O ano de 2021 foi marcado pela morte de quatro ex-governadores de Goiás. Foi também um ano de articulações para as eleições de 2022, com alianças definidas com inédita antecedência. A um ano do pleito, Daniel Vilela, presidente estadual do MDB, foi anunciado como vice na chapa do governador Ronaldo Caiado (DEM), o que provocou reações entre aliados do governo e a saída do MDB de Gustavo Mendanha, prefeito de Aparecida de Goiânia e pré-candidato a governador. Iris Rezende deu início ao processo de aproximação do MDB ao governo estadual, pouco antes de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). Após 95 dias de internação hospitalar, Iris morreu no dia 9 de novembro, aos 87 anos. Foram 62 anos de carreira política, iniciada em 1958, como vereador e presidente da Câmara de Cristianópolis, cidade natal. Iris foi deputado estadual, presidente da Assembleia Legislativa, senador, ministro da Agricultura e da Justiça, nos governos de José Sarney e Fernando Henrique Cardoso, e governador de Goiás por dois mandatos. Enfrentou cassação de mandato, ditadura militar e derrotas em 1998 e 2002, quando disputou o governo. Se reergueu ao ser eleito para a Prefeitura de Goiânia, em 2004, sendo reeleito em 2008. Em 2016, após perder a eleição para o governo em 2010, ele volta ser eleito prefeito da capital.Outro líder do MDB, Maguito Vilela, que assumiu de forma inédita a Prefeitura de Goiânia - com assinatura eletrônica da UTI, onde se recuperava de complicações da Covid-19 - morreu após 84 dias de internação para tratamento, no dia 13 de janeiro, aos 71 anos. Foram 45 anos de vida pública, iniciada como vereador na cidade natal, Jataí, e que prosseguiu em mandatos de deputado estadual e federal constituinte, vice-governador, governador, senador e prefeito de Aparecida de Goiânia por dois mandatos. Eleito vice, Rogério Cruz (Republicanos) assumiu como prefeito de Goiânia.Outra vítima da Covid-19 foi Helenês Cândido, que morreu aos 86 anos, em 17 de março deste ano. Internado em Santa Helena, ele iria ser transferido para a UTI de Caldas Novas, mas morreu no caminho. Foi governador de 24 de novembro de 1998 a 1º de janeiro de 1999. Em 9 de agosto, o ex-governador Ary Valadão morreu aos 102 anos, de pneumonia. Ele chegou ao Palácio das Esmeraldas na ditadura militar, via eleição indireta, e governou de 1979 a 1983. Pouco mais de 80 dias depois da morte de Maguito Vilela, 21 auxiliares do 1º escalão deixaram os cargos na prefeitura da capital, em rompimento coordenado por Daniel Vilela, filho de Maguito. O Paço ganhou novo perfil, com nomeações de lideranças evangélicas ligadas ao prefeito Rogério Cruz, que também reforçou sua base na Câmara com indicações a cargos por vereadores.A posse dos novos prefeitos deu-se em meio ao desafio da segunda onda de casos e mortes de Covid-19. Enfrentando esgotamento de leitos hospitalares, o governo estadual e os municípios voltaram a adotar medidas para conter a disseminação do novo coronavírus, e foram muito criticados pelo presidente Jair Bolsonaro.Em 4 de março, dia em que o Brasil registrou novo recorde na média de mortes, durante visita a São Simão, no interior goiano, Bolsonaro afirmou: “Chega de frescura e mimimi. Vão ficar chorando até quando?” Em junho, em Anápolis, o presidente voltou a defender o “kit Covid”, medicamentos sem eficácia comprovada, e levantou dúvidas sobre a eficiência das vacinas. Também insistiu em mencionar fraude na eleição de 2018, questionando as urnas eletrônicas. No final de agosto, em Goiânia, em meio a crise institucional decorrente de uma série de ataques ao sistema eleitoral e ao Judiciário, Bolsonaro reafirmou ser o comandante das Forças Armadas. Em março, pela primeira vez na história do país, os três comandantes das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) renunciaram, após saída do ministro da Defesa, Fernando Azevedo, substituído por Walter Braga Netto. Em Goiânia, Bolsonaro voltou a responsabilizar governadores e prefeitos pela crise econômica. Em resposta, Caiado disse ao POPULAR “não ter como controlar a opinião de ninguém”. “Cada um tem uma maneira de pensar a maneira de combater o vírus.”Bolsonaro se tornou alvo de investigações. Em agosto, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acolheu notícia-crime do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e decidiu investigar o presidente por suposto vazamento de dados sigilosos de inquérito da Polícia Federal sobre invasão hacker à corte eleitoral em 2018. Em dezembro, Moraes determinou abertura de outro inquérito para apurar a conduta de Bolsonaro ao associar a vacinação contra a Covid-19 ao risco de se contrair o vírus da Aids.No Senado, a CPI da Covid atribuiu crimes a Bolsonaro e pediu a responsabilização de agentes públicos e privados em razão das consequências da pandemia no Brasil. Como um dos desdobramentos, pedido de impeachment apresentado pelo ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior contra Bolsonaro, que se baseou nos crimes de desrespeito ao valor da vida e da saúde e falta de decoro. Denúncias e propostas feitas pela CPI, todavia, pouco avançaram no Senado e na Procuradoria-Geral da República (PGR).Os governadores, entre eles Caiado, assinaram notas públicas cobrando ações do governo federal no combate à Covid-19. O governador goiano foi se afastando gradualmente do presidente da República, cuja assinatura no dia 24 de dezembro foi o último passo para o ingresso do Estado no Regime de Recuperação Fiscal (RRF), buscado desde o início do atual mandato. O governo de Goiás deve renegociar pelo menos R$ 10 bilhões de dívidas, com previsão de adesão ao programa de socorro financeiro da União a partir de janeiro de 2022, com validade de seis anos.Em votação unânime, no dia 21 de maio o STF garantiu o ingresso do Estado no RRF. A oficialização do pedido de adesão do Estado ao Ministério da Economia foi feita 103 dias depois, em 1º de setembro. Exigência de adesão ao RRF, Proposta de Emenda à Constituição enviada pelo governo à Assembleia Legislativa que corta aumentos de servidores e limita despesas até 2031 foi aprovada ainda em junho.Com queda nas avaliações do governo e segundo colocado nas pesquisas eleitorais, bem atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro fez discursos no 7 de Setembro em Brasília e São Paulo, em atos antidemocráticos de apoiadores, com ameaças golpistas contra o STF e congressistas. “(Quero) dizer àqueles que querem me tornar inelegível em Brasília: só Deus me tira de lá”. Em 30 de novembro, após dois anos sem partido, ao lado do presidente da legenda, Valdemar da Costa Neto - que foi preso e condenado no escândalo do Mensalão - e de lideranças do Centrão, bloco da base do governo no Congresso, Bolsonaro se filiou ao PL, sua nona legenda da carreira política.