Quando 2021 surgiu no calendário trouxe com ele a perspectiva de dias melhores para o setor cultural. Após a terra devastada - com casas de espetáculos fechadas e quase toda a atividade paralisada em 2020 - o início da vacinação parecia ser uma luz no fim do túnel. No entanto, o retorno aos palcos não foi de imediato como todo mundo imaginava. Produtores ficaram até o início de setembro parados aguardando o resultado dos primeiros eventos-testes realizados em Goiânia. A largada oficial foi em outubro com a abertura para grandes eventos, como o Buteco do Gusttavo Lima.“O nosso maior medo era de que as pessoas não aceitassem os protocolos. Estávamos com um frio na barriga porque era muito investimento envolvido e na incerteza da volta do público. Fizemos oito shows nessa retomada e a aceitação foi positiva e estamos com agenda até fevereiro com possibilidade de prorrogar até março”, comenta o empresário Murilo Rodrigues, 31 anos. Ele é um dos produtores do projeto Puxadinho iniciado em novembro. Grupo Menos é Mais, Leo Santana, Matheus e Kauan, Bell Marques e Israel e Rodolffo foram algumas das atrações do evento.A palavra protocolo talvez tenha sido a mais falada em 2021 pelos produtores de eventos em Goiás. O ano foi marcado por diversas reuniões com as autoridades de saúde para decidir as estratégias para uma retomada segura. Casas com ocupação de 50%, uso de máscaras, distanciamento de 1,5 metros, pontos de álcool em gel por todo o espaço e testes negativos com pelo menos 48 horas antes dos shows foram algumas das medidas adotadas pelas casas. “Acredito que tudo isso garantiu a segurança, afinal ainda existe o medo do vírus”, completa Murilo.Na área pública, os eventos promovidos pela Secretaria Estadual de Cultura anualmente antes da pandemia também retornaram de forma presencial para quem estava com o cartão de vacinação atualizado, caso do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), na Cidade de Goiás. A 22ª edição foi realizada de forma híbrida de 14 a 19 de dezembro e recebeu um total de 545 filmes inscritos, de 22 estados e 18 países, distribuídos em quatro mostras competitivas. Foram mais de 25 horas de programação audiovisual. Para fechar a festa, show de Renato Teixeira no Mercado Municipal.Outra atração do calendário muito querida do público e que voltou de forma híbrida em 2021 foi o Canto da Primavera, de 30 de novembro a 5 de dezembro, em Pirenópolis. O foco da festa foi a valorização dos artistas locais, com Marcelo Barra, Almir Pessoa e a banda Boogarins, entre outros na grade. Para o secretário estadual de Cultura, César Moura, a retomada da agenda só ocorreu graças ao avanço da vacinação. Ele lembra que o Fica foi pensado 100% on-line, mas a evolução do cenário permitiu ser presencial. “Foi um sucesso e já estamos planejando as edições de 2022 desses eventos”, conta.TeatroOs teatros também reabriram as portas no segundo semestre. Um dos maiores projetos do ano foi o Diálogos Contemporâneos, com uma programação gratuita de quase 45 dias, sempre às segundas e terças. Em formato híbrido, com transmissões on-line, grandes nomes da literatura ministraram palestras em Goiânia de outubro ao final de novembro. Fabrício Carpinejar, Ignácio de Loyola Brandão, Sérgio Vaz, Fernando Morais e Xico Sá foram os convidados da edição que sofreu diversas alterações na data – a estreia estava marcada para março.“A vacina foi a glória para a gente retomar o nosso trabalho. De setembro a dezembro conseguimos um pingo de esperança num retorno consciente. Eu fiquei 18 meses parada e voltei apenas após tomar a segunda dose. Agora o desejo é que 2022 seja um ano ainda melhor para o nosso setor que foi o mais prejudicado nessa crise sanitária com vários fechamentos”, ressalta a produtora cultural Fernanda Fernandes, de 42 anos. Ela foi uma das organizadoras do projeto que ocupou o Teatro Goiânia. “O evento foi um sucesso porque trouxemos a nata da literatura nacional”, vibra.Fernanda também foi a produtora da 10ª edição do Goiânia Canto de Ouro, promovido pela Prefeitura e que voltou presencialmente depois de dois anos. O projeto reuniu durante novembro 32 artistas da MPB goiana, em duas apresentações por dia. Foi permitida a entrada com comprovante de vacinação. Os espetáculos foram gratuitos, com entrada limitada a 155 pessoas. Juraildes da Cruz, Grace Venturini, Chico Aafa, Pádua e Gustavo Veiga foram alguns dos nomes da temporada.Em 2021, os goianos também contaram com o retorno dos grandes espetáculos, como a apresentação do comediante Whindersson Nunes. O artista voltou a Goiânia com a montagem A Volta do Que Não Foi no dia 12 de dezembro no Centro de Convenções da PUC Goiás. Com ingressos esgotados, o show ganhou uma sessão extra no mesmo dia. No mesmo local, um dia antes, o espaço recebeu o grupo Roupa Nova na primeira apresentação sem o músico Paulinho, que morreu em 2020 por complicações da Covid. A banda sempre foi uma das favoritas da cidade, tanto que todos os anos eles estão em cartaz.Apesar do retorno no segundo semestre de 2021, a sombra de um novo fechamento, principalmente por conta do aumento dos casos pela variante Ômicron ligou o sinal de alerta entre os produtores. “Estamos preocupados porque não vamos conseguir suportar uma nova parada. Se isso acontecer, o setor quebra e vamos ter que procurar uma nova área para atuar”, comenta Fernanda. “A conta que a gente faz nem sempre é apenas a financeira, já que muitas vezes ela não fecha, mas de qualquer forma precisamos fazer os eventos. Estamos com medo se a situação piorar mais uma vez e é por isso que incentivamos a vacinação, porque é a única solução para a gente continuar de portas abertas”, diz Murilo Rodrigues.Festival japonês abriu o calendárioO Bon Odori, festa de música, dança, culinária e artes japonesas, foi o primeiro evento-teste de 2021 realizado no dia 28 de agosto, no Clube Kaikan, no Conjunto Itatiaia. Promovido pela Associação Nipo-Brasileira de Goiás (ANBG) em parceria com a Prefeitura de Goiânia e com o governo de Goiás, a 19ª edição do evento recebeu 1 mil convidados dentro de uma série de normas sanitárias.Dois anos sem festivais de rockO rock seguiu calado em 2021. Festivais tradicionais da cena roqueira goiana decidiram ficar pelo segundo ano de portas fechadas, caso do Bananada, Goiânia Noise e do Vaca Amarela. O Vaca retorna nos dias 21 e 22 de janeiro em comemoração aos 20 anos do evento, com uma programação de peso, com nomes como Glória Groove, Karol Konká e a banda Dead Fish no Centro Cultural Oscar Niemeyer.