O entorno dos parques das regiões Sul e Central de Goiânia recebem duas vezes mais edificações acima de 11 andares do que as principais avenidas da capital, o que demonstra se tratar de locais mais atrativos para moradores e mercado imobiliário. O índice é relativo a um perímetro de 100 metros em volta das unidades de conservação e lazer e também das avenidas, o que dá uma proporção de um edifício a cada 8,8 mil metros quadrados (m²) dos parques e a cada 17,3 mil m² das avenidas.Estes números indicam que os prédios ocupam mais os espaços dos entornos dos parques do que ao longo das avenidas. Além disso, esse potencial aumenta ainda mais quando observadas edificações mais altas. Seis parques da capital possuem, mesmo em números absolutos, mais prédios acima de 30 andares do que nove dos principais corredores de desenvolvimento de Goiânia. No entorno do Vaca Brava, Areião, Cascavel, Flamboyant, Lago das Rosas e Buritis são 32 arranha-céus. Já as avenidas T-63, 85, T-9, 90, Assis Chateaubriand e T-7, Mutirão e Castelo Branco, 136 e Jamel Cecílio, Goiás, Anhanguera e 24 de Outubro abrigam 23 das edificações mais altas.Já com relação aos prédios que possuem entre 20 e 30 andares, as extensões das principais vias da cidade são o endereço de 71 construções e os arredores dos parques somam 50 edificações. O levantamento feito pelo POPULAR levou em conta o Mapa Digital Fácil da Prefeitura de Goiânia, com seus dados de edificações e a verificação dos lotes de cada quadra dentro do perímetro com as informações do cadastro imobiliário atualizado. Foram considerados os parques que estão inclusos nas áreas adensáveis e de desaceleração de densidade pelo Plano Diretor, por serem essas aptas a receberem as edificações.Ficou estabelecido a área de 100 metros de cada estrutura analisada como definição de influência direta da localidade e sem que houvesse repetição das construções, como, por exemplo, na confluência das avenidas T-63 e 85 ou no trecho da Assis Chateaubriand mais próximo do Lago das Rosas, assim como do Areião e da Rua 90. As avenidas foram escolhidas por serem corredores exclusivos ou preferenciais da cidade e nos setores principais, para que não houvesse distinção quanto à localização dos bairros.O superintendente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO), Felipe Melazzo, acredita que a situação é corroborada pelas impressões do mercado imobiliário sobre a preferência dos goianienses em morar próximos aos parques. “Quando tem a chance de morar em frente aos parques, o comprador não quer outra coisa. Os parques têm valorização maior do que quaisquer outros locais. Mesmo prédios de alto padrão na Alameda Ricardo Paranhos, no Setor Marista, por exemplo, ainda ficam abaixo de outro semelhante se está em frente ao Parque Areião”, conta.O arquiteto e urbanista Nilton Lima, que é conselheiro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU-BR) por Goiás, resume o fato da preferência aos parques ante as avenidas da seguinte maneira: “Morar nas avenidas é prático, nos parques é encantador”. Ele lembra ainda que em outras cidades, como São Paulo e Belo Horizonte, por exemplo, os parques não possuem toda essa atratividade, de modo que as avenidas, especialmente aquelas que possuem alta oferta de transporte coletivo, são mais procuradas.Melazzo entende que nas duas últimas décadas ocorreu em Goiânia essa junção entre o alto padrão e a proximidade dos parques na capital, especialmente em busca do que se chama de vista definitiva. “Morar próximo aos parques não é só encantador, é a certeza de que não vai ter uma construção na sua frente.” A Secretaria Municipal de Planejamento e Habitação (Seplanh) ressalta que “não há na legislação urbanística do município incentivos para a ocupação no entorno de parques”. A pasta informa que o adensamento em Goiânia ocorre nas “Áreas de Desaceleração de Densidade e nas Áreas Adensáveis, onde de fato o adensamento é incentivado, em virtude dessas áreas se concentrarem ao longo dos eixos de desenvolvimento, os quais encontram-se assentados sobre os eixos de transporte coletivo”.Leia também:- Prefeitura de Goiânia paga R$ 576 mil por cursos sobre licitação Ocupação intensa é prejudicial à cidadeA ocupação dos entornos dos parques de Goiânia por moradias remonta ao crescimento da capital já nas décadas de 1940 e 1950. O artigo “O Ciclo Histórico das Ocupações Próximas a Parques Urbanos da Cidade de Goiânia”, de Letícia Miléo Reis e Marcelo Tsuyoshi Haragushi, ambos da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), relata que o Bosque dos Buritis, no Setor Oeste da capital, consta no primeiro projeto assinado por Attilio Corrêa Lima por ser determinante para proteção da nascente do Córrego Buriti e com área prevista de 38 hectares. No entanto, a execução do projeto, já pela empresa dos irmãos Coimbra Bueno, se deu com apenas 11,6 hectares. Os pesquisadores informam que a área “foi doada para a construção de escolas particulares (Atheneu Dom Bosco e Externato São José) e órgãos públicos (Fórum, Tribunal de Justiça e Assembleia Legislativa), além da destinação habitacional e ocupação ilegal de lotes”. O estudo relata ainda que a partir da década de 1970, “impulsionada pelo crescimento da economia no país, ocorreu a ocupação do entorno do parque por condomínios de luxo”. Na época, houve a ampliação do valor comercial da região a partir das “ideias de consumo do lugar, qualidade de vida e consciência ecológica”. A pesquisa faz um levantamento histórico sobre a ocupação do entorno de três parques da cidade: o Bosque dos Buritis, o Parque Flamboyant e o Parque do Cerrado, que ainda sequer teve implantada sua estrutura de urbanização. A intenção é demonstrar que a história da ocupação dos parques vem se repetindo ao longo dos anos na cidade, já que a construção de prédios no entorno do Flamboyant foi acelerada a partir do final da década de 2000, com a revitalização da área onde é o parque atualmente, em 2007. “Quando da sua inauguração, 39 torres de edifícios se espalhavam pelo bairro, muitas delas margeando seus limites. Dois anos depois, mais 31 torres foram implementadas e, até o final do ano de 2018, já totalizavam 136 torres de condomínios verticais no local”, considera a pesquisa. Com isso, o estudo questiona o futuro do Parque do Cerrado, que ainda não saiu do papel e já vem recebendo a construção de prédios acima de 30 andares e estruturas públicas, como a Assembleia Legislativa.-Imagem (Image_1.2500465)