O marido e a irmã de Meiriany Ester Luiz Cotrim, de 28 anos, prestaram depoimento ontem (6) na Delegacia Especializada em Investigação de Crimes de Trânsito (Dict). O companheiro de Meiriany, Raul Rodrigues, de 28 anos, estava com a filha mais nova do casal, Sofia Luiz da Silva, de 2 anos, no colo, quando a mulher, que estava grávida de cinco meses de um menino, e a filha Ana Vitória Luiz da Silva, de 4 anos, foram atropeladas ao atravessar a Avenida Independência, no Setor Leste Vila Nova, em Goiânia, no dia 31 de dezembro. Ambas morreram. A irmã da gestante, Ariane Luiz Cotrim, de 31 anos, foi a primeira pessoa da família a chegar no local depois do ocorrido.Raul, que estava casado com Meiriany há oito anos, em entrevista ao POPULAR afirma que está muito abalado. “Eu vivia para elas. Minha rotina era sair do trabalho, ir para casa e depois levar minhas filhas para brincar e aproveitar um tempo com minha esposa.” As vítimas foram atingidas por um veículo VW Polo, conduzido por uma motorista que permaneceu no local. Ela passou pelo teste do bafômetro – que deu negativo, e foi liberada.Meiriany e Raul moravam em Nova Veneza, a 41 quilômetros de Goiânia, e vieram com as duas filhas de ônibus para a capital para passar o réveillon com a família dela. Raul diz que desde do ocorrido não foi mais embora para casa. “Estou ficando na casa da minha mãe. Estava trabalhando há 15 dias como auxiliar de serviços de gerais em uma indústria, mas agora não sei se vou voltar. Ainda não estou bem.” Ele conta que a gestação interrompida de Meiriany era um sonho antigo do casal. “Tanto eu quanto ela queríamos muito um menino. Tentamos muitas vezes e agora tinha dado certo. No momento estou tentando focar no presente e cuidar da minha filha”, cita.A delegada responsável pela investigação, Maira Bicalho, afirma que o depoimento do marido da vítima foi curto e que não trouxe novidades. “Não o pressionamos pois percebemos que ele está muito abalado. Ele não falou mais claramente sobre o sinal e reforçou que atravessou a cerca de quatro metros da faixa de pedestre”, explica.No dia 2, a Dict divulgou imagens de câmeras de seguranças que registraram os atropelamentos e as mortes de mãe e filha. Nas imagens também é possível ver que o primeiro semáforo está no verde, ou seja, a motorista poderia trafegar. Apesar de não ser possível ver em qual tempo estava o segundo semáforo, a investigação constatou que no momento ambos estavam abertos. “O vídeo deixa claro que estava verde e desde o início o Raul afirmou que eles não estavam na faixa”, diz Maira.Porém, Raul insistiu em afirmar que o sinal estava vermelho. “Eu vi. Eu olhei para cima e não tinha nenhum carro vindo. Então, eu disse para minha esposa para nós aproveitarmos e passarmos logo. Por isso não fomos para a faixa.” Raul conta que o carro que atropelou a esposa e a filha surgiu do nada. “Ela estava há uns quatro passos de chegar no canteiro. Foi quando olhei de novo para cima e vi o carro vindo. Eu ainda gritei para a Meiriany: ‘Olha o carro’, mas não deu tempo. Ai eu dei um pulo para trás e consegui desviar”, diz.Alta velocidadeSegundo Maira, o depoimento da irmã da vítima também não trouxe muitas informações reveladoras. “Ela contou como chegou lá, que a condutora estava no local e que o cunhado estava muito abalado. Além disso, ela ressaltou que ouviu outras testemunhas que afirmaram que o carro estava em alta velocidade”, diz a delegada.Ariane conta que estava em casa preparando a ceia do Ano Novo quando a mãe ligou para ela. “Cheguei no local uns 20 minutos depois do ocorrido. Encontrei a polícia junto com a motorista, meu cunhado em choque completo com a minha sobrinha mais nova e minha irmã e minha sobrinha mais velhas deitadas no asfalto”, narra.Segundo a dona de casa, outras pessoas que estavam no local contaram para ela que a motorista teria tentado fugir do local do crime. “Eu não posso confirmar porque não vi, mas no tempo que estava lá notei três marcas fortes de freadas no asfalto”, diz. Os agentes da Dict que estavam no local realizaram a perícia das marcas e elas foram incluídas no inquérito.JustiçaAriane afirma que acredita que a motorista estava acima da velocidade permitida. Ela afirma que toda a família espera ansiosa uma resposta da Justiça. “Tem gente que não entende o porque estou procurando Justiça. O estado que eu vi minha irmã e minha sobrinha foi monstruoso”, conta.Nos próximos dias a delegada deverá ouvir a condutora do veículo e junto com as outras provas confrontar o resultado da perícia que deve apontar a velocidade do carro na via, que tem limite de 60 quilômetros por hora (km/h). “Se for constatado que ela estava acima do limite o ato pode ser caracterizado como imprudência”, esclarece Maira. A condutora do VW Polo envolvido no acidente poderá responder por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar.