A queda do barranco do córrego Capim Puba, comprometendo um trecho da Avenida João Luís de Almeida, no Setor Crimeia Oeste, chama atenção para dois problemas graves na região do córrego que atravessa também o Crimeia Leste: a força com que a água tem chegado no local após vir tanto do Capim Puba como do córrego Botafogo e a possibilidade de obras antigas de contenção de desmoronamento terem sido feitas no local usando entulho de construção civil e lixo. A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Seinfra) interditou um trecho de 100 metros da avenida na manhã desta segunda-feira, dia 27, três dias depois de o desmoronamento de terra ter escancarado uma erosão no local. Nos próximos dias o aterro será refeito com preenchimento por pedras marroadas. O serviço deve durar até quatro dias.Na parte do barranco que não foi levada pela água do córrego durante as últimas chuvas, era possível ver em seu interior muito entulho, indicando que quando o local passou por reforço não foi usado o material adequado. Dois servidores da Prefeitura que observaram a erosão confirmaram esse problema. A Seinfra diz que não tem informação sobre o uso inadequado de material para segurar o barranco. “Não estamos sabendo deste problema. Se tiver, não foi nesta gestão, é mais antigo isso”, comentou o titular da pasta, Dolzonan Mattos. Outro motivo para o desmoronamento, segundo moradores da região, está na força com que a água passa pelo local. Ali é que se encontram o Capim Puba e o Botafogo. Os dois córregos praticamente canalizados até aquele ponto, logo após cruzarem a Marginal Botafogo, e integram a Bacia do Botafogo, uma das áreas mais impermeabilizadas de Goiânia. Em 2018, a marginal passou por ampla reforma para que não houvesse problemas no período de chuvas do ano passado e, até o momento, deste. Mas a parte não canalizada, de cerca de um quilômetro, entre os Crimeias, até o ribeirão Anicuns, tem sofrido problemas há anos. Em maio de 2018, O POPULAR publicou reportagem sobre uma pesquisa feita por Yasmin Duarte para a conclusão do curso de Engenharia Ambiental na Universidade Federal de Goiás (UFG) em que ela aponta as consequências do adensamento desenfreado na região da Bacia, que engloba a região central de Goiânia e bairros como o Jardim Goiás, Setor Marista e Setor Pedro Ludovico. O estudo apontou um aumento na vazão máxima e na velocidade da água que levou a parte não-canalizada do córrego, antes cheias de curvas, a ficar praticamente retilínea. Como resultado, o aumento das erosões, o comprometimento de pistas que margeiam o córrego nos Crimeias e o risco, confirmado pela Defesa Civil, para as casas que ficam entre o Capim Puba e a Avenida Emílio Francisco Póvoa. Ali, moradores improvisaram uma nova rua e o barranco está tomado por entulhos e lixos, usados de forma provisória para conter os desmoronamentos.O problema também atinge casas da Rua Z1, a última à direita antes da Marginal Botafogo encontrar a Avenida Goiás. Moradora do local há mais de 50 anos, Tereza Araújo Martins, de 70 anos, diz as chuvas dos últimos dias fizeram o córrego transbordar e levar mais um pouco da terra que sustenta a sua rua. “Agora só as árvores que sustentam a rua. Se caírem na próxima chuva forte, as raízes arrebentam o asfalto e não vou ter como sair de casa”, lamentou. Morador da mesma rua, Geferson Rodovalho Carneiro, de 49 anos, diz que a cada ano a margem do Capim Puba se aproxima mais da casa deles. “A água leva cada vez mais um pouco de terra”, comentou.Tanto a Defesa Civil como a Seinfra afirmam que estão monitorando a região. Dolzonan diz que foi contratada uma empresa para fazer um diagnóstico hidrológico de toda a bacia do Botafogo e apontar soluções para a região, inclusive a parte não canalizada dos córregos. O secretário ressalta também o fato de muita gente jogar lixo nas margens dos córregos, prejudicando o fluxo da água e contribuindo para as erosões e o aumento do risco para os moradores. “Fazemos limpezas constantes no Botafogo e no Capim Puba”, afirmou.