O boletim diário sobre casos e óbitos por Covid-19, divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), na terça-feira (18), chamou a atenção por ter apresentado o recorde na quantidade de mortes registradas em 24 horas. Nesse caso, porém, das 128 novas mortes registradas no dia, 25 ocorreram em 24 horas, ou seja, entre os dias 17 e 18. Isso mostra que apenas 19,5% dos óbitos que constam nos boletins foram atualizados conforme portaria do Ministério da Saúde (MS).Os demais 103 óbitos são notificações atrasadas para o sistema do MS, já que a determinação é que as mortes sejam registradas em até 24 horas. Um deles é, inclusive, do dia 19 de julho, ou seja, exatamente há um mês do registro oficial, o que comprova a defasagem nos dados que são utilizados nos cálculos dos gestores públicos e para a análise dos centros e comitês que acompanham a pandemia para a tomada de soluções.Ou seja, o número de mortos que baseou a decisão dos governantes em abrir ou fechar o comércio em meados de julho era muito abaixo do que de fato ocorreu. Na semana passada, O POPULAR verificou, com base em estudo do biólogo e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Thiago Rangel, que apenas uma a cada quatro mortos tem o registro feito em até 24 horas.Com base no boletim do dia 18, no entanto, esse número é ainda mais baixo, sendo apenas um óbito a cada cinco que foram notificados na última terça-feira. “As pessoas ficam assustadíssimas com esses números diários dos boletins, mas nunca chegou a confirmar esse tanto de morte em um mesmo dia. Pode até ter acontecido, mas ainda não foram registrados”, afirma Rangel, que reforça a existência da defasagem nos dados de óbitos.Para se ter uma ideia, com base nos dados registrados até quarta-feira (19) no sistema, o dia com o maior número de óbitos foi 14 de julho, com 53. Nos dias 25 e 30 do mesmo mês, foram 49 óbitos. O atraso compromete também a análise com a média móvel dos dados, que é feita com base nos últimos sete dias. Isso ocorre porque há defasagem nos finais de semana, devido o acúmulo de casos. Mas o acompanhamento dos boletins, mostrando atraso de até um mês, confirma que é necessário maior tempo para a análise.Para se ter uma ideia, até o dia 14 deste mês, a semana epidemiológica 29 (entre 12 e 18 de julho) era a que acumulava um maior número de óbitos. No entendimento da SES-GO, na época, era em razão do pico de casos que ocorria na semana 27. Agora, porém, a semana 31 (entre 26/7 e 1/8) assumiu a liderança em número de óbitos, o que leva o entendimento de que o período de reabertura econômica, após o dia 14 de julho, é que se deu uma piora na situação da Covid-19 em Goiás.Rangel reforça esse entendimento ao mostrar que a semana 30 tem menor número de óbitos do que a 29 e a 31. “Hoje eu tenho certeza que essa diminuição se deu por aqueles 14 dias fechados, com a intervenção e o isolamento”, diz. Isso porque o período entre o contágio da doença e a evolução até o óbito, em Goiás, tem durado uma média de 12 a 14 dias. Assim, os casos iniciados em um dia chegam a esse estágio duas semanas depois, o que corrobora com as datas da medida de isolamento.Superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim acredita que é preciso esperar mais tempo, justamente pela defasagem nas notificações dos óbitos, para se confirmar isso. “São cerca de 40 óbitos a menos, não vai chegar a passar a semana anterior, mas pode diminuir ainda isso. Melhor esperar”, diz. Além disso, ela afirma ainda que é praticamente impossível zerar o atraso nas notificações, devido os trâmites desde os hospitais e até as secretarias municipais. Testagem ampliada gera confusão com moradoresUm tumulto marcou a testagem realizada pela Prefeitura de Goiânia na tarde desta quarta-feira (19), na Escola Municipal Laurindo Sobreiro do Amaral, no Setor Vera Cruz II, na Região Oeste da capital. Pessoas que aguardavam para fazer o teste se revoltou após receber informações, por volta das 15 horas, de que nem todos que estavam na fila seriam atendidos no mesmo dia.A Prefeitura teve que pedir a intervenção da Guarda Municipal Metropolitana (GCM). Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), no entanto, em nenhum momento a testagem foi interrompida. “Por volta das 15h30, foi colocado um cartaz no fim da fila de carros informando que a partir daquele momento quem chegasse não seria mais atendido”, informa a SMS. A secretaria explica que a medida é adotada desde o início da testagem, para evitar que o horário seja extrapolado no local.A SMS acrescenta ainda que, nesta quarta-feira, o aviso não foi respeitado e outros carros continuaram estacionando na fila e a população reclamou de que não seria atendida. “A situação foi rapidamente contornada. A secretaria esclarece que a testagem no local vai até a sexta-feira (21).” A reportagem do POPULAR, que esteve no local durante a tarde, verificou com a população que houve pessoas que chegaram na escola às 13 horas e ficaram sem o teste, sendo que o último veículo a ser atendido foi às 15h58. Por outro lado, até às 17 horas, ainda de acordo com a SMS, em balanço parcial, 1.390 testes foram feitos, com a prevalência de 11,07% de positivos para Covid-19. Os exames seguem nesta quinta-feira na mesma escola e no Residencial Itaipu.