-Imagem (1.2441271)A cada ano pelo menos 700 pessoas têm membros amputados em Goiás seja por diabetes ou por acidentes de trânsito, domésticos e de trabalho. Em todo o país, 70% do total de amputações ocorre em consequência do diabetes. No estado não é diferente e segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), 5.664 pessoas tiveram membros inferiores amputados em Goiás entre os anos de 2010 e 2020. Já no Hospital Estadual de Urgências de Goiás Dr. Valdemiro Cruz (Hugo), referência em trauma pelo Sistema Único de Saúde (SUS), 221 casos de amputação foram registrados entre janeiro de 2021 e março de 2022.Os números refletem uma realidade nacional que conta com mais de 500 mil pessoas amputadas de acordo com dados estimados pela Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitação (ABMFR). Segundo dados oficiais do Ministério da Saúde, em 2020 foram realizadas 65.062 amputações de membros, em 2021 foram 67.401 e em 2022 foram 11.190, até o momento. Isso significa dizer que apenas este ano, foram 102 casos por dia contra 178 em 2020 e 184 em 2021.A falta de conhecimento, principalmente no caso de diabetes pode ser um fator que amplia os riscos da perda de um membro. Para falar mais sobre o assunto foi criado o abril laranja, uma campanha realizada pela Associação Brasileira de Ortopedia Técnica (Abotec) para conscientização e prevenção.Acidente de trânsitoEra dezembro de 2012 e faltava um mês para o casamento de Bianca Carvalho, na época, com 26 anos, quando ela sofreu um acidente de moto que resultou na amputação da sua perna esquerda. A jovem, que hoje tem 37 anos, era estudante de enfermagem e faltava um ano para se formar. Ela estava indo para a graduação em uma motocicleta Honda Biz, quando a motorista de um carro furou um sinal e a atropelou. Depois do atendimento inicial, fio encaminhada ao Hugo, onde passou pela primeira cirurgia de amputação.“Eu gritava salva meu braço, porque eu sabia que a perna já tinha perdido. Enfaixaram minha perna e meu pé, mas eu não sentia mais o pé, sabia que tinha perdido. No centro cirúrgico, viram que não tinha mais osso, tendão, músculo e eu corria risco de morte. Minha mãe teve que assinar o termo de autorização e chegou a ligar para um médico que nos atendia como médico da família. Ele falou que se não amputasse, eu poderia morrer. Quando acordei, minha preocupação era o braço”, recorda.Casamento e filhosBianca conta que falar sobre o casamento era um tabu para a família e para os amigos mais próximos, mas ela decidiu que não queria cancelar. Buffet estava pago, vestido de noiva pronto, convites enviados. “Pra piorar, eu e meu noivo pegamos dengue e nos casamos com 40º de febre. Entrei de cadeira de rodas e perto do altar, ele me pegou no colo”.Ela continuou a faculdade de enfermagem, a turma recebeu seu nome e depois de dois abortos e um diagnóstico de infertilidade vieram os três filhos: os gêmeos Bento e Valentina, de 5 anos e a caçula Diana, de 3 anos. E tem mais um a caminho! “Eu estava com um DIU, mas ainda assim um guerreiro ou guerreira quis mesmo vir ao mundo e agora estou com 14 semanas”.Acessibilidade e informaçãoPara a enfermeira que além de atuar com gestantes e puérperas, também atende pacientes que passaram por amputação e desenvolvem ferimentos, o abril laranja é uma oportunidade de compartilhar informação. “É importante usar esse mês de conscientização para falar não apenas com quem teve um membro amputado, mas com as pessoas que convivem com esses pacientes. Tem coisas que ninguém fala, por exemplo, minha primeira prótese doía tanto que eu preferia a cadeira de rodas. Existe uma prótese para cada perfil de pessoa”, finaliza.A acessibilidade é, para ela, a maior dificuldade enfrentada. “No meu estágio cheguei a subir escadas engatinhando porque não tinha elevador. Minhas amigas levavam a cadeira de rodas. Em teatros e locais públicos já passei por diversos problemas. Ainda temos muito a avançar”, finaliza.Sinais de alerta para DiabetesLevantamento realizado pela SBD aponta que a doença é responsável por 70% das amputações no Brasil. Apenas em 2021 foram cerca de 46 registros por dia em consequência do diabetes. No ano anterior, em 2020, o número era bem parecido: 43 por dia apenas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em Goiás, o maior número de casos registrados entre 2010 e 2020 aconteceu no último ano, com 609 pacientes. A falta de cuidados com o diabetes é, segundo a SBD, o principal motivo que leva à amputação de pernas e pés, chegando a 60% dos casos. No geral, em 85% das situações que terminam em perda do membro, o problema aparece como uma lesão nos tecidos dos pés que pode ser tratada.“Vale ressaltar que 25% das pessoas com Diabetes Mellitus irão desenvolver pelo menos uma Úlcera do Pé Diabético (UPD) durante a vida e que a cada 20 segundos um membro é perdido pelo diabetes no mundo segundo dados da International Diabetes Federation, de 2019”, afirma Roseanne Montargil, coordenadora do Departamento de Doenças nos Pés, da SBD. A coordenadora afirma que as úlceras passam muitas vezes despercebidas pelos profissionais de saúde quando deveriam ser diagnosticadas e tratadas por meio de exame simples e de rotina dos pés. É preciso ficar atendo para a perda da sensibilidade, frieiras, bolhas, calos e ferimentos. Entre as indicações para diabéticos estão: secar bem os pés após o banho, utilizar meias de algodão e manter a pele hidratada.Abril laranja“Perder um membro do corpo tem sido mais comum do que se imagina no Brasil. Muitas pessoas, por exemplo, são diabéticas, mas não sabem e acabam buscando ajuda médica somente quando o quadro se agrava. Para a prevenção criamos a campanha Abril Laranja como forma de conscientização na amputação”, explica o presidente da Associação Brasileira de Ortopedia Técnica (Abotec), André Cristiano da Silva. Ele pontua ainda que além da saúde física é preciso cuidado com a saúde mental das pessoas amputadas levando ainda em consideração a qualidade de vida, autonomia e inclusão social.-Imagem (1.2441273)-Imagem (1.2441270)