Duas a cada três mortes causadas pelo coronavírus (Sars-CoV-2) em Goiás ocorreram após a flexibilização das atividades. Entre o dia 15 de julho, quando a maior parte dos comércios e serviços não essenciais foi retomada em todo o Estado, e ontem (16), 2.646 pessoas morreram em Goiás em razão da contaminação por Covid-19, uma média de 41,34 por dia. O número representa 66,6% do total de 3.972 óbitos registrados pela Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) até às 16 horas desta quarta-feira (16). Já entre o primeiro óbito confirmado, no dia 26 de março, e até a reabertura tinham ocorrido 1.326 mortes, o que significa uma média diária de 11,94.Biólogo e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), José Alexandre Felizola Diniz Filho, considera que de fato se tem uma aceleração da pandemia após a reabertura, mas como houve outras medidas de contenção não é possível saber exatamente o impacto da flexibilização. No entanto, ele explica que os dados mostram que a medida conteve a curva de contágio no momento em que foi efetivada. A prova disso é que na semana epidemiológica 30, exatamente duas após a reabertura, há uma queda no número de óbitos (ver quadro), sendo a última vez que tivemos um número menor que 300 óbitos por semana. O período de 14 dias é o necessário para ver o impacto da medida, já que é o prazo médio que se tem tido entre a contaminação por coronavírus e a internação do paciente. Já o patamar de 300 óbitos por semana tem sido adotado pela SES-GO como um padrão alto, que só agora, em setembro, começa a diminuir, mas é preciso esperar mais tempo para ver se a queda será sustentada. Para se ter uma ideia, na semana 31, a última de julho, há um salto na curva epidemiológica e se chega a 342 óbitos. Esse patamar continua na semana seguinte, onde se tem 347 mortes, o maior número até então.Diniz Filho relata que a curva de casos de Rio Verde mostra exatamente os efeitos das medidas de isolamento social, já que a cidade adotou o sistema de 14 por 14, onde as atividades funcionariam a cada duas semanas. “Houve um pico de óbitos na semana 27 e fizeram o isolamento e reduziram bastante, aí reabriram e tiveram novo surto, quase uma segunda onda”, diz. Ele conta, no entanto, que desta segunda vez a opção foi controlar por outros meios.“O que vimos é que o isolamento surtiu seus efeitos, mas que o problema não é a mobilidade e sim as aglomerações. Estão controlando com campanhas, distanciamento, testagem em massa, rastreamento de contatos”, afirma o professor. Ele reforça, por outro lado, que até por isso não é possível medir exatamente qual o efeito teria o isolamento social se ele tivesse permanecido. “É difícil pensar isso para todo o Estado, porque cada prefeitura tem feito de um jeito. Mas temos visto que ocorrem surtos em todos os locais a cada semana e se flexibilizar tudo, como as aulas, pode ficar ainda pior”, esclarece Diniz Filho. O professor diz que é possível que a pandemia esteja se estabilizando ou até caindo, mas não se sabe ainda em qual velocidade. “E podemos ter também uma segunda onda. O número de casos e de óbitos é ainda muito alto.”Superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim afirma que os técnicos percebem uma queda de óbitos nas últimas semanas, mas que isso só ocorre em números absolutos. Ela completa que não é possível medir exatamente impacto do fim das medidas de isolamento no número de óbitos. Ou seja, não é possível calcular qual o patamar da pandemia se elas não tivessem sido tomadas ou mesmo se tivessem continuidade por mais tempo.“Temos acompanhado os dados atuais e vimos que há queda no número de óbitos nas últimas quatro semanas, mas não chega a ser de 15%, como queríamos”, diz Flúvia. Para ela, na situação atual, já é possível ter uma ideia melhor sobre a situação geral do Estado e o desenho de uma curva mais estável. Por outro lado, o que se tem são números muito elevados. “Estamos com uma média acima de 300 óbitos por semana e 2 mil casos por dia”, afirma a superintendente. -Imagem (1.2120565)