Em Santo Antônio do Descoberto, no entorno do Distrito Federal (DF), 10 trabalhadores foram resgatados em situação análoga à escravidão no último dia 17 de maio. A operação foi realizada em ação conjunta da Inspeção do Trabalho com a Polícia Rodoviária Federal (PRF). No total, três eram residentes do entorno do DF e os outros sete migrantes da Paraíba. Eles atuavam na extração de eucalipto.Segundo informações do Ministério do Trabalho e Previdência, as vítimas prestavam serviço em benefício de uma empresa de comércio de madeira para uso como lenha e construção civil. Os trabalhadores que são paraibanos chegaram a pagar pela própria passagem de ida para Brasília após uma promessa de trabalho que seria remunerada por produção. O que aconteceu foi que eles encontraram condições muito diferentes das anunciadas.Coordenador da operação, o auditor-fiscal do trabalho Marcelo Campos afirmou que os trabalhadores estavam alojados em locais improvisados. Duas casas sequer tinham móveis, eram sujas e eles dormiam em colchões e pedaços de espuma espalhados pelo chão, sem roupa de cama. “Em umas casas havia morcegos habitando o interior, no banheiro não havia pia nem descarga, nem água aquecida no chuveiro. Ressalte-se que é obrigação do empregador fornecer alojamentos adequados e gratuitos, principalmente quando forem necessários para a execução das atividades.”Esgoto despejado no Rio AreiasO esgoto dos alojamentos era despejado no Rio Areias e no mesmo local era retirada a água para beber, cozinhar e lavar roupa. “Não havia sistema de filtro de água para consumo em uma atividade que exige grande esforço físico. Nenhum equipamento de proteção individual foi fornecido aos trabalhadores, nem luvas para os carregadores de toras. Algumas botas estavam jogadas no alojamento, descartadas com lixo por outras pessoas que passaram no alojamento, e eram esses itens que os trabalhadores utilizavam”, informou Campos.Empregador firmou TACO empregador firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e se comprometeu a apagar R$ 33 mil. Uma parte desse valor já foi repassada aos trabalhadores da Parabída que retornaram para Cuité, cidade de origem. A previsão era chegara neste sábado (21). Eles também serão ressarcidos com o valor da passagem que pagaram quando foram para Brasília.Na última sexta-feira (20) os trabalhadores que possuíam cadastro no PIS receberam as guias de Seguro-Desemprego do Trabalhador Resgatado emitidas pela Inspeção do Trabalho. Cada trabalhador receberá três parcelas do seguro-desemprego especial, no valor de um salário-mínimo cada.Números em Goiás De 2017 a 2021, Goiás figura como o vice-líder em número de pessoas resgatadas pela fiscalização do trabalho em condições análogas à escravidão, com 609 registros. Em 26 anos foram 4,1 mil trabalhadores. Até 2020, apenas 45 municípios de Goiás não tiveram registro de pessoas resgatadas em condições análogas à escravidão. A prática, no entanto, é encontrada em todas as regiões do estado.Entre os dez municípios com mais casos estão Quirinópolis (1º) e Catalão (7º), na região sudoeste, e Brazabrantes (4º) (veja quadro). A cidade vizinha à capital tem a décima primeira menor área, com 125,3 km² e 181 resgates. O número é o mesmo de Cristalina, com 6.153,9 km², 49 vezes maior que o primeiro e detentor do título de maior perímetro irrigado por pivô central da América Latina, conforme a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).Combate ao trabalho análogo ao de escravoDesde 1995, mais de 58 mil trabalhadores e trabalhadoras foram resgatados de trabalho análogo ao de escravo. Neste mesmo período mais de R$ 124 milhões foram recebidos pelos trabalhadores a título de verbas salariais e rescisórias durante as operações. O ano de 1995 marcou a data de criação do Grupo Especial de Fiscalização Móvel, coordenado pela Inspeção do Trabalho.Como denunciar?As denúncias de trabalho escravo podem ser feitas, de forma remota e sigilosa, no Sistema Ipê: https://ipe.sit.trabalho.gov.br/#!/. O Sistema Ipê é o sistema oficial do Fluxo Nacional de Atendimento das Vítimas de Trabalho Escravo, regulamentado pela Portaria nº 3.484, de 6 de outubro de 2021.Leia também: Goiás resgata 4,1 mil trabalhadores escravos em 26 anos23 trabalhadores são resgatados de carvoarias em condições análogas à escravidão em CristalinaEmpresa contratada pela Aeronáutica é condenada por trabalho escravo em construção de hangarEsposa de caseiro negro acorrentado diz à polícia que ação foi vista como “brincadeira” de costumeOperação resgata 13 trabalhadores em situação análoga à escravidão em Quirinópolis -Imagem (1.2459740)-Imagem (1.2459741)