A quantidade de feminicídios em Goiás aumentou 121,4% quando comparados os primeiros semestres de 2019 e 2022. O número saltou de 14 para 31. Quando comparado o mesmo período de 2021 e 2022, o aumento foi de 34,8%, colocando Goiás como o sétimo estado com o maior crescimento do Brasil. Os dados são do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).Especialistas afirmam que a pandemia da Covid-19 teve influência nas mortes, já que muitas vítimas passaram mais tempo em casa com os agressores.A tendência de crescimento nos feminicídios em Goiás acontece, pelo menos, desde 2021. No ano passado, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022, foram registrados 54 casos do tipo, número 22,7% maior que os 44 de 2020. No mesmo período, as tentativas de feminicídio também cresceram, saindo de 123 para 138. “É o reflexo máximo da violência sistêmica que as mulheres enfrentam diariamente em todos os espaços”, pondera Eline Jonas, socióloga e membro da União Brasileira de Mulheres (UBM).No Brasil, em 2021, 81,7% dos feminicídios foram praticados por companheiros e ex-companheiros. Eline aponta que o contexto da pandemia da Covid-19, no qual as pessoas ficaram mais em casa, contribuiu para o aumento dos números. Posteriormente, o cenário de dependência da mulher em relação a esses homens também teve influência. “Elas estavam, literalmente, presas com os seus agressores. Isso também teve impacto nos números de 2022”, explica Eline.Leia também:- Homem suspeito de forjar suicídio da esposa é indiciado por feminicídio e fraude, em Minaçu- Enfermeira é atropelada e arrastada ao tentar impedir homem de agredir mulher e criança, em Goiânia- Homem é preso em Itaguaru suspeito de importunação sexual contra mãe idosaA presidente do Centro de Valorização da Mulher (Cevam) em Goiás, Carla Monteiro, conta que a procura pelos serviços da organização sem fins lucrativos aumentou em 2022. Atualmente, o local oferece apoio psicológico e jurídico, capacitação profissional e assistência social para 42 mulheres. Outras dez moram temporariamente no local, sendo que três delas estão no Cevam por correrem risco de morte. “Eu poderia chegar a até 30 acolhidas, caso tivéssemos o apoio financeiro necessário. A demanda é gigante.”Carla esclarece que uma das missões do Cevam é empoderar as mulheres. “Muitas chegam aqui sem ao menos entender que estão sendo vítimas de violência. Temos de ir desconstruindo este olhar. Este tipo de situação acontece porque esses homens se acham no direito de fazer isto. Eles veem as mulheres como uma propriedade e quando não podem tê-las por algum motivo, as matam”, destaca. No momento, acontece a campanha de 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres. Ela é anual e vai de 25 de novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, e vai até 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos.Além do apoio às mulheres violentadas, Eline destaca que é importante promover um trabalho de educação em gênero para que a violência contra a mulher não seja vista como algo natural. “Ele deve ser feito de forma intensa nas escolas. Além disto, precisamos de mais mulheres ocupando cargos políticos para termos mais políticas públicas nesta área. As atuais são insuficientes”, aponta. A socióloga acredita que estas medidas têm de ser acompanhadas da punição exemplar das pessoas que cometem esses crimes.PrevençãoEm nota, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Seds) informou que as ações e projetos do governo estadual para combate e prevenção à violência contra a mulher foram sistematizadas dentro do Pacto Goiano Todos Por Elas, que oferece atendimentos às vítimas pelo Centro de Referência Estadual da Igualdade (Crei), que oferece acolhimento, acompanhamento psicológico, assistência jurídica, abrigo seguro para mulheres em situações de risco, encaminhamento para cursos de qualificação profissional e vagas de emprego.A pasta comunicou que quando há interesse por parte da mulher, faz o encaminhamento para casas da acolhida municipais ou hospedagem em hotéis de redes parceiras do estado, promove campanhas de incentivo a denúncias e capacita profissionais e servidores da Educação para que eles possam identificar casos de violência no ambiente familiar e fazerem os devidos encaminhamentos. Além disso, elas têm “acesso ao Programa Crédito Social, que repassa até R$ 5 mil para mulheres em vulnerabilidade, vítimas de violência, que passaram por um curso de qualificação profissional e desejam iniciar um pequeno negócio para garantir autonomia financeira.”Em parceria com a Secretaria de Estado de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO), a Seds implementou as Salas Lilás, um espaço separado para o atendimento de vítimas de violência. A pasta também promove capacitação dos profissionais da área para que as mulheres violentadas possam ser acolhidas de maneira adequada. PuniçãoEm nota, a SSP-GO informou que “o crime de feminicídio é uma qualificadora do crime de homicídio que requer a condição da violência doméstica ou o menosprezo ou discriminação à condição de mulher para que seja caracterizado” e que, por isto, “é possível que os dados hoje registrados como feminicídio possam mudar a natureza com o andamento das investigações, haja vista que o registro da ocorrência leva em consideração a verificação prévia do ato e ao longo das diligências policiais a serem realizadas no bojo do inquérito policial para confirmação de tal, os critérios específicos exigidos pela qualificadora podem não ser comprovados.”A pasta também comunicou que somente em 2022, até novembro, o Batalhão Maria da Penha fez 3,2 mil acompanhamentos presenciais e 11,2 mil acompanhamentos remotos de medidas protetivas de urgência, e 2,8 mil recebimentos de medidas protetivas de urgência. Além disso, o batalhão faz visitas comunitárias rotineiras às vítimas.Já a Polícia Civil, no mesmo período, realizou 417 operações de combate a violência contra mulher, resultando em 315 prisões e 87 mandados de busca e apreensão. Somente a 1ª Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Goiânia fez a lavratura de 741 autos de prisão em flagrante, instaurou 2,7 mil e concluiu outros 1,7 mil, que foram remetidos ao Judiciário.Além disso, foram promovidas operações policiais como, por exemplo, a Operação Sem Palavras, feita pela 1ª Deam de Goiânia. Ela consistiu na oitiva de cem investigados durante a última semana do mês de maio deste ano. A Operação Resguardo, realizada pela mesma delegada, entre 7 de fevereiro e 8 de março, resultou em 290 inquéritos instaurados, 350 inquéritos concluídos, 793 vítimas atendidas, 264 medidas protetivas solicitadas, 11 mandados de prisão cumpridos e 86 autos de prisão em flagrante lavrados.No interior, a Deam de Anápolis indiciou 849 pessoas e efetuou 11 cumprimentos de mandado de prisão por crimes de violência contra a mulher e a Deam de Águas Lindas, somente em 2022, indiciou 1,6 mil pessoas por crimes de violência doméstica.-Imagem (1.2575250)