O número de notificações de casos de dengue em Goiás cresceu 295% quando comparadas as 13 primeiras semanas epidemiológicas de 2021 e 2022. Foram 22 mil registros no ano passado contra 87 mil neste ano. É o maior número de notificações do período desde 2016. Especialistas apontam sazonalidade da doença, período chuvoso prolongando e falta de conscientização das pessoas como principais fatores para o crescimento.O número de casos confirmados também cresceu quando comparados os primeiros três meses de 2021 e 2022: saltou de 14,1 mil para 39,8 mil. Os 11 óbitos confirmados registrados até agora já equivalem a um terço das mortes ocorridas pela doença em 2021. O infectologista Boaventura Braz esclarece que a entrada e circulação dos sorotipos 1 e 2 em uma população que ainda não se infectou é um dos fatores responsáveis pelo aumento dos casos de dengue. “Existem quatro tipo de dengue. Todos podem evoluir de maneira mais leve ou mais grave”, explica.Neste ano, a estação chuvosa foi mais prolongada, o que permitiu a formação de mais criadouros do aedes aegypti. “Ainda vamos ter muitos casos de dengue, pois está muito quente e úmido, o que ajuda na proliferação do mosquito. A pandemia da Covid-19, com o fato das pessoas não terem se deslocado muito, somado com um período de estiagem contribuiu para a redução dos casos de dengue nos últimos dois anos.”, diz Marcelo Daher, infectologista (confira quadro).De acordo com Braz, a preocupação principal gira em torno de dois aspectos: o sorotipo 2 e as pessoas que já pegaram dengue pelo menos uma vez. “O sorotipo 2, que temos visto circular bastante aqui, possui uma fisiopatologia que torna ele responsável por casos mais graves. Além disso, existe uma preocupação com as pessoas que já se infectaram uma vez, pois elas não estão protegidas dos demais sorotipos e existe uma chance maior de ela s terem gravidade caso adoeçam novamente.”Ele também acredita que o número de mortes confirmadas até agora é subnotificado e deve crescer. De acordo com o Painel da Dengue, da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), existem 79 óbitos suspeitos de dengue. Caso 2022 siga a mesma tendência dos anos anteriores, a grande maioria deles deve ser confirmada.MunicípiosEm Goiás, existem 127 cidades com alto risco de ocorrência da doença. Uma delas é Goiânia. O boletim epidemiológico mais recente da capital apontou que em comparação com a semana epidemiológica 13 de 2021, houve um aumento de 1.565% de casos neste ano. Em 2022, foram testadas 7,8 mil amostras para dengue, sendo que 6,8 mil foram positivas (87%) .Chapadão do Céu, no Sudoeste goiano, é a quinta cidade com maior incidência da doença nas últimas quatro semanas, de acordo com o Painel da Dengue. A secretária de Saúde da cidade, Verônica Savatin, explica que o sistema de saúde da cidade já sofreu impactos. “Ainda não tive problema com aquisição de soro, mas já escutamos relatos de dificuldades de compras de insumos. Precisamos aumentar o efetivo de agentes de endemias”, diz.Ela, que também é presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado de Goiás (Cosems-GO), aponta que em Chapadão do Céu 90% dos imóveis de pessoas doentes que foram visitados tinham criadouros do mosquito que transmite a doença. “Existe um descuido. A população precisa fazer a parte que lhe cabelo. A sujeira fica no quintal de casa.”EstratégiasEntretanto, Daher aponta que o poder público também tem responsabilidade sobre o aumento de casos de dengue. “O poder público se acomodou. Quando o número aumenta, eles justificam que é culpa da população e quando cai, que é por conta da eficácia do trabalho deles. Temos poucos agentes de saúde trabalhando e a fiscalização não é eficaz.”Braz compartilha da mesma linha de pensamento e acredita que as ações a serem tomadas pelo poder público daqui para frente surtirão mais efeitos para o ano de 2023, já que o período chuvoso de 2022 já está próximo do fim. “As propagandas foram intensificadas só há algumas emanas apenas. O que deve ser feito daqui até o fim do ano é traçar estratégias para minimizar os impactos do aumento neste ano e evitar um crescimento no ano que vem”, finaliza.Registros de chicungunha também dispararamApesar de Goiás ainda não ter registrado nenhuma morte por chicungunha, o número de notificações e casos também cresceu em 2022, a exemplo do que houve com a dengue. Em 2021 foram 1.153 notificações nos três primeiros meses do ano. Em 2022, o número saltou para 1.945, um aumento de 68%. Em relação aos casos confirmados no mesmo período, foram 528 no ano passado contra 1.163 este ano, um crescimento de 120%.O infectologista Boaventura Braz afirma que o aumento dos casos da chicungunha é um fator que complica ainda mais o cenário da dengue, por conta do quadro sintomático muito semelhante das doenças, que leva a necessidade de um diagnóstico diferenciado. “É preciso fazer o exame específico. É claro que se os sintomas persistirem por muito tempo, facilita o diagnóstico, pois esta uma característica da chicunguha”, esclarece. Além disso, ele lembra que o tratamento da chicungunha é longo e desgastante para o paciente. “Dificilmente um paciente vai se curar em 15 dias. Tem pessoas que levam de dois a três meses. Isso afeta diretamente a qualidade de vida dessas pessoas, pois elas acabam tendo de fazer o uso de medicamentos como anti-inflamatórios e corticoides, que podem ter efeitos colaterais sérios”, finaliza o infectologista. Leia também:- Especialistas alertam para cuidados no pós-dengue- Aos 121 anos, idoso conhecido como "o terror do INSS" recebe alta após se recuperar de dengue