Atualizada em 7.01 às 10h39.Moradora de Aparecida de Goiânia, Rosyneide Rodrigues de Araújo, de 44 anos, parece não acreditar na dor que vivencia e que precisa enfrentar. Num período de dois meses ela perdeu para a violência os dois únicos filhos. Em novembro de 2021, Giovana, de 19, foi vítima de feminicídio. Nesta quarta-feira (5), Felipe, de 17, foi morto numa ação da Polícia Militar. A diarista enxerga uma nuvem negra diante de si e pergunta a todo o tempo: “O que será da minha vida? Preciso de ajuda.”Rosyneide dependia dos filhos para sobreviver. A estudante Giovana Rodrigues de Araujo trabalhava como auxiliar de costureira para ajudar nas despesas de casa. Ao se envolver emocionalmente com o pintor Ryan Lucas Silva de Souza, um ano mais novo, deixou a casa da mãe para viver com ele, mas depois de dois anos, não suportando o ciúme exagerado do companheiro, voltou a morar com a família. Após o primeiro passeio com as amigas, a estudante foi morta.Foi na noite do dia 15 de novembro. Giovana aproveitou o feriado para ir à Fazenda Jabuticabal, em Nova Fátima. No retorno, Ryan, armado, esteve na casa dela furioso, fazendo ameaças. A mãe temia pela segurança da filha e pediu que ela não saísse de casa, mas enquanto Rosyneide foi tomar banho, Giovana decidiu conversar com Ryan perto de casa, no bairro Independência Mansões. Ao se aproximar do veículo onde ele estava, recebeu disparos à queima-roupa. Atingida no tórax e na cabeça, a estudante morreu na hora.Ryan foi preso no dia seguinte em Quirinópolis, a 294 km do local do crime. Com ele foi encontrada a arma utilizada para matar Giovana, com 13 munições deflagradas e duas intactas. A delegada da Polícia Civil (PC) no município, Camila Vieira Simões, que efetuou o flagrante, contou ao POPULAR que no momento da prisão o rapaz estava abalado e confessou ter matado a ex-companheira. Porém, durante o depoimento, ficou em silêncio. No dia 18 de novembro, durante audiência de custódia, Ryan teve a prisão preventiva decretada pela Justiça. O inquérito está sob a responsabilidade do Grupo de Investigação de Homicídios de Aparecida de Goiânia.Nesta quarta-feira (5), a diarista foi surpreendida por outra notícia ruim. Rosyneide contou ao POPULAR que o filho estava andando na rua com um cachorro, na companhia de um amigo, quando um carro da Polícia Militar parou. “Ele não estava armado e não fazia nada de errado. Foi uma covardia o que fizeram com ele. Era meu único filho, não sei o que será de mim agora”, disse ela, aos prantos, por telefone, enquanto aguardava para identificar o corpo de Felipe no Instituto Médico Legal (IML).A operação da Polícia Militar no Jardim Tiradentes, perto da Cidade Livre, chamou a atenção de moradores. O helicóptero da corporação foi utilizado, assim como houve o deslocamento de várias viaturas, entre elas da Rotam. A PM informou que Felipe e um amigo praticavam assaltos na região e foram perseguidos, havendo troca de tiros no interior de uma residência. Felipe morreu no local, o amigo conseguiu fugir. Rosyneide conta que o filho e o amigo estavam assentando cerâmica na casa para onde correram e foram alcançados por integrantes da PM.Felipe era usuário de maconha. Rosyneide confirma que sabia do fato. “Fumar maconha não justifica tirar a vida do próximo”, afirma. A diarista confessou a amigos que o filho tinha sido jurado de morte por policiais militares depois que foi pego usando maconha nas ruas do bairro. “Depois que enterramos a irmã dele, vivíamos um para o outro. Éramos somente nós dois. O que será da minha vida agora?” O corpo de Felipe foi sepultado no Cemitério Municipal Jardim da Esperança na tarde desta quinta-feira (6).O POPULAR entrou em contato com a PM5, setor de comunicação da PM de Goiás, para ouvir a versão da corporação, mas até o fechamento desta matéria não tivemos retorno.