Após mais de dois anos sem desfile, a Escola de Samba Flora do Vale, uma das mais tradicionais de Goiânia, voltou para a avenida nesta quinta-feira (21) no primeiro dia de festividades carnavalescas fora de época. O tema escolhido, “Homenagem às grandes damas do samba em Goiás”, misturou os sentidos próprios do carnaval, como as cores e os ritmos, com homenagens a membros tradicionais da agremiação que morreram por causa da Covid-19.O desfile realizado na Rua 20, na Vila Morais, atraiu moradores de diversos bairros. As grandes estrelas da noite foram Maria Dalva e Henusa Mendonça, fundadora e filha que durante quase 40 anos se dedicaram ao evento e que faleceram no ano passado. As histórias das artistas, amplamente conhecidas pela comunidade, se transformaram no sentimento de alegria que promete ser o combustível para manter a tradição viva.A escola foi fundada em 1985 por Dona Dalva, como era conhecida e já realizou desfiles também no interior do estado, como nos municípios de Bonfinópolis, cidade de Goiás, Jaraguá e Formosa. Membro ativo do movimento cultural goiano, a então dirigente faleceu em 2021, aos 83 anos, em decorrência de um enfarte. A filha Henusa faleceu no mesmo ano, aos 48 anos, por complicações médicas após ficar internada. “Em homenagem a elas, nós decidimos não deixar a escola acabar”, explica a artista Márcia Santana, de 27 anos, atual presidente da agremiação.A apresentação deste ano foi, segundo Márcia, um novo início. Por conta disso, a estrutura foi reduzida na comparação com os eventos já realizados pela escola. Mesmo assim, a Prefeitura de Goiânia financiou a organização. “Estamos renascendo das cinzas. Com a pandemia acabamos desmobilizando os membros da escola, então tudo está sendo feito com muito esforço, mas todos estão extremamente felizes”, destaca a presidente.O mestre de bateria, Agmon Gomes é o viúvo de Henusa e acompanha as atividades da escola há mais de três décadas. “Sou um produto vivo dos trabalhos que eram realizados pela Dona Dalva na região leste”, conta Gomes. Entre as lembranças mais vivas, o mestre de bateria cita a resiliência da fundadora para conseguir viabilizar os recursos para realizar as festas.“Mesmo quando o poder público não podia apoiar com fundos culturais ela juntava os empresários da região. Foram várias as vezes que ela mobilizava a própria comunidade para conseguir arrecadações”, conta Gomes.Entre os vários produtos das ações de Dona Dalva estão grupos de teatro, bandas e cursos profissionalizantes ofertados na rotina da própria escola de samba. “Ter esse trabalho vivo é manter a memória delas, essas duas mulheres guerreiras que lutaram pela cultura, contra o preconceito, pela aprovação da lei contra a violência a mulher”, destaca o mestre de bateria.AgendaA agenda de desfiles de escolas de samba da capital se estende para os próximos dias. Nesta sexta-feira (22) é a vez da escola Beija-Flor desfilar, evento que será realizado na Rua 1.060, no Setor Pedro Ludovico, às 19 horas.No sábado, no mesmo endereço, será realizado o desfile do Brasil Mulato. No mesmo dia e horário será realizado o Desfile Rainha de Goiás, na Avenida dos Ipês, no Setor Garavelo.