Somente a proibição do carnaval de rua não é suficiente para evitar o aumento da disseminação da Covid-19. É o que apontam especialistas. De acordo com eles, mesmo com o limite de público, dificilmente os protocolos sanitários serão totalmente respeitados em eventos privados, sejam eles em locais fechados ou ao ar livre.O último fim de semana em Goiânia foi marcado por dois grandes eventos pré-carnaval: Sunset do Mada, no Puxadinho, no Setor Urias Magalhães, e o Blokinho Aê, na Pecuária de Goiânia, no Negrão de Lima. Ambos no sábado (19), um dia após o decreto municipal que alterou as permissões para manifestações de pré-carnaval.Fotos dos eventos, que circulam nas redes sociais, mostram um grande número de pessoas aglomeradas e sem máscara nos locais. “O ideal seria proibir. Se for liberar, o melhor é exigir o comprovante de vacinação”, diz o infectologista Julival Ribeiro. Em Goiânia, é necessário apresentar o certificado de vacinação ou o teste negativo para a doença, realizado até 48 horas antes do evento.O infectologista Marcelo Daher aponta que em um contexto de pandemia, a proibição deve ser geral, justamente por conta da dificuldade de os protocolos serem respeitados neste tipo de evento. “Ou o município entende que agora é hora de conviver com a doença e partir daí vai voltar tudo como era antes ou então os cuidados se mantêm. Caso opte pelo primeiro caminho, as pessoas que são do grupo de risco que resolverem ir (em festas), também têm de assumir uma responsabilidade”, argumenta.O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou nesta segunda-feira (21) que vai retirar todas as restrições ainda em vigor para conter a Covid-19 na Inglaterra, adotando uma estratégia batizada como “convivendo com a Covid”. ““Eu esperaria passar o carnaval, com proibições, para fazer essa transição”, aponta Daher.Na quinta-feira (17), o prefeito Rogério Cruz (Republicanos) havia assinado o Decreto nº 7.743, cujas restrições abrangiam todos os eventos relacionados a festas em locais públicos ou privados, realizados em ambientes abertos e fechados. Um dia depois, a retificação foi publicada e manteve a proibição apenas de manifestações em ambientes públicos.De acordo com a Prefeitura, a mudança permite a realização de eventos privados com a participação de até 3 mil pessoas, desde que atendam às normas sanitárias impostas pelo município. Os eventos, exceto o carnaval de rua, seguem, portanto, as mesmas regras já em uso para shows e casamentos, por exemplo, que foram liberados em outubro de 2021.Em ambientes fechados, o limite é de 2 mil pessoas, e 3 mil em ambientes abertos, sendo que em ambas as situações, é preciso considerar o tamanho do espaço a fim de que seja garantido um distanciamento seguro entre as pessoas.Em entrevista à rádio CBN na tarde desta segunda-feira (21), o prefeito explicou que os eventos de rua não foram permitidos, pois eles são mais difíceis de serem administrados. “Apenas em locais controlados e seguindo as regras sanitárias”, enfatizou Cruz. De acordo com ele, a Prefeitura também tem o intuito de evitar que a circulação de pessoas aumente.A assessoria de imprensa do Puxadinho, que promoveu a Sunset do Mada, informou que o evento funcionou conforme o protocolo exigido pela Prefeitura. A reportagem entrou em contato com a assessoria do Blokinho Aê, mas não obteve nenhuma resposta sobre o assunto.O POPULAR questionou a Secretaria de Planejamento Urbano de Goiânia (Seplahn) sobre quantos eventos foram fiscalizados no último fim de semana e se algum deles apresentou algum tipo de irregularidade. Entretanto, até o fechamento desta reportagem não houve resposta.Dias de folia devem gerar aumento de casos da CovidAutoridades e especialistas acreditam que as festas de carnaval devem gerar um aumento de casos da Covid-19 em Goiás nos próximos dias, especialmente por conta da circulação da variante ômicron, que é altamente transmissível. O infectologista Marcelo Daher aponta que os casos da Covid-19 vão ter um aumento considerável depois do feriado. “Com certeza teremos uma explosão de casos novamente.” Na última semana, a superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), Flúvia Amorim, já havia alertado para a possibilidade de um repique de casos depois do feriado. “Infelizmente, isso pode acontecer 15 dias após o carnaval. Mas esperamos um repique menor, menos expressivo do que a gente viu nos meses de janeiro e fevereiro”, disse. Nos próximos dias, bares e boates de Goiânia contaram com programação diferenciada por conta do carnaval. No interior, assim como na capital, a maioria das cidades também proibiu o carnaval de rua. Entretanto, municípios como Anápolis e Caldas Novas irão ter grandes eventos privados que irão durar vários dias e receberão shows de grandes nomes da música nacional.De acordo com o infectologista Julival Ribeiro, a grande preocupação em relação ao aumento de casos da doença gira em torno da pressão que o sistema de saúde pode sofrer. “O nosso grande medo é que tenhamos um comprometimento na ocupação dos leitos hospitalares”, afirma.Em Goiás, de acordo com o boletim integrado da SES-GO, a ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do estado estava em 67,67% e do município de Goiânia em 75,79%. -Imagem (1.2406885)