Antes de ser morto supostamente tentando invadir uma residência em Buritinópolis, na noite de quarta-feira (2), o agente da Polícia Federal Lucas Valença, de 36 anos, conhecido nacionalmente como o “hipster da PF”, cuspiu no quintal da casa, disse que faria o desenho de uma cruz no local e mandou os moradores saírem de lá porque o capeta estava ali.Depoimento do casal que teria sido ameaçado por Valença aponta que ele ficou no local por vários minutos a partir de 23 horas até decidir invadir a residência, momento no qual teria sido atingido fatalmente por um tiro disparado pelo auxiliar de almoxarifado Marcony Pereira dos Anjos, de 29 anos. O caso ocorreu em um povoado de Buritinópolis, a 40 quilômetros da cidade. No boletim de ocorrência não consta o que o agente da PF fazia na região, mas os policiais militares afirmaram no documento que amigos e conhecidos disseram que ele estava em surto psicótico desde o dia anterior.Marcony afirmou na delegacia que estava deitado com a esposa e a filha de 3 anos de idade quando começou a ouvir os gritos do lado de fora, achando inicialmente se tratar de uma briga na rua. Porém, em seguida, ouviu um homem gritando: “Aparece aqui. Eu sei que tem gente aí dentro, se não eu vou fazer uma cruz e quem tá aí dentro tá no quadrado do capeta e eu vou cuspir aqui na área.”Após este alerta, Valença teria dito que sentaria fora da casa e se acalmou, chegando a pedir desculpas por ter cuspido no quintal. Minutos depois, quando passou um carro fazendo muito barulho, o agente da PF voltou a se agitar gritando contra o motorista e correndo atrás do veículo.O auxiliar diz que por 20 minutos ficou tudo em silêncio, chegando a cochilar com a esposa, uma dona de casa de 20 anos. Mas acabou acordando por ela por causa de um barulho de passos próximos à casa. Valença então voltou a gritar: “Se ninguém vai abrir a porta pra mim, eu vou arrebentar a porta e vou matar vocês tudo que tá aí dentro”, teria dito, segundo Marcony.O dono da casa deixou preparada uma arma que ele tinha há quatro anos, segundo ele uma espingarda de pressão modificada para calibre 22. Valença foi então em direção ao padrão de energia, arrancando o cadeado, quebrando o vidro e desligando a energia da casa. Em seguida, foi correndo em direção a uma porta, chutou-a e invadiu a casa. Marcony conta que ainda alertou o agente da PF dizendo que estava armado, mas Valença não teria dado atenção, indo em sua direção. Naquele momento, apenas uma luz fraca do poste iluminava o local. O auxiliar deu um disparo, atingindo o policial abaixo do peito.Em seu depoimento, o morador conta que Valença ainda conseguiu se deslocar para fora da casa, pedindo socorro, dizendo que era policial, antes de cair. O socorro médico, que saiu de Buritinópolis ao povoado junto com uma viatura da Polícia Militar, demorou cerca de 35 minutos e o agente morreu no local.Marcony chegou a ser preso em flagrante pelo porte de arma e foi solto após pagar uma fiança de R$ 2 mil.Valença ganhou destaque na mídia nacional após fazer a escolta do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, na prisão deste em 2016. Graças à fama, seu nome foi cogitado para campanha eleitoral em 2018 e 2020, sem vingar. Ele voltou a aparecer na mídia ao ser flagrado nas buscas por Lázaro Barbosa, no Entorno do Distrito Federal, em 2021.