Estudo de pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) prevê risco de contaminação de turistas com a reabertura de Caldas Novas. De acordo com projeção, aumento de casos e óbitos do novo coronavírus entre os moradores da cidade turística será provocado mais pela flexibilização das atividades econômicas e menos pela circulação de turistas. Decreto da prefeitura de Caldas prevê reabertura de hotéis e pousadas no dia 1º de julho, mas pode ser revisto nesta quinta-feira (18), após o estudo da UFG. Pesquisa também prevê aumento de óbitos caso haja reabertura em Pirenópolis, mas com mais risco de contaminação de morador local por turista.Após apresentação do estudo na tarde desta quarta-feira (17), o Centro de Operações de Emergências (COE) estadual de combate ao Covid-19 deliberou a orientação de que não haja neste momento, ações que aumentem a mobilidade de pessoas nas cidades de Goiás. O grupo, formado por representantes da área da Saúde, defende que o mês de julho seja um momento de planejamento de retomada das atividades turísticas de forma gradual e coordenada seguindo protocolos. Além disso, propõe, de forma preliminar, o retorno das atividades turísticas em agosto. No entanto, essa proposta pode ser revista em meados de julho, dependendo da situação epidemiológica do Estado na época.As projeções em cidades turísticas foram demandas do COE para os pesquisadores. Inicialmente, se imaginava que a chegada dos turistas provocaria um risco alto de contaminação dos residentes de Caldas Novas. No entanto, a pesquisa mostrou que há maior risco de contaminação dos turistas, entre eles e de moradores locais. Segundo dados repassados pela prefeitura aos moradores, Caldas deve receber cerca de 250 mil turistas até agosto.O biólogo do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG, Thiago Rangel, que participou do estudo, explica que a previsão é de chegada de mais turistas em Caldas Novas em meados de julho e agosto. “Eles vão chegar em um momento que a pandemia em Caldas Novas já vai estar muito acelerada, com população proporcionalmente transmitindo muito entre os moradores locais”, avalia o pesquisador.De acordo com Rangel, as projeções mostram uma diferença pequena de aumento de casos e óbitos de Covid-19, quando se compara um cenário de abertura econômica com turismo e sem turismo, em Caldas Novas. No entanto, há muita diferença quando se compara um cenário com abertura e sem abertura, com menos mortes e internações de pacientes com coronavírus se não houver reabertura das atividades econômicas.A previsão é que Caldas Novas sairia de 3 óbitos para 60 até o fim de agosto, se houver abertura das atividades econômicas. Com a presença de turistas, este valor aumentaria entre 10% e 12%, segundo o biólogo e professor da UFG, José Alexandre Felizola Diniz Filho, que também participa do estudo. De acordo com os cálculos dos pesquisadores, cerca de 3% dos turistas de Caldas Novas que chegariam entre junho e agosto sairiam contaminados.Considerando isso, outro número que preocupa, segundo Thiago Rangel, é a média de estadia dos turistas em Caldas Novas de dois dias e meio. Tempo insuficiente para perceberem que foram infectados pelo vírus.“Esses turistas vão estar potencialmente levando o vírus para as suas cidades de origem. Caldas Novas espalha, pulveriza o Covid no Estado, assumindo que esses turistas vêm de outras cidades. O maior problema do turismo em Caldas Novas não é para o município, e sim Estado.”PirenópolisEm Pirenópolis a situação é diferente. Embora abertura econômica provoque mais casos de coronavírus, como em Caldas Novas, a quantidade de turistas que a cidade recebe é menor. Segundo Rangel, um turista com Covid-19 pode fazer mais diferença na população da cidade histórica, já que lá ainda há poucos casos e a pandemia está mais no início, além de ter menos habitantes. “Pode ser que o turismo dispare a pandemia em Pirenópolis”, avalia o biólogo.Alexandre Felizola pondera que outros fatores mais específicos de cada cidade devem ser avaliados. “As consequências vão depender de várias outras coisas. O turismo em Pirenópolis é mais jovem, na natureza, tem um componente forte disso. Se você pensar Caldas Novas, vai ter muito mais pessoas idosas, o impacto da flexibilização pode ser maior.”Os pesquisadores querem agora aplicar o mesmo modelo de projeção em outras cidades turísticas. Thiago Rangel avalia que isso é mais possível em municípios que têm um turismo mais urbano. Talvez ele seja aplicável, por exemplo, para Aragarças, e não para Aruanã, que tem um tipo de turismo mais isolado.“Essa conclusão vai servir para todos os tipos de turismo que são urbanos e que os turistas vão se misturar com a população, onde há contato com camareira, copeiro, portaria, pega táxi, vai ao restaurante, tem garçom, atendente, vai à sorveteria, bairro”, exemplifica Rangel. Decreto pode ser revistoA prefeitura de Caldas Novas pode rever seu decreto de reabertura de hotéis e clubes no mês de julho. Representantes da Universidade Federal de Goiás (UFG) e da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO) participaram de reuniões com representantes de cidades turísticas no início da noite desta quarta-feira (17), na qual foi apresentado o resultado de um estudo que mostra aumento de óbitos e internação por Covid-19 se houver reabertura. Procurado na noite desta quartafeira, o secretário municipal de Saúde de Caldas Novas, José Ricardo Mendonça, disse que ainda não tinha nada a colocar sobre o estudo. Um representante da secretaria participou da reunião. No entanto, ele afirmou que deve ser feita uma reunião com o prefeito Evandro Magal (PP) nesta quinta-feira em que a projeção da UFG será avaliada. “Vamos sentar para ver se vai ter mudança em relação a abertura de hotéis e pousadas, programada para o dia 1º de julho, e de clubes para o dia 15. Hoje (ontem, 17) continua o decreto”, explicou o secretário. Magal, afirmou à Rádio CBN que a reabertura de hotéis e pousadas, sem parques e clubes, vai ser como um laboratório. Após dez dias, será feita uma avaliação do impacto da reabertura para que outros estabelecimentos possam ser reabertos em seguida. O decreto tem regras específicas para uso dos hotéis. No caso das piscinas das pousadas, elas devem ser usadas em sistema de revezamento. Ainda na entrevista, o prefeito disse que caso não haja essa reabertura, o município vai virar “uma cidade de gente falida”. Magal disse que a reabertura foi baseada em estudo da UFG e na aquisição de novos equipamentos para leitos.