O pico no número de casos confirmados da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2), no Brasil está previsto para ser entre maio e junho, sendo esta a terceira estimativa feita pelo Ministério da Saúde (MS) desde a primeira notificação, em fevereiro. Em Goiás, o primeiro modelo publicado, em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG), indicava o pico da doença para o final de abril e começo de maio. Mas um novo modelo já está em curso e a estimativa é que a maior quantidade de novos casos ocorra no final do mês de maio. Para especialistas, as constantes mudanças nas estimativas indicam melhor calibragem das simulações, com dados atualizados, e de acordo com o comportamento da população frente às medidas de contenção adotadas.No começo de março, o MS divulgou sua primeira previsão de pico para a Covid-19 e o estudo estimou que haveria o maior número de novos casos já no final daquele mês ou até meados de abril. Ocorre que logo em seguida os governadores e prefeitos iniciaram as medidas de isolamento social, o que muda a modelagem. Superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), Flúvia Amorim, informa que em um primeiro momento se usava os dados obtidos na China, e que depois se usou os índices de países europeus e só após isso se conseguiu utilizar dados nacionais. “É preciso fazer isso no começo porque não há casos suficientes ainda, então vai adaptando o modelo com o que se conhece.”Para o professor José Alexandre Felizola Diniz Filho, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG, o anúncio de um pico inicial em um menor tempo não tem relação com alarde ou discurso político para justificar as medidas adotadas e, sim, com os critérios científicos adotados. “Em síntese, o que muda em cada modelo é o R0, que é quantas pessoas podem ser infectadas a partir de uma. Tem o número básico, que se usava no começo, com base nos dados internacionais, que era de 2,5 a 3”, afirma o professor sobre o modelo feito em Goiás.Atualmente, o estudo feito para o Estado assume o R0 no valor entre 1,5 e 1,6, o que faz com que a estimativa do pico da doença seja para um tempo mais longínquo. Isso se dá, segundo Diniz Filho, porque Goiás adotou medidas de isolamento social já no começo da confirmação de casos. “O mais difícil para fazer a simulação é traduzir essas medidas adotadas, como as pessoas estão se comportando. Estamos usando dados de telefonia móvel, mas ainda não é ideal”, diz.No entanto, é certo que as projeções variam por uma melhor calibragem nas simulações realizadas, como taxa de mortalidade e hospitalização com os dados já registrados no local. “Antes a gente usava índice de hospitalização de 10%, que é o que se tem em outros países, mas aqui já temos que está entre 4% e 5%”, explica Diniz Filho. Projeção se baseia em simulaçõesProfessor da Universidade Federal de Goiás (UFG), José Alexandre Felizola Diniz Filho explica que as estimativas para os picos de casos confirmados de doenças como a Covid-19 estão sendo feitas a partir de simulações de cenários. Em Goiás, a parceria entre a UFG e a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) adotou o modelo SIR (suscetível, infectado e recuperado), em que se verifica qual a capacidade de infecção a partir de um contaminado (R0) para então projetar a quantidade de pessoas ainda suscetíveis, quantas estão infectadas e quantas recuperadas da doença. “O que temos até agora, com a curva de contágio, é que se confirma o estágio inicial, com a progressão geométrica da doença. Vemos um crescimento de 11% em escala logarítmica, o que chegaria em mais de 2 mil casos até o final do mês se fizer esta conta estatística”, informa o professor. Ele explica, no entanto, que este cálculo básico não verifica as situações que podem ocorrer e as medidas adotadas pela população e até a adaptação do sistema de saúde e, por isso, é necessário utilizar as modelagens com as simulações. Para a superintendente da SES-GO Flúvia Amorim, o crescimento atual poderia ser ainda maior no caso de nenhuma medida adotada e o que se tem agora, mesmo com crescimento maior de confirmações na última semana, é o estágio inicial de contágio. “Com certeza poderia ser pior que isso e este aumento nessa quantidade mostra que estamos conseguindo fazer uma curva de contágio mais achatada”, diz.-Imagem (1.2034740)