O resultado da pesquisa de Prevalência de Infecção por Covid-19 no Brasil (Epicovid-19), financiada pelo Ministério da Saúde e que está sendo coordenada pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) utilizando as equipes do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), mostrou que é baixa a prevalência da doença causada pelo novo coronavírus em Goiás. A constatação se dá porque a aplicação dos testes rápidos nas cinco cidades goianas que participaram do estudo, e também em toda a Região Centro-Oeste, não obteve nenhum resultado positivo para a presença de anticorpos.O resultado, no entanto, não quer dizer que a circulação do vírus é zero no Estado, de acordo com Pedro Hallal, um dos coordenadores da pesquisa. “Não podemos dizer que não existe pois tem casos confirmados. Então, concluímos que o vírus está circulando, mas de forma baixa”, aponta.Em Goiás, os testes foram aplicados em Goiânia, Iporá, Rio Verde, Itumbiara, Porangatu e Luziânia. O Estado ficou na 11ª colocação entre os Estados com a maior aplicabilidade do teste, com 87% das entrevistas previstas concluídas. De acordo com um dos coordenadores do estudo populacional, o epidemiologista Bernardo Horta, a falta de casos positivos também pode ter ocorrido porque nem todos os testes programados para o Estado foram aplicados. “Quanto mais testes aplicamos, mais chances temos de ter resultados positivos. Porém, mesmo que todos os testes não tenham sido aplicados podemos dizer que a prevalência no Estado pequena”, diz. Segundo ele, isso mostra que as medidas de controle da doença têm sido eficazes. “O isolamento social é uma dessas medidas”, ressalta.Porém, Horta afirma que é preciso tomar cuidado na hora de utilizar essa informação para realizar, por exemplo, um afrouxamento da isolamento social. “O caminho para flexibilização é complexo e deve ser feito com responsabilidade. O vírus não desapareceu. Uma baixa circulação não quer dizer que o Estado está fora de risco. Se não tivesse nenhuma notificação de novos casos poderíamos falar de “vida normal”. Porém, tem novos casos sendo confirmados diariamente”, esclarece.Segundo ele, a baixa circulação do vírus no Estado também mostra que um colapso no sistema de saúde ainda pode acontecer caso muitas pessoas fiquem doentes de uma só vez. “Uma baixa circulação não quer dizer que Goiás está totalmente fora de risco. Por isso, as medidas de flexibilização têm que ser pensadas com cuidado, evitando aglomerações, pois ainda existe a chance de muitas pessoas ficarem doentes até surgiu um tratamento eficaz ou uma vacina para a doença”, pontua.ResistênciaA pesquisa consistiu na aplicação de testes rápidos e questionários. A primeira fase da pesquisa, que teve início dia 14 deste mês e tinha como intuito aplicar 250 análises em 133 “cidades sentinelas”, ultrapassou a aplicação de 200 testes em apenas 90 cidades por conta de problemas práticos que restringiram a circulação dos pesquisadores e dificuldades na coordenação e comunicação entre autoridades federais, estaduais e municipais. Cinco dos 6 municípios goianos participantes superaram a marca dos 200 testes. Em Goiânia foram 235, em Rio Verde 202, em Porangatu 200, em Itumbiara 241 e em Iporá 250. Apenas em Luziânia a pesquisa não aplicou mais de 200 testes.Porém, apesar de ter tido um percentual de testes aplicados alto, o Estado foi um dos locais onde a pesquisa enfrentou dificuldades. Dois entrevistadores foram detidos pela Guarda Civil Municipal (GCM) de Rio Verde, no Sudoeste do Estado, e levados para prestar esclarecimento na delegacia, no dia 14 de maio quando aplicavam questionários da pesquisa. Segundo a Polícia Civil da cidade, os policiais não haviam sido informados sobre a pesquisa e receberam diversas ligações de moradores desconfiados da presença dos profissionais. Achavam que poderia ser algum tipo de fraude ou ação de criminosos.O mesmo problema ocorreu em outras cidades do País e do interior de Goiás por conta de um atraso no envio de documentos do Ministério da Saúde para as secretarias de Saúde estaduais e municipais. Uma das coordenadoras do estudo, Mariângela Silveira, diz que nenhuma das 133 “cidades sentinelas” vão ser excluídas da segunda e terceira etapa do estudo, que devem ocorrer respectivamente nos dias 4, 5 e 6 de junho e nos dias 18, 19 e 20 de junho do mesmo mês.“Vamos manter as cidades e trabalhar para que na próxima etapa tenhamos mais de 90 cidades com 200 testes aplicados. Estamos tentando conversar com os municípios e acabar com todos os ruídos e falhas de comunicação para que nas próximas etapas tenhamos resultados melhores e mais próximos ainda da realidade”, esclarece. Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS)Os resultados do inquérito epidemiológico feito pela Prefeitura de Aparecida de Goiânia entre os dias 8 e 13 de maio e os resultados da primeira etapa do inquérito feito em Goiânia no dia 9 do mesmo mês preocupam os pesquisadores envolvidos nos inquéritos no que diz respeito a qual é a real prevalência do novo coronavírus (Sars-Cov-2) nas duas cidades mais populosas do Estado de Goiás por conta da performance dos testes rápidos na população.Em Aparecida, dentre os 1.208 moradores testados, em apenas cinco foi constatado anticorpos da doença. Com isso, o resultado do primeiro inquérito definiu que a prevalência da doença na cidade era de 0,41%, com uma estimativa de que pelo menos 2.370 já haviam sido infectadas com a Covid-19 e de que para cada caso positivo e notificado, existem outros 17 positivos e não notificados. Em Goiânia, o resultado da primeira etapa não divulgado justamente por conta dessa insegurança com os dados.Ambos inquéritos estão sendo feitos em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG), que contribuiu desenvolvendo um estudo para avaliar quantos goianos já foram infectados. De acordo com o médico epidemiologista, professor do Departamento de Saúde Coletiva da UFG e membro do Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública para o Novo Coronavírus (COE), João Bosco Siqueira, a forma de coleta de sangue indicada na bula, através da ponta do dedo, aparentemente não se apresenta tão eficiente quanto no sangue venoso. “Quando fizemos os testes seguimos de forma rigorosa as recomendações. Porém, quando vimos os primeiros resultados começamos a reavaliar se eles realmente estavam próximos da realidade”, diz. Segundo ele, por conta disso, os pesquisadores selecionaram 24 pessoas com a doença e fizeram o teste rápido, que deu falso negativo em 9 delas. “Na semana passada foi publicado um estudo feito em São Paulo que tratava justamente sobre a nossa preocupação. Ele chegou a conclusão de que o desempenho do teste é muito diferente quando o sangue é coletado na ponta do dedo e quando você colhe o sangue por punção venosa, separa o soro e faz o exame. Lá, 47 pessoas comprovadamente infectadas foram testadas e apenas 26 deram positivo com o teste rápido feito pela ponta do dedo”, explica o especialista.Siqueira afirma que com base nesse estudo, o COE tomou a decisão de, a partir de agora, fazer os testes rápidos na população goiana apenas via punção venosa. “Esses falsos negativos e problemas de sensibilidade nos testes não deveriam acontecer, pois na bula a informação é de que o teste pode ser feito de qualquer uma das maneiras que vai ter resultado igual. Por isso, não temos segurança o suficiente para dizer que a prevalência em Aparecida é tão baixa assim. O mesmo vale para Goiânia. Por isso, os resultados da primeira etapa do inquérito na capital não foram divulgados. Não queremos causar nenhuma reação na população que não seja baseada em resultado em que confiamos”, esclarece. Segundo ele, somente com os resultados das próximas etapas dos inquéritos, que deve acontecer neste sábado (29) em Goiânia e em Aparecida ainda não tem data para ocorrer, é que será possível falar com segurança sobre a prevalência de casos da doença em Goiás e se estimar subnotificações. “Não sabemos se vai dar um número mais alto ou se o que temos até agora irá se manter. O importante é que vamos ter segurança nesses novos números”, aponta.-Imagem (Image_1.2059215)