Em entrevista à jornalista Cileide Alves no Chega Prá Cá, programa de entrevistas do jornal O POPULAR, nesta terça-feira (22), a titular da 1ª Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Goiânia, Ana Scarpelli disse que a violência doméstica no Brasil está enraizada em questões culturais e que somente a educação poderá mudar este cenário. No ano passado, no estado, 54 mulheres foram assassinadas por homens com quem se relacionaram, 10 a mais do que em 2020. Para ela, o fato de as pesquisas mostrarem um aumento de 50% dos casos de feminicídio em Goiás, entre 2018 e 2021, está relacionado à queda das subnotificações dos crimes de violência doméstica, normalmente sem testemunhas e por isso específicos, e também ao rigor das investigações que o têm qualificado. “Temos muitas campanhas de conscientização para que as mulheres saibam de seus direitos. Elas estão entendendo que podem pedir ajuda. Há uma rede de enfrentamento que funciona.” Ana Scarpelli, que é pós-graduada em inteligência, enfatizou que a polícia é o último estágio do ciclo da violência doméstica. “Quando a mulher chega a uma Deam tudo já deu errado”, disse. Para a delegada, que coordena a rede de Deams em Goiás, a violência está enraizada em questões culturais, por isso há necessidade de um novo viés em termos de políticas públicas voltado para a redução da desigualdade entre homem e mulher na sociedade, focado na educação e na orientação, e um tratamento jurídico diferenciado. “Muitas mulheres não percebem que estão num ciclo de violência.” Segundo ela, a Deam de Goiânia, que funciona 24 horas diariamente, está preparada para atender as vítimas que estão vulneráveis. “Fazemos o acolhimento, o tratamento emergencial com psicólogas e cuidamos das medidas protetivas, mas é preciso mais para mudar este cenário.” Ana Scarpelli enfatiza que a violência contra a mulher está em todos os ambientes, independentemente de classe social. “Uma das formas de violência é a psicológica. O homem vai minando a autoestima da mulher e a tratando como um objeto. Ela se priva da convivência com a família e com os amigos e não consegue pedir socorro.”