Atualizado às 20h47O aumento de demanda por testes do novo coronavírus do tipo RT-PCR superlotou três grandes laboratórios privados que abastecem hospitais, secretarias municipais e outros laboratórios de Goiás. Na última semana, as três unidades tiveram que “pisar no freio” e diminuir a quantidade de amostras que recebem por dia. Em dois casos, houve diminuição na quantidade de testes realizados por dia.Reportagem do POPULAR da edição da última quinta-feira (11) mostrou que essa diminuição no recebimento de amostras ocorreu no HLAGyn, laboratório que faz testes para a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia e outros mais de 20 municípios. Situação semelhante também ocorreu no Grupo Pardini, laboratório com sede em Belo Horizonte, representado em Goiás pelo Padrão, e DNA Gyn, que funciona na capital, com parceria entre o Aptah Biosciences e o Grupo Biovida. Estes testes são essenciais para alimentar as estatísticas e se ter uma noção real do avanço do vírus nos municípios e no Estado. Além disso, eles são importantes para decidir o destino de pacientes que estão internados. A Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) constatou o aumento no tempo para sair os resultados dos testes de Covid-19.“Demorava menos, ficava pronto entre 36 horas e 48 horas. Agora está levando até cinco dias. Isso atrapalha demais, porque você não sabe se mantém o paciente em isolamento, se manda ele para casa em observação”, explica o presidente da Ahpaceg, o médico Haikal Helou. De acordo com o ele, existem outras ferramentas para o diagnóstico, como a situação clínica do paciente e a tomografia de tórax, mas o definitivo é o teste laboratorial. LaboratóriosO laboratório DNA Gyn, parceria do Aptah com Grupo Biovida, fazia cerca de 600 testes por dia para Goiás e Distrito Federal, mas na última semana diminuiu sua capacidade à metade por falta de insumos. “A gente tinha tudo programado, mas o que a gente tem observado é que teve um aumento da demanda. Cliente que mandava 10 amostras, passou a mandar 50. A gente teve que reter e só receber casos de urgência. Não tinha insumos para atender a todo mundo”, explica o CEO da Aptah, Caio Bruno Quinta.Os preços inflacionados dos insumos para os testes PCR e a dificuldade de compras são problemas relatados em todo o País. “Tem que pagar adiantado com expectativa de receber, às vezes nem sabe quando. A gente tem que manter fluxo de caixa e toda uma logística para conseguir (insumos)”, explica Caio Bruno. Novos insumos chegaram no sábado e a situação do laboratório DNA Gyn deve ser normalizada com a ampliação da capacidade para 1,3 mil testes por dia, segundo o CEO.Já o Grupo Pardini, representado em Goiânia pelo laboratório Padrão, que faz exames de Covid-19 em todo o Brasil, teve que diminuir os cerca de 250 testes diários PCR que fazia em Goiás por conta de outra unidade da federação que aumentou muito a quantidade de amostras enviadas. O nome do Estado não foi revelado.“Houve um excesso de volume recebido atípico, que ultrapassou nossa capacidade produtiva e tivemos que limitar um pouco as coletas”, explica o vice-presidente do Grupo Pardini, Alessandro Ferreira. Segundo ele, há um prazo de validade da amostra e, além disso, o exame pode não ter eficiência se demorar muito para sair o resultado. A situação se normalizou nesta sexta-feira (12), segundo Alessandro.Alessandro Ferreira relata que no começo da pandemia, o Grupo Pardini realizava cerca de cem testes PCR de Covid-19 por dia para Goiás, mas este número teve um aumento de 150% nas duas últimas semanas. Além disso, ele relata que houve um aumento expressivo da porcentagem de testes que dão positivo em Goiás, passando de 10% para 19% de todos os exames feitos.Os testes de Covid-19 do Grupo Pardini representam uma fatia importante dos casos confirmados de Goiânia. Dos 3.022 casos confirmados do novo coronavírus na capital até a última quinta-feira (11), 798 foram testes do Grupo Pardini. Ou seja, 26,4% dos casos confirmados de Covid-19 na capital, segundo dados repassados por Alessandro.Além dos laboratórios privados citados até agora na reportagem, os testes RT-PCR de Covid-19 são feitos no Laboratório Estadual de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros (Lacen-GO), que mantém sua produção de cerca de 250 exames por dia. Testes PCR também são feitos pela Rede de Laboratórios de Campanha da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). GargaloRepresentantes do HLAGyn e do Grupo Pardini dizem que o grande gargalo do teste PCR é o kit de extração, tanto pela dificuldade de conseguir o insumo, como por conta do processo de extração ser mais demorado e precisar de mais cuidado, por ter risco de contaminação para o técnico que faz o procedimento. O gargalo mundial são os kits para extração de RNA. O mundo nunca fez tanto RT-PCR, tanta extração de RNA. É uma extração complexa. "Não é uma etapa que coloca amostra em um equipamento e entrega o resultado. São etapas, vai adicionando substratos, isolando material genético, são várias etapas”, explica Alessandro Ferreira, do Grupo Pardini.A professora Valéria Cristina de Rezende Feres, que atua na Rede de Laboratórios de Campanha da Universidade Federal de Goiás (UFG), explica que a extração é a etapa em que se isola o RNA do vírus da amostra que chega ao laboratório. “É a etapa de maior risco do RT-PCR, na qual a gente realmente tem que se equipar. É aí que pode contaminar”, avalia.Esse RNA do vírus isolado é que vai para a etapa de amplificação, na qual sai o resultado. Três laboratórios da UFG estão fazendo cerca de 350 testes PCR por dia, entre eles, parte da demanda da SMS de Goiânia, segundo Valéria Cristina.EsperaNo último domingo, Ygor Felipe Bispo Torres, de 24 anos, fez o teste RT-PCR na Unidade de Pronto-Atendimento Geraldo Magela, a UPA Flamboyant, em Aparecida de Goiânia. Ele teve contato com pessoas com o novo coronavírus no trabalho e começou sentir sintomas da doença na última quarta-feira (10).“Eu moro com minha avó, grupo de risco, por conta disso fico preocupado”, relata o jovem, que teve febre, dificuldade para respirar e coriza. “Eu sentia fadiga com qualquer esforço que fazia”, relata. O resultado deve sair em 24 horas ou até três dias. Enquanto isso, ele permanece em isolamento com os familiares sem ter a certeza de estar com a doença. Ampliação da capacidade depende de investimentosO aumento da capacidade para fazer mais testes RT-PCR em Goiás passa pela aquisição de mais máquinas e o desenvolvimento de novos tipos de exames. É o que explicam os profissionais da área ouvidos pela reportagem do POPULAR.A presidente do Sindicato dos Laboratórios de Análises e Banco de Sangue do Estado de Goiás (Sindilabs-GO), Christiane Maria do Valle Santos, sugere a importação de equipamento robotizado para que haja rapidez no processo, que ainda é muito manual.Para ela, é preciso esclarecer à população sobre a prevenção e quando se deve realizar o exame, monitorando os casos e dando incentivos aos laboratórios para o aumento de sua capacidade instalada com a aquisição de produtos, mão de obra e mais máquinas.O CEO da Aptah BioSciences, ligada ao laboratório DNA Gyn, Caio Bruno Quinta, conta que está sendo desenvolvido um novo tipo de teste rápido, baseado em um biossensor. "Estamos propondo um exame rápido, de baixo custo, com identificação do vírus (RNA) no início da contaminação e que pode ser feito de modo simplificado. Tudo isso permite a produção em grande escala, sem expor ninguém a riscos", explica. O exame tem resposta de no prazo máximo de uma hora. Os testes rápidos atuais utilizados em Goiás identificam os anticorpos. Este novo teste é uma parceria do Aptah com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Queda no número de exames pode ter afetado estatística de GoiâniaA queda no número de amostras recebidas e a diminuição na quantidade de testes diários em laboratórios privados podem ter influenciado as estatísticas de casos confirmados do novo coronavírus em Goiânia. A capital teve 743 novos infectados por Covid-19 na semana retrasada, entre os dias 31 de maio e 6 de junho, e 657 novos registros do tipo na semana passada, entre os dias 7 e 13 de junho, uma queda de 11%. “Existe a possibilidade dessa redução ser por causa da diminuição da testagem”, avalia o superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, Yves Mauro Fernandes Ternes. No entanto, ele pondera que a epidemia não é avaliada apenas pelo indicador teste laboratorial. “Tem outros indicadores que devem ser avaliados, como o número de internações por síndrome respiratória aguda grave (Srag), número de óbitos por Covid e casos suspeitos”, explica o gestor. De acordo com Yves, na SMS de Goiânia, os testes RT-PCR de Covid-19 são feitos apenas em pacientes com sintomas da doença, preferencialmente entre o terceiro e o sétimo dia depois dos primeiros sinais, que é quando há maior sensibilidade para o exame constatar a presença do vírus. “Deve-se ter uma triagem porque insumos laboratoriais são finitos. Estamos vivendo um momento de pandemia e é preciso testar quem precisa, para não faltar reagentes de laboratórios, entre outros produtos”, diz o superintendente. Já os testes rápidos de Covid-19 são feitos após oito dias de sintomas, para ter menos chance de dar resultado falso negativo. Normalmente, são usados para se fazer inquéritos e em profissionais de saúde e segurança pública.