A área somada dos aglomerados subnormais de Goiânia, o que popularmente é chamado de favelas, já é equivalente aos setores Central e Aeroporto. De acordo com levantamento do projeto MapBiomas, as áreas ocupadas irregularmente por um conjunto de domicílios somam 496,18 hectares do território goianiense, enquanto que os setores mencionados, juntos, possuem 498,9 hectares. Esse espaço ocupado aumentou 9,84% nos últimos dez anos considerando o levantamento feito com base em imagens de satélites que verificou a evolução do crescimento urbano em locais carentes de serviços públicos essenciais, como saúde.Os números mostram uma ocupação que já é maior que o Setor Bueno, por exemplo, que possui uma área de 420 hectares e até mesmo que o Jardim América, que é o maior bairro da capital, com 455 hectares. O presidente da Central Única das Favelas em Goiás (Cufa-GO), Breno Cardoso, confirma a expansão dos locais chamados de favelas em Goiânia. Ele diz que isso ocorre tanto com a construção de mais domicílios, os chamados barracos, nos aglomerados já existentes anteriormente como com a criação de novos conjuntos, em diversas partes do município e da região metropolitana. “A maior parte é nos locais mais distantes do centro, que chamam de periféricos, mas também temos em áreas próximas dos bairros”, reforça.CritériosPara o levantamento e mapeamento das áreas, o MapBiomas levou em consideração os critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com relação aos aglomerados subnormais (AGSN) com os dados publicados em 2019. Os AGSN são caracterizados como “uma forma de ocupação irregular de terrenos de propriedade alheia – públicos ou privados – para fins de habitação em áreas urbanas e, em geral, caracterizados por um padrão urbanístico irregular, carência de serviços públicos essenciais e localização em áreas com restrição à ocupação”.Comumente, e a depender da região no Brasil, os AGSN são chamados de favelas, invasões, grotas, baixadas, comunidades, vilas, ressacas, loteamentos irregulares, mocambos e palafitas, entre outros. Cardoso conta que o termo “favela”, que é o mais conhecido, foi utilizado pela ocupação do Morro da Providência, no Rio de Janeiro (RJ), por combatentes da Guerra de Canudos que não receberam o benefício prometido pelo governo na época e então foram habitar o local.Eles plantaram uma favela, que é uma espécie de arbusto com espinhos, cuja árvore adulta mede entre cerca de 3 metros a 7 metros de altura, na entrada do aglomerado e o espaço passou a ser chamado pelo nome da vegetação. O nome se espalhou a partir da ocupação de outros morros na capital carioca. “Tudo parte do entendimento desse termo, mas muitas vezes não se baseiam no conceito do IBGE e sim no imaginário popular do que é favela, dos morros e locais inacessíveis, que ficou estigmatizado pela violência, presença de tráfico e crimes, mas a maior força de trabalho do País mora nesses lugares”, observa Cardoso.O aumento dos AGSN foi verificado em todo o País pelo MapBiomas a partir da estimativa das áreas urbanizadas, ou seja, aquelas ocupadas com densidade de vias, edificações e também de infraestrutura e com cobertura arbórea ou rasteira entre as edificações ou em pequenas praças, e o seu crescimento nos anos entre 1985 e 2021. Levando em conta todo este período analisado, o aumento verificado da área ocupada por favelas na capital chega a 68,65%, um incremento de 340 hectares de território.A coordenadora do mapeamento de Áreas Urbanizadas do MapBiomas, Mayumi Hirye, explica que o estudo não avaliou a qualidade dos perímetros delimitados pelo IBGE. “Assim, modificações recentes e situações não contempladas pelo IBGE não estão consideradas em nossos dados”, afirma. Os dados de 2019 do instituto, que foram os utilizados, mostram cerca de 90 áreas em Goiânia com um conjunto de domicílios irregulares, sendo 55 deles com mais de 51 residências, que é o critério adotado para ser considerado um AGSN. Em 2012, o órgão federal considerava a existência de apenas sete AGSN em Goiânia.Na época foram listados o Quebra Caixote, localizado nas margens da BR-153, entre o Setor Leste Universitário e a Vila Viana; a Vila Lobó, localizada no Jardim Goiás e normalmente identificada como Jardim Goiás Área I; o Jardim Botânico I e o Jardim Botânico II, que ficam às margens do Córrego Botafogo, no Setor Santo Antônio. O IBGE ainda identificava a região denominada Emílio Póvoa, no Setor Crimeia Leste, o Jardim Guanabara I, no Jardim Guanabara, e a Rocinha, que é conhecida como Antônio Fidélis, no Parque Amazônia, enquanto AGSN. Todos eles se mantêm na mesma situação e novos territórios foram acrescidos, como a Ocupação Emanueli, localizada no Jardim Novo Mundo. Ocupações têm dificuldade de acesso a serviçosO presidente da Central Única das Favelas de Goiás (Cufa-GO), Breno Cardoso, afirma que o principal problema nos aglomerados subnormais (AGSN) das cidades, que são comumente chamados de favelas, é a dificuldade de acessos a serviços, não só em relação ao transporte. “Mesmo aqueles que são mais próximos dos bairros e do centro possuem essa dificuldade, mantêm essa carência. Claro que em alguns ainda há a falta de asfalto, de luz, de água ou outra coisa, mas mesmo nestes do lado dos bairros possuem a carência”, diz. São questões como a falta de oportunidade de participação de serviços públicos, por exemplo, pela moradia irregular.Um dos exemplos é a falta de lazer para os moradores, já que são lugares sem praças ou quadras esportivas, o que difere da situação de favelas do Rio de Janeiro, por exemplo, em que os moradores podem acessar as praias. Cardoso reforça ainda que, nos últimos anos, o aumento das favelas em Goiânia foi vista também em decorrência da migração de classes socioeconômicas para baixo. “Mais pessoas perderam os empregos, mais pessoas com dificuldade para pagar o aluguel e aí vai morar nesses locais. Nós percebemos pelos relatos das lideranças, que é com quem nós trabalhamos diretamente, esse aumento”, diz. No entanto, ele ressalta que isso não tem causado problemas nos aglomerados, até mesmo pelo princípio nos locais de que as pessoas vão se ajudar. Isto ocorre também porque as pessoas escolhem ir para lugares em que conhecem algum morador, até mesmo para negociar o aluguel de algum barraco ou espaço, ou permanecer na região em que já moravam anteriormente, em alguma ocupação próxima. “Não existe uma regra, mas normalmente as pessoas vão a lugares mais periféricos mesmo, mas temos ocupações em regiões centrais também”, diz Cardoso. Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2021, há 13.013 domicílios nos 55 AGSN da capital, o que corresponde a 2,47% do total de residências de Goiânia. Para se ter uma ideia, em 2012 esse número era de apenas 0,25% de todas as casas e apartamentos, ou seja, havia 1.066 domicílios nos sete AGSN verificados. Com relação ao território, a área dos AGSN de 496 hectares corresponde a 1,73% de toda a área urbanizada da cidade. Há dez anos, essa relação chegava a 1,56% e em 1985 era de 1,25%.Com relação à situação dos AGSN em Goiânia e quais as políticas públicas estão sendo realizadas ou planejadas para a regularização dos domicílios ou retirada das famílias, a reportagem enviou questionamentos à Secretaria Municipal de Planejamento e Habitação (Seplanh) na última quinta-feira (10), mas não recebeu as respostas até o fechamento desta edição. Mas há pelo menos 10 anos há o conhecimento da existência de ao menos sete AGSN na cidade, como a região chamada de Emílio Póvoa, entre a Marginal Botafogo e a Avenida Goiás Norte.Goiânia é a 5ª capital que menos expandiu aglomerados subnormaisDe acordo com o levantamento do projeto MapBiomas com relação à área ocupada pelos aglomerados subnormais (AGSN) nos municípios brasileiros, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Goiânia está entre as capitais brasileiras que menos tiveram expansão das área analisadas. Em um ranqueamento, a capital goiana seria a quinta que menos cresceu de 1985 a 2021 no quesito, com uma expansão de 340 hectares. A liderança é de Vitória (ES), com expansão de 171 hectares na área somada dos AGSN no período citado, seguida de Campo Grande (MS), Florianópolis (SC) e Boa Vista (RR). Por outro lado, Manaus (AM) foi a cidade onde as favelas tiveram maior expansão, com 6692 hectares a mais, em seguida está São Paulo (SP), com 3509.O estudo do MapBiomas mostra ainda que 29 cidades de Goiás apresentam alguma porção do território com domicílios em aglomerados subnormais. Em 18 delas, a situação dos conjuntos de casas considerados irregulares nos municípios praticamente não ocorria no início do período analisado, de 1985 a 2021. Goiânia é a cidade que possui maior área somado de AGSN e ainda com maior expansão neste tempo. O segundo município de Goiás com mais áreas de favelas é Luziânia, no Entorno do Distrito Federal, que possui 229 hectares, tendo uma expansão de 171 hectares nos últimos 36 anos, mas em situação estabilizado na última década, sem crescimento acima de um hectare. Em Planaltina, na mesma região, os aglomerados somam 169 hectares, sendo 100 desde 2012.Leia também: - Alerta de chuvas intensas é emitido para Goiás neste final de semana- Enem mobiliza mais de 138 mil estudantes em Goiás