Em pouco mais de cinco meses, o ano de 2021 já registou, em Goiás, quase o triplo de mortes de gestantes por Covid-19 que em 2020. Segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), foram 38 mortes neste ano, até o dia 22 de maio, contra 14 de todo o ano passado. A letalidade pela doença que é de 2,38 no Estado alcançou 9,8% em maio entre as grávidas. Os números apontam um crescimento de 171,42% comparado ao ano anterior. Apenas na capital, 13 óbitos foram confirmados desde o início da pandemia.Em todo o país, 652 grávidas morreram vítimas de Covid-19 em 2021 até o dia 5 de junho, conforme dados do Ministério da Saúde. Já em 2020 foram 247 mortes durante o ano todo. O crescimento total no Brasil foi de 163,96%, com mais que o dobro de vítimas. O número de infectadas também aumentou: de 4.733 em 2020 para 5.672 em apenas cinco meses de 2021. Destes números, 318 confirmações ocorreram em Goiás em 2021 contra 218 ao longo de todo o ano passado.O aumento dos casos e mortes deste grupo foi tema da última reunião do Comitê de Operações Emergenciais de enfrentamento à Covid-19 (COE) que alertou não apenas para as infeções e óbitos, como para o aumento de partos prematuros bem como para o fato de que apenas duas unidades de saúde atendem grávidas com Covid-19: Hospital e Maternidade Municipal Célia Câmara e o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG). Além de pedir pela ampliação da vacinação às gestantes, mesmo sem comorbidades, o COE pontuou sobre o trabalho em regime de home office para quem está grávida ou no pós-parto.Superintendente de Gestão de Redes de Atenção à Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, Cynara Mathias diz que na capital os trabalhos se ampliam no sentido de monitorar mesmo as gestantes que estão em casa e que além do telemedicina, estão emprestando oxímetros para quem for diagnosticada poder monitorar os índices. “O que se acredita é que as novas cepas mais contagiosas tenham afetado de forma maior as gestantes, mas que isso também ocorra como reflexo do aumento de casos. É uma situação que se repete em todo o país e é muito importante que não apenas gestantes, mas também as puérperas (até 45 dias após o parto) fiquem em casa se possível e continuem seguindo os protocolos de higiene”, acrescenta.Nova cepa Ginecologista e Obstetra, Joice Martins de Lima afirma que a primeira cepa da Covid-19 atingia, de forma geral, a população mais idosa e o risco que as gestantes tinham de se infectar era o mesmo que a população de uma forma geral. A variante, entretanto, tem maior capacidade de infecção e, além disso, idosos foram imunizados primeiro. Desta forma, cresceu o número de infectados jovens e consequentemente em idade reprodutiva. Desta forma o aumento no número de gestantes infectadas refletiu diretamente no aumento da mortalidade materna. Neste momento, Goiás vacina apenas gestantes com comorbidades e a vacinação para gestantes e puérperas em geral chegou a iniciar, mas foi interrompida em 13 de maio, após orientação do Ministério da Saúde. Isso ocorreu devido a um caso de morte de uma gestante de 35 anos por acidente vascular cerebral hemorrágico (AVC) e uma possível ligação com o uso da vacina AstraZeneca. “Nós, ginecologistas e obstetras, defendemos a vacinação de todas as gestantes e puérperas, independente de terem alguma comorbidade ou não. E que sejam usadas vacinas que não utilizam vetores virais. A vacina Oxford/AstraZeneca deve ser evitada até o fim das investigações”. Mãe dá à luz entubada por CovidJéssica Teixeira Reis, de 29 anos, é mãe do pequeno Anthony Gabriel, que ainda internado espera ganho de peso para finalmente ir pra casa. O bebê nasceu no dia 20 de abril, de apenas 30 semanas de gestação em um parto prematuro no Hospital e Maternidade Municipal Célia Câmara. A mãe, que estava entubada por complicações da Covid-19 permaneceu inconsciente durante o parto e só conheceu o filho após deixar a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), 14 dias depois. “Fiquei internada por mais de 45 dias. No dia do parto, 20 de abril, fui entubada e permaneci assim por 14 dias. Meu bebê nasceu com 1,6 kg, com 30 semanas de gestação, sem vida e tiveram que reanimá-lo. Chegaram a dizer pra nossa família que tínhamos 24 horas para reagir. Muitas pessoas rezaram e fizeram campanha. Eu sou muito grata aos médicos, ao doutor Guilherme de Castro Perillo e à psicóloga Déborah de Souza Guimarães e eles dizem que somos um milagre. Agora, Anthony tá respirando sozinho, com 2,6 kg e esperando ganhar um pouco mais de peso para receber alta”, completa a mãe. Grávida pela primeira vez, Jéssika conta que começou a passar mal com aproximadamente 26 semanas e que ainda ficou em casa por seis dias até que foi em busca de um hospital com febre e muito cansaço. Ela foi inicialmente internada na Maternidade Nascer Cidadão e passou por uma tomografia na Célia Câmara enquanto aguardava uma vaga para a transferência. Com o resultado e comprometimento de 75% do pulmão, foi levada pelo Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (Samu) direto para a UTI. “Já colocaram oxigênio e eu não conseguia mais respirar sozinha além de uma saturação muito baixa. Fiquei na UTI, consciente e depois fui para a enfermaria. Ia receber alta médica quando tossi com sangue e me levaram de volta para a UTI, quando fui entubada e fizeram o parto”. Jéssika diz que quando acordou tinha muitas alucinações, não tinha firmeza nos braços nem conseguia andar. A alta aconteceu em 15 de maio, mas ela ainda tem sequelas: perda de memória e fraqueza em uma das pernas além de usar medicamento para a falta de ar. Com visitas diárias à UTI, agora o sonho é levar o filho pra casa. Na noite desta sexta-feira (11), a assessoria do Hospital e Maternidade Municipal Célia Câmara informou que há previsão de alta para o bebê ainda neste sábado (12). Ginecologista e Obstetra, Joice Martins de Lima explica que a Covid-19 leva a uma morte celular atenuada. “A gestante é uma paciente que tem maior risco de trombose, por exemplo. E quando associamos esse fator às alterações provocadas pela infecção por Covid-19, os riscos são maiores e s chance de complicações e óbito aumentam”.-Imagem (1.2266493)