O governo de Goiás está correndo para não precisar devolver recursos federais para a construção de três centros de internação de adolescentes infratores. Os prazos dos convênios, que somam R$ 21 milhões, para a edificação de centros de atendimento socioeducativo (Cases) em Itaberaí, Itumbiara e Porangatu (veja quadro), vencem nos próximos meses e as obras precisam estar em andamento para que eles sejam renovados. Acontece que todas as três intervenções estão paralisadas oficialmente desde março por falta da contrapartida do governo estadual.A obra mais atrasada é a do Case de Porangatu, no Norte do Estado, que começou em 2014, mas menos da metade está concluída. Quando estiver pronta, ela deve comportar 58 internos. Uma das justificativas da demora é uma batalha judicial com a prefeitura, que terminou com a obrigação da mudança do local onde a unidade seria construída.A alteração do terreno acabou gerando um aumento de gastos com a construção, que teve aditivo contratual de 23% sobre o valor original. Em 2017, após vistoria no local, o Ministério Público pediu mais celeridade na obra. Mais de R$ 2,4 milhões do governo federal já foram investidos no Case de Porangatu e R$ 580 mil do Estado. Ainda faltam mais de R$ 5 milhões das duas fontes. O prazo do convênio da obra vence em dezembro deste ano.Já a obra mais adiantada é a do Case de Itaberaí, 100 km da capital, que está 83% concluída. Construída na zona rural, a unidade ainda precisa de acabamento, como a pintura, a compra de equipamentos e a instalação elétrica. Quando estiver pronto, o Case terá a capacidade de internar 52 adolescentes. O valor restante para a conclusão da obra de Itaberaí é de pouco mais de R$ 3 milhões, sendo que dois terços é de contrapartida do governo estadual.O caso do Case de Itumbiara, que está 51% concluído e ainda precisa de R$ 648 mil do Estado e de R$ 4 milhões de verba federal, é o mais urgente, já que o prazo do seu convênio vence este mês. A unidade chegou a ser citada pela subprocuradora-Geral de Justiça para Assuntos Institucionais do Ministério Público, Laura Bueno, como prestes a ter o dinheiro devolvido.HistóricoNo ano passado, o MP entrou com uma ação no Judiciário contra o Estado por não ter cumprindo um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em 2012 com o órgão, que previa, entre outras coisas o aumento de vagas do sistema socioeducativo.Reportagens do POPULAR já mostraram, que além da situação precária das estruturas das unidades e da falta de servidores, decisões judiciais para internar adolescentes infratores acabam sendo negadas por falta de vagas. De acordo com Laura Bueno, isso ainda acontece. No entanto, ela se diz otimista.“O Estado está sinalizando que vai dar atenção ao socioeducativo. Te confesso que estou esperançosa”, diz a subprocuradora. Este sinal teria sido dado em uma ligação da nova titular da Secretaria de Desenvolvimento Social (Seds-GO), órgão responsável pelo sistema socioeducativo, a ex-senadora Lúcia Vânia.Recém-empossada no cargo, Lúcia Vânia disse nesta segunda-feira (7) ao POPULAR que está sendo realizada uma força-tarefa para que não seja necessário devolver o recurso federal. “Pode ter certeza que o recurso não vai voltar. Vamos utilizar o recurso e vamos desobstruir estas obras. Não existe a menor possibilidade, está fora de cogitação.”Lúcia Vânia diz que o socioeducativo será uma de suas prioridades na condução da pasta e garante que em 30 dias já terá apresentado mudanças relevantes no sistema socioeducativo. Só neste ano, a gerência responsável especificamente pelo socioeducativo dentro da Seds-GO já passou por três pessoas diferentes.Por nota, a Seds-GO informou que o processo de renovação do convênio da obra de Itumbiara está em processo de renovação no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. A Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra), responsável pela execução das obras, também garante que o dinheiro não será devolvido. Segundo o órgão, está em fase final a liberação de recurso estadual necessária para a retomada da obra.Além destas três obras com recursos federais, outros três Cases, que estavam sendo construídos apenas com verba estadual, também estão com suas obras paradas. São as unidades de Caldas Novas, Rio Verde e São Luís de Montes Belos. Juntas, as seis unidades representam 318 vagas no sistema socioeducativo, um aumento de 81% de sua capacidade, que atualmente é de 393 vagas para internos do sexo feminino e masculino. Sindicato fala da necessidade de 1.100 servidores O presidente do Sindicato dos Servidores do Sistema Socioeducativo do Estado de Goiás (SINDSSE-GO), Roberto Conde, defende que além da conclusão de novas unidades de internação de adolescentes, o sistema socioeducativo precisa de mais servidores concursados. Ele lamenta que neste ano foram contratados muitos funcionários comissionados, sem critérios adequados de escolha. De acordo com Conde, atualmente, a quantidade de efetivos no socioeducativo de Goiás não passa de 600 e que o número ideal de novos contratados seria de 1.100. Ele reclama que na gestão de Marcos Cabral, que tocou a Secretaria de Desenvolvimentos Social (Seds) até semana passada, não houve nenhum avanço para ter melhorias do sistema socioeducativo, além da troca de comissionados. “A gente espera que a visão da nova gestão seja realmente voltada para o socioeducativo como a Lúcia Vânia falou”, diz o presidente do SINDSSE-GO. Nova titular da Seds, Lúcia Vânia afirmou que na área de mão de obra, o foco do início de sua gestão será o remanejamento de servidores da pasta para o socioeducativo. “Não vamos fazer concurso público, pelo menos a curto prazo”, diz. A ex-senadora diz que vai construir um socioeducativo mais humanizado com esporte, lazer, ensino formal, disciplina e criatividade.-Imagem (1.1903984)