Atualizada às 22h39As definições do plano de retomada das atividade econômicas do Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública (COE) de Goiânia apontam que a cidade ainda não atende aos requisitos previstos para uma retomada maior das atividades comerciais e serviços como foi decretado pelo prefeito Iris Rezende (MDB) na última sexta-feira (19). A decisão do chefe do Executivo Municipal é objeto de uma batalha judicial.O entendimento de que a Prefeitura de Goiânia não seguiu as recomendações do COE foi um dos argumentos que sustentou um pedido do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO). A solicitação da promotora de Justiça Marlene Nunes Freitas Bueno resultou em uma liminar que anulou temporariamente o decreto municipal que concedia a reabertura.O COE funciona dentro da Secretaria de Saúde de Goiânia e é formado por técnicos da área, a maioria servidores municipais, como superintendentes e gerentes da pasta. O grupo foi instalado justamente para deliberar a respeito das medidas sobre o enfrentamento do novo coronavírus na cidade.De acordo com a avaliação da presidente do Conselho Municipal de Saúde de Goiânia e membro do Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública (COE), Celidalva Sousa Bittencourt, a capital está na fase 2 do plano (veja quadro). Esta caracterização é descrita como capacidade hospitalar em risco e/ou evolução acelerada da contaminação. Na última semana, O POPULAR mostrou que as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) da rede municipal dedicadas a Covid-19 operaram lotadas ou próximas da capacidade máxima em alguns momentos. O aumento do número de casos também tem se mostrado sustentado.No cenário descrito pelo plano, as restrições da fase 2 são ligeiramente menos rígidas que na fase 1, mas o funcionamento de shoppings, camelódromos e galerias comerciais com a presença de clientes ainda não é recomendado. “Se tivéssemos uma média de 20% de leitos de UTI e clínicos vagos, além de um decréscimo, nas duas últimas semanas, do número de internações e mortes, e um isolamento social acima de 50% poderíamos considerar que estaríamos na fase 3 e esses estabelecimentos poderiam voltar a abrir”, explica Celidalva Bittencourt.O plano de retomada das atividades econômicas proposto pelo COE é divido em seis fases, sendo que fase 1 é o pior cenário, com restrições rígidas em meio a um descontrole de casos e a fase 6 é o melhor quadro, com restrições brandas, funcionamento permitido e pandemia controlada. Os principais fatores que influenciam a mudança de fases são: quantidade de leitos clínicos e de UTI disponíveis e o aumento ou diminuição de novos casos, internações e mortes nos últimos 14 dias.Celidalva diz que o COE não é contra a flexibilização, mas pede que isto seja feito de forma “responsável”. “Até o momento, sabemos que o isolamento social já salvou milhares de vidas. Precisamos dar o próximo passo com segurança. Agora, infelizmente, ainda não é hora.”NúmerosSomente nos últimos sete dias, Goiânia passou de 3.929 casos confirmados para 5.463. A quantidade de pessoas internadas foi de 100 para 189. O número de óbitos também cresceu. Foi de 99 para 117. Até esta segunda-feira (22), a ocupação dos leitos de UTI da rede municipal dedicados a casos da Covid-19 na capital estava em 86% e de enfermaria em 73%. “Para irmos para a fase 4 precisaríamos de cerca de 30% dos leitos livres. Para a fase 5, este número aumentaria para 40%. Já para a fase 6, a ocupação teria de ser menor que 60%. Além disso, precisaríamos de uma queda constante na curva de novos casos e mortes”, esclarece Celidalva.“Acredito que esse material tenha chegado às mãos do prefeito. Da nossa parte as recomendações foram feitas. O porquê de a administração pública não tê-las cumprido, já não posso responder”, acrescentou a presidente do conselho.O argumento da administração municipal para o decreto foi que o mesmo seguiu todas as exigências científicas necessárias baseadas em uma nota técnica publicada pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS).A SMS e a secretária Fátima Mrue foram procuradas para responder porque o município não seguiu a orientação do plano do COE, mas preferiram não se manifestar. Situação dos profissionais da saúde preocupa órgãoO número de profissionais de saúde contaminados pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2 preocupa o Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública (COE) de Goiânia. Segundo o boletim epidemiológico municipal, até esta segunda-feira (22), a capital tinha 826 profissionais da saúde em exercício infectados.Isso representa 15% do total de contaminados na cidade. “Uma abertura na hora errada faria com que mais profissionais ficassem doentes e no cenário atual já temos muitos trabalhadores afastados, o que sobrecarrega os que estão trabalhando”, esclarece a presidente do Conselho Municipal de Saúde de Goiânia e membro do COE, Celidalva Sousa Bittencourt.Além disso, Bittencourt explica que o aumento de casos e o grande número de profissionais da área doentes deixam os trabalhadores da saúde mais tensos, o que acaba afetando a saúde mental deles. “As pessoas vão embora para casa sem saber se foram contaminadas e se podem passar a doença para suas famílias. Neste aspecto precisamos parabenizar a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que tem dado apoio psicológico de qualidade para os profissionais da área”, conta.O transporte coletivo lotado também é uma preocupação. “Ter pessoas se contaminando dentro dos ônibus. É um absurdo. Se tudo for reaberto agora, eles vão ficar ainda mais cheios. É preciso lembrar que a maioria das pessoas que anda de ônibus não é de empresários e sim os funcionários.”