Atualizados às 18h15 de 17/5/2020Dois entrevistadores do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ipobe) foram detidos pela Guarda Civil Municipal (GCM) de Rio Verde, em Goiás, e levados para prestar esclarecimento na delegacia, na tarde da última quinta-feira (14). Eles estavam aplicando questionários e testes do novo coronavírus na população da cidade para a pesquisa “Evolução da Prevalência de Infecção por Covid-19 no Brasil: Estudo de Base Populacional”, coordenada pela Universidade Federal de Pelotas, do Rio Grande do Sul, e com patrocínio do Ministério da Saúde (MS). O objetivo é ter uma estimativa do real avanço da doença no país. Segundo o delegado Carlos Roberto Batista, os policiais não haviam sido informados sobre a pesquisa e receberam diversas ligações de moradores desconfiados da presença dos entrevistadores. Alguns achavam que poderia ser algum tipo de fraude ou ação de criminosos. A detenção dos dois integrantes ocorreu por volta das 12 horas e a liberação, após esclarecimento, cerca de 3 horas depois.“É importante que seja esclarecido. Até aquele momento, a gente não sabia do que se tratava. A gente queria entender o que estava acontecendo. A partir do momento que tudo foi verificado, eles foram liberados”, diz o delegado. Um ofício do MS enviado para a Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO) na tarde da última quarta-feira, um dia antes da pesquisa, pede que secretarias de Segurança Pública e municipais de Saúde sejam comunicadas em caráter de urgência sobre a realização da pesquisa. Outros casosReportagem do jornal Folha de S. Paulo publicada no último sábado (16) revelou que entrevistadores tiveram problemas para realizar a pesquisa nacional em vários municípios do país, seja por conta de abordagens policiais ou agressões de moradores. Houve registros do tipo em cidades como Imperatriz, no Maranhão, e Barra do Garças, no Mato Grosso. Em alguns casos, os pesquisadores chegaram a ser agredidos e tiveram seus testes apreendidos ou danificados. No caso de Rio Verde, em Goiás, o delegado Carlos Roberto garante que não houve apreensão, agressão ou destruição de equipamentos. Uma equipe da vigilância sanitária do município foi chamada para verificar se os testes não seriam algum material ilícito e a dupla de entrevistadores foi colocada em liberdade assim que houve confirmação da existência da pesquisa.Em nota oficial, a Universidade Federal de Pelotas, responsável pela pesquisa, lamentou que os entrevistadores tenham sido tratados como criminosos. “Nada justifica o comportamento de ‘xerifes’ assumido por alguns gestores municipais, que impedem ou atrapalham a realização da pesquisa que pode a ajudar a salvar milhares de vidas no país”, diz trecho do comunicado. A pesquisa em parceria com o Governo Federal será feita em um total de 133 municípios. Em Goiás, o estudo será feito em Goiânia, Itumbiara, Rio Verde, São Luís de Montes Belos, Iporá, Porangatu, Uruaçu, Luziânia e Águas Lindas. Falta de comunicação O superintendente da SES-GO, Sandro Rodrigues, informou que o ofício do MS, comunicando sobre a pesquisa, foi repassado para os participantes da última reunião do Centro de Operações de Emergências (COE) de combate ao coronavírus, no dia 13. “Dentro os participantes, estavam presentes representantes do Cosems. Foi repassado também via regional, para que estes repassassem aos municípios, no mesmo dia”, explica. O Cosems é o Conselho das Secretarias Municipais de Saúde de Goiás.Presidente do Cosems, Verônica Savatin, confirmou que o Conselho teve conhecimento da pesquisa no final da tarde do dia 13 durante uma reunião do COE, mas que não houve tempo de ser feita qualquer tipo de articulação com os municípios. “Até mesmo porque o ofício foi endereçado a Secretaria Estadual de Saúde para que a mesma fizesse o contato com os secretários através das regionais”, defendeu.Ainda segundo Verônica, o Cosems considerou que houve falta de respeito com os municípios, por parte do Ministério da Saúde, por não ter feito contato com cada gestor para comunicar sobre a pesquisa. Por nota, a SES-GO informou que comunicou imediatamente todas as regionais de saúde, que, por sua vez, comunicaram os respectivos municípios onde a pesquisa seria realizada. A pasta também lamentou a falta de uma melhor comunicação sobre a realização do estudo. “A SES não foi comunicada com antecedência sobre a realização da pesquisa mesmo estando sempre à disposição para iniciativas como essas do MS. Infelizmente, houve problemas de comunicação do MS com a SES e as SMS dos municípios contemplados”, diz trecho do comunicado. A reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde de Rio Verde para saber se foram comunicados da pesquisa, mas não houve retorno até as 13h11 deste domingo (18).