Depois de seguir o Ministério da Saúde na definição dos grupos que receberam as primeiras doses de vacina contra o coronavírus, Goiás não vai esperar o governo federal desta vez, e já vai recomendar a utilização das próximas remessas do imunizante em idosos fora de asilos. Em nota técnica que deve ser publicada nos próximos dias, a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) vai orientar a priorização, na fila da vacina, de pessoas a partir de 90 anos e de idosos acamados. A recomendação já deve valer para as próximas doses da CoronaVac/Sinovac que vão chegar ao Estado nesta semana.A nota técnica com orientações da SES-GO, que deve ser divulgada nos próximos dias, recomenda que os idosos acamados sejam vacinados em domicílio. Já os idosos com 90 anos ou mais devem ser vacinados no sistema drive-thru, de preferência. O Estado está terminando de desenvolver um aplicativo que poderá ser utilizado por todos os municípios para agendar vacinas, evitando aglomerações na hora de se imunizar.O documento do Estado ainda vai orientar a “ampla divulgação em mídia local sobre o cronograma com os locais, datas e faixa etária que será atendida”. A nota técnica com as recomendações foi apresentada em reunião do Centro de Operações de Emergências (COE) em Saúde Pública de Goiás para Enfrentamento ao Coronavírus, na tarde desta quarta-feira (3). Ela foi elaborada tendo em vista o atual cenário de transmissão da Covid-19, com aumento de casos, hospitalizações e mortes.Até o momento, a capital e a maioria dos municípios do Estado estão vacinando apenas idosos em asilos e profissionais de saúde, inclusive os que não estão na linha de frente no combate ao coronavírus, seguindo orientações do Ministério da Saúde e da SES-GO. Mais de 90% das primeiras doses de vacinas que chegaram em Goiás foram especificadas, pelo Ministério da Saúde, para profissionais de Saúde. Com isso, mesmo trabalhadores que não lidam com pacientes com a Covid-19 foram incluídos no grupo a ser vacinado, enquanto idosos ficaram de fora.Em Goiânia, começou nesta quarta-feira (3) a vacinação de profissionais de saúde que não estão em hospitais, incluindo farmacêuticos e odontólogos. Mesmo não estando na linha de frente, estas categorias estão previstas em documentos do Ministério da Saúde que definem a categoria “trabalhadores da saúde”. Também fazem parte deste grupo, segundo os documentos do governo federal, veterinários, funcionários do sistema funerário, parteiras e profissionais de educação física.O superintendente de Vigilância em Saúde da SMS, Yves Mauro Fernandes Ternes, explica que Goiânia ampliou bastante a capacidade assistencial nos últimos meses. “Por isso não temos condições de vacinar outros grupos neste momento, pois ainda temos pessoas do grupo inicial que o Ministério determinou”.Alguns municípios preferiram não seguir os governos federal e estadual, e usaram parte das doses destinadas para profissionais em idosos, como foi o caso de Anápolis, que disse ter aplicado as doses em 967 pessoas com mais de 95 anos, além dos trabalhadores da saúde da linha de frente contra o vírus, de todos os hospitais públicos e privados, segundo a prefeitura. A 9ª Promotoria de Justiça de Anápolis apoia o critério de vacinação de idosos do município.Maior mortalidade Dos 7,5 mil mortos por Covid-19 em Goiás, 5,7 mil eram idosos. Isso significa que de cada quatro pessoas que morrem de coronavírus no Estado, três são idosos. Uma semana antes da chegada das primeiras doses de vacina, técnicos da SES-GO defendiam a vacinação de idosos para diminuir os óbitos e as internações. No entanto, o Estado seguiu as orientações do Ministério da Saúde, que ainda não enviou doses especificadas para idosos fora de asilos.A epidemiologista e professora da Faculdade de Medicina da UFG, Erika Silveira, que também é membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, defende que os idosos já deveriam ser prioridade, em especial os com mais de 75 anos. “Já passou da hora de vacinar os idosos com mais de 75 anos. Não tem porque vacinar dentistas, veterinários, administrativos. (Eles)têm muito menos riscos. Idosos têm alto risco. Acho que está tendo um equívoco em relação à escolha da prioridade da vacinação”, avalia a pesquisadora.Em entrevista para o POPULAR em 22 de janeiro, o técnico da Diretoria de Políticas Públicas da SMS de Goiânia, Sérgio Nakamura, defendeu que a vacinação dos mais idosos pode diminuir óbitos e internações com poucas doses. Defensoria pede aplicação em idososO Núcleo Especializado de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO), enviou um ofício para a Prefeitura de Goiânia, nesta terça-feira (2) questionando uma data para começar a vacinar os idosos contra a Covid-19, principalmente aqueles com mais de 80 anos. A capital, assim como a maioria dos municípios do Estado, está vacinando apenas idosos em asilos e profissionais de saúde, inclusive os que não estão na linha de frente no combate ao coronavírus, seguindo orientações do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO). Um dos defensores públicos que assina o ofício, Philipe Arapian, que é coordenador do Núcleo de Direitos Humanos, defende a urgência de vacinar os idosos, já que eles são os que mais têm complicações decorrentes do vírus. Mais da metade das 7,5 mil pessoas que morreram por Covid-19 em Goiás tinham 70 anos ou mais. “Como faz para evitar morte e liberar leitos? Vacinando idosos com mais de 70 e mais de 80 anos”, avalia Arapian. A defensora pública Cristiana Teixeira Conceição também assina o ofício. Reportagens do POPULAR já mostraram falas de especialistas que também defendem a vacinação de idosos fora de asilos como prioridade. O ofício da DPE-GO questiona a data prevista para o início da imunização de idosos, principalmente os com idade a partir de 80 anos. O documento também questiona a possibilidade de vacinar idosos e profissionais de saúde ao mesmo tempo, aos moldes do que ocorre em Manaus (AM), Niterói (RJ) e Rio de Janeiro (RJ). Os defensores ainda solicitam o calendário com a previsão de vacinação para maiores de 60 anos. Arapian diz que os defensores decidiram enviar o ofício depois de verem outros municípios vacinando idosos fora de asilos, como é o caso de Anápolis e cidades que não tinham idosos institucionalizados. “Ficamos sabendo de pessoas do sistema de saúde que não são grupos prioritários, que não estão diretamente lidando no dia a dia (com a Covid-19), e estão sendo vacinados.”Durante entrevista para o POPULAR na tarde desta quarta-feira (3), o secretário municipal de saúde de Goiânia, Durval Pedroso, foi questionado sobre o motivo de Anápolis vacinar idosos e a capital, não. “(Anápolis) trata-se de cidade infinitamente menor em termos populacionais e trabalhadores da saúde”, justificou o gestor. Vacina por app é previsão da SESGoiás vai usar um aplicativo de celular e computador para agendar vacinas contra a Covid-19. A ferramenta, batizada de Monitora Goiás, está em fase de finalização, poderá ser usada em qualquer município que tiver interesse e vai permitir o pré-cadastro de idosos para vacinação. Ele também deve substituir o atual Dados do Bem, no agendamento de testes. Segundo a ata pública da reunião do Centro de Operações de Emergências (COE) para Enfrentamento ao Coronavírus, do dia 6 de janeiro, o Monitora Goiás vai ter uma plataforma própria para vacinação, com o intuito de facilitar o trabalho das prefeituras e evitar aglomerações. O aplicativo também deve ser integrado ao Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL) da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO). A epidemiologista e professora da UFG, Erika Silveira, que também é membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e, avalia que cadastrar idosos pelo aplicativo vai gerar muita iniquidade em saúde. “Ou seja, os de mais baixa renda e menor escolaridade ficam sem acesso.”Em nota, a SES-GO informou que aguarda a finalização do aplicativo para pronunciamento sobre o assunto com detalhes já definidos e concretos para a população.