A Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc) deve manter a integralidade do bônus de produtividade previsto para ser pago aos servidores no próximo mês. O valor do benefício havia ficado em xeque após a titular da pasta, Fátima Gavioli, afirmar, durante reunião com diretores, que a bonificação seria revista por conta da alta abstenção dos estudantes de Goiás no primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado no último domingo (21).Na reunião virtual com diretores, Fátima afirmou que foi surpreendida negativamente com a abstenção registrada no Estado, a segunda pior do País (confira o quadro). Por conta dos dados, a secretária disse que a pasta estava tendo de “alterar a legislação e o valor do bônus”. O benefício foi aprovado em definitivo pela Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) na terça-feira (23). Entre os critérios para o pagamento, a expectativa, segundo a gestora, era de que Goiás não ultrapassasse 30% de ausentes no Enem.“Se o bônus é por produtividade, evidentemente que eu esperava que a frequência dos alunos no Enem acompanhasse a frequência no Sistema de Avaliação Educacional do Estado de Goiás (Saego) e no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), e não foi o que aconteceu. Teve uma ausência muito alta, gravíssima”, afirmou a titular da Seduc aos gestores.Em mensagem compartilhada com gestores, Fátima diz que houve uma falha na articulação para a participação no Enem. “A lei aprovada na Alego, hoje à noite, prevê o bônus que será pago em dezembro, voltado para mérito. Isso envolve a retomada presencial das aulas, frequência e proficiência, foco na aprendizagem e busca ativa, Saego, Saeb e Enem. Sobre os primeiros itens, eu diria que estamos avançados, mas no Enem falhamos na articulação. A meta era 70% de frequência no mínimo e isso não aconteceu, não batemos a meta.”Apesar da clareza das falas, uma delas registrada em vídeo, a secretária afirma que as tratativas sobre o bônus permanecem como estavam e prevê que todos devem recebê-lo de forma equânime, proporcional a 90% do salário. Segundo a titular da Seduc, a ponderação sobre o risco da alta abstenção no Enem foi alerta de que o número poderia impactar na nota final que a rede deve atingir para garantir o recebimento do bônus.CritériosO texto da lei que prevê o pagamento do bônus não detalha os critérios. Na proposta, é explicado que o bônus tem como objetivo “estimular o integral retorno às aulas presenciais”. Isso porque após um ano e meio de aulas virtuais devido à pandemia da Covid-19, a Seduc teme uma alta evasão escolar com o retorno das atividades presenciais.Segundo Fátima, será após a sanção do governador Ronaldo Caiado (DEM) que a pasta irá consolidar os itens em portaria. Antes disso, porém, a secretária diz que os gestores de unidades escolares já tinham sido informados de que a presença no Enem seria levada em consideração ao lado de questões como retomada das aulas e adoção de protocolos de biossegurança.“Hoje a nota da rede está em 89% de engajamento. Se o Saeb continuar dando alto índice deve subir ainda mais. Hoje tem alguém com menos de 70%? Ninguém. Mas eu posso deixar de lembrá-los? Não. Bônus de produtividade precisa ser monitorado e acompanhado”, explica Fátima.SindicatoA presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), Bia de Lima, afirma que a entidade participou da articulação para que o valor do bônus não fosse revisto. Segundo a representante sindical, faz parte das atribuições dos professores participar das mobilizações que buscam garantir ampla participação dos alunos em provas como Enem e Saego. Como critério para o pagamento do bônus, porém, Bia diz que o Enem não tinha sido colocado como prioridade.“Independente de estar ou não no conjunto de critérios, entendo que é preciso que o Estado possa garantir a participação (dos estudantes no Enem). Ao longo do ano os professores fazem chamamentos, dão aulas de reforço. O professor sempre tem esta metodologia, seja no decorrer do curso regular, seja em avaliações especiais”, detalha Bia.No texto da proposta de pagamento do bônus, o Governo de Goiás destaca que a matéria busca valorizar os profissionais da educação, “em reconhecimento pelo trabalho exercido e pelo comprometimento deles com a promoção de um ensino de qualidade para os estudantes goianos. Além disso, a medida amplia as políticas públicas adotadas pelo Estado de Goiás para manter a relevante posição no campo educacional reconhecida pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)”. A expectativa é de que 39.133 servidores efetivos, comissionados e temporários sejam contemplados.A previsão é de que o bônus seja concedido no mês de dezembro deste ano aos profissionais da educação básica e os demais servidores receberão em janeiro de 2022. O benefício não será pago para a secretária e para os servidores públicos organizados em carreira e remunerados por subsídio. O impacto orçamentário e financeiro será de R$ 131 milhões no mês de dezembro deste ano e de R$ 29 milhões no mês de janeiro de 2022.Abstenção no Enem preocupaSobre o Enem, a questão que desencadeou a possibilidade de revisão do valor do bônus, a secretária de Educação diz que a sensação, diante dos números, é de que os estudantes estão desmotivados e por isso há demanda de reação. A prova aplicada nacionalmente é a principal porta de entrada para o ensino superior, sendo adotada como vestibular em universidades públicas e privadas.“Para nós, que somos professores, é algo ruim, pensar que muitos se inscreveram e deixaram de ir. O que a gente não pode é deixar isso quieto, para que em outros anos isso não se repita”, afirma Fátima. Pelos dados (confira o quadro) a quantidade de estudantes que realizou a prova foi ainda menor que a de 2020, aplicada em janeiro deste ano, durante a segunda onda da pandemia da Covid-19. Foram 96.374 contra 86.649 pelos dados do primeiro dia em ambas as provas. Para a secretária, o professor tem papel fundamental na motivação dos alunos e podem ser determinantes na falta da figura da família. “Esse papel foi feito. O que faltou foi nós, na última semana que antecedeu o Enem, fazermos ações de segunda até sexta-feira. No sábado fizemos, mas acho que deveríamos ter feito todos os dias, lembrar todos os dias da prova”, acrescenta a gestora.Para Bia, do Sintego, a alta abstenção no Enem ainda é reflexo dos efeitos da pandemia da Covid-19. “Entre o total de matrículas e os que de fato estão acompanhando, a ausência é muito alta”, diz a presidente. Segundo a representante, as unidades têm buscado diferentes estratégias para enfrentar a questão, com foco no contato com estudantes e familiares. “Precisamos de um esforço coletivo pedagógico, no bom funcionamento da escola, do desempenho do professor. São critérios que precisam ser levados em conta para trazer essa moçada de volta à escola”, acrescenta Bia.A Seduc agora busca formas de evitar mais baixas na adesão ao Enem no segundo dia de prova, previsto para o próximo domingo (28), e evitar uma queda ainda maior na taxa de frequência. Em mensagem compartilhada com os gestores, a pasta pede ajuda dos professores para mobilizar alunos para irem à prova. Fátima diz que irá manter agenda até o fim da semana buscando estimular as unidades de educação em atenção à importância da prova. -Imagem (1.2360536)