórios de registros civis no Estado tendo como causa a Covid-19 chega a uma taxa de 101,92 por 100 mil habitantes.“Tivemos outras pandemias sim, muitas importantes, mas esta, sem dúvida, é a que mais matou em um período”, diz Rassi. O médico explica que a Covid-19 é diferente da Doença de Chagas, especialmente porque ocorre o óbito em uma forma aguda, ou seja, em pouco tempo, enquanto que aquela que tem o mosquito barbeiro como hospedeiro é chamada de crônica. Neste caso, os pacientes podem ficar anos com a Doença de Chagas antes de vir a óbito. Rassi reforça ainda que doenças como a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) chega a levar a morte cerca de 300 pessoas por ano no Estado.Em 2019, somados todos os óbitos por neoplasias (que são todos os tumores, malignos e benignos), o que inclui os cânceres, o sistema de dados do Ministério da Saúde (Datasus) calcula 6,6 mil óbitos no Estado, ainda abaixo dos números de vítimas fatais obtidos apenas pela Covid-19 em 7 meses. Rassi ressalta que, em termos numéricos, a quantidade de mortes pela doença é semelhante com o que se tem por todas as causas em Goiânia, em que se tem entre 8 e 9 mil por ano. “Se levarmos em conta que não tivemos ainda os 12 meses de Covid-19, vamos chegar bem próximo disso.”Antes da Covid-19, a maior causa de morte no Estado era o enfarte, que, em 2019, acometeu 2.600 pessoas. Pelos dados do Datasus, a doença causada pelo coronavírus só é ultrapassada em número de mortos se somar todas as doenças do sistema circulatório, como acidentes vasculares, hipertensões e mesmo os enfartes, que ultrapassa mais de 10 mil óbitos.Para a superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), Flúvia Amorim, em 2021 os números de óbitos também devem ficar acima dos registrados em relação aos anos anteriores a 2020. “Se conseguirmos imunizar 100% do grupo de risco neste primeiro semestre, é possível ter uma queda ainda neste ano, a partir do segundo semestre”, diz.