Familiares de um paciente que está internado há 60 dias no Hospital Estadual de Urgências de Goiás Dr. Valdemiro Cruz (Hugo) denunciam dificuldades enfrentadas no hospital. O paciente, um homem de 45 anos, alega que há falta de insumos básicos para curativos, como esparadrapo, dificuldade de realização de cirurgias por falta de equipamentos e negligência no acompanhamento aos pacientes.O homem, que pediu para ter a identidade preservada. sofreu um acidente de moto no dia 22 de outubro, teve um deslocamento de medula óssea e precisou passar por uma cirurgia de emergência. Ele pode perder o movimento dos membros inferiores. Para dar conta dos cuidados necessários, a família decidiu contratar uma enfermeira particular, já que o paciente não pode ficar sozinho.Problema cirúrgicoO paciente contou ao POPULAR que precisou de um novo procedimento cirúrgico, após alguns dias de internação em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ele teve a cirurgia agendada, chegou a ser encaminhado para o centro cirúrgico, mas retornou ao leito por falta de equipamentos para operação de medula óssea. Após 12 dias, o procedimento foi realizado, segundo os familiares.A enfermeira contratada pela família disse que essa situação é comum no hospital. “Já acompanhei cinco ou seis pacientes que vão para o centro cirúrgico e voltam porque falta material”, conta. A cicatrização do corte da cirurgia, no entanto, não aconteceu da maneira correta e o paciente desenvolveu uma infecção bacteriana.A enfermeira afirma que o Hugo chegou a liberar o paciente para iniciar o processo de reabilitação. Diante do quadro clínico, a família decidiu permanecer no hospital. “Aquilo ali pode estar gerando uma colônia de bactérias, porque a gente não sabe o que é. Sai secreção purulenta, colocaram um dreno muito fino durante a cirurgia e parece que não tiraram”, explica a enfermeira. A equipe médica concluiu que a cirurgia precisa ser refeita para coleta de material e análise bacteriana.O paciente conta que tem medo da infecção na coluna evoluir para outras partes. “Eles estão postergando demais essa operação, foi uma falha deles. É uma porta aberta para contaminação. A gente não sabe o que faz para não virar uma contaminação geral que pode comprometer até minha vida por causa disso”, relatou.Leia também:- Sete pacientes são diagnosticados com superbactéria no Hugo, em GoiâniaAtendimentoA esposa do paciente, que também pediu para ter a identidade preservada, contou sobre a situação que tem vivido. “É tudo muito difícil. Parece que o atendimento diminuiu, nem a nutricionista que passava direto aqui está passando”. A mulher, que é técnica em enfermagem, disse que são servidas todas as seis refeições diárias e que não há falta de alimentação, mas que não há acompanhamento profissional.Diante da dificuldade em conseguir os materiais adequados para assepsia, a técnica em enfermagem disse que já tentou levar os insumos por conta própria, mas que o hospital não permite. “Já tentei trazer gases. Esparadrapo chegou a faltar. Eu pedi, as enfermeiras chefes falaram que estava chegando, mas não chegava”, relatou.A enfermeira da família conta que o acompanhamento é feito por um médico residente. "Desde que ele operou, eu não vi nenhuma vez o médico. Quem vem aqui é o médico assistente, que na verdade é um mensageiro. Tudo o que ele diz é 'vou passar para o meu chefe'", disse a enfermeira.Ela afirma ainda que essa situação está abalando psicologicamente o paciente. "Hoje eu senti ele entrar em desespero. Ele não se move, só move as mãos e o pescoço. De três dias pra cá a gente percebe que ele está desestabilizado, você não pode fazer nada", desabafa.Troca de comandoAtualmente a gestão do HUGO é terceirizada pela Organização Social (OS) Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde (INTS), que tem contrato previsto para se encerrar em 31 de dezembro deste ano. A entidade começou, no início do mês, o processo de transição para a nova gestão, que será assumida pelo Instituo CEM em primeiro de janeiro de 2022.Por meio de nota, o INTS negou que haja escassez de insumos básicos para assepsia. “O HUGO tem em seus estoques todos os medicamentos e materiais para profilaxia e curativos. As farmácias central e satélites são reabastecidas diariamente e o Centro Cirúrgico tem todos os insumos necessários”.Questionada sobre falta de equipamentos cirúrgicos, a OS também negou e disse que o hospital recebeu equipamentos “novos e ultramodernos” recentemente. O INTS afirma que a falta de próteses pode impossibilitar a realização dos procedimentos.“O que ocorre às vezes é que materiais como próteses e órteses não são adequadas para cada tipo de cirurgia e variam de paciente para paciente. Os cirurgiões preferem não realizar as cirurgias para não causar sequelas nos pacientes e é prudente que retornem para os leitos. Assim que são solucionados os problemas e repostos os materiais corretos as cirurgias são realizadas”, diz a nota.Sobre o atendimento médico, a entidade disse que o hospital dispõe de serviço de Ouvidoria que pode receber reclamações de possíveis negligências. “Pontualmente nomes de médicos e residentes que são demandados podem ser acompanhados caso a caso para garantir a excelência no atendimento”.Por fim, a Organização Social alegou que “mantém seu compromisso de gestão séria, proba e humanizada, não permitindo déficit na qualidade dos serviços nem do atendimento à população. Todas as demandas são atendidas e solucionadas.”