O incêndio que atinge a região da Chapada dos Veadeiros desde o último dia 12 já destruiu 36 mil hectares de vegetação, área que corresponde a 1,7 mil vezes à do Parque Areião, uma das áreas verdes mais conhecidas de Goiânia. Mesmo com mais de 200 pessoas atuando no controle das chamas, ainda não há estimativa de quando o serviço será finalizado. De acordo com Dias, capitão do Corpo de Bombeiros responsável pela operação, o combate ao fogo é dificultado pelo relevo acidentado somado ao calor e à altitude. “Aqui nós estamos a 1,6 mil metros do nível do mar e venta muito”, explica Dias, sobre os fatores que comprometem o trabalho. Além dos Bombeiros, brigadistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), além de voluntários, atuam na missão. No solo, os brigadistas trabalham com sopradores, abafadores e bombas d’água. No ar, três aviões chegam às regiões mais inacessíveis.Metade da área afetada está dentro do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. São cerca de 18 mil hectares da reserva ambiental, que abriga animais e plantas típicas do Cerrado (veja quadro). Até o momento, o incêndio não supera outro registrado em 2017, quando 35 mil hectares do parque foram destruídos. O local segue aberto para visitação, porque, segundo o ICMBio, a área do incêndio fica distante dos atrativos turísticos.Sem perspectiva de controle, o incêndio pode seguir queimando a vegetação por muitos dias, explica o capitão do Corpo de Bombeiros. “Se o fogo tivesse caminhando para um lugar que nós sabemos que ele vai ancorar em um rio, por exemplo, dava para estimar, mas não é o caso. Pode durar até chover. É imprevisível”, explica Dias. A pandemia de Covid-19 é mais um fator que dificulta o trabalho dos brigadistas. Até o momento, entre 40 testes realizados, 16 deram positivo para o coronavírus. Os profissionais foram afastados para acompanhamento.O capitão diz que, diante das dificuldades, dividiu o trabalho em duas partes. Após o incêndio atingir dez casas na área rural, parte da equipe está de prontidão perto da área de residências, para garantir a segurança da população. Sobre a capacidade de recomposição da vegetação, Dias considera que a maior parte das espécies de plantas conseguirá se manter viva. “A vegetação mais sensível não se recupera. Agora, o capim nativo e os coqueirinhos de ema, por exemplo, conseguem se recompor”, acrescenta o militar. InvestigaçãoA Polícia Civil ainda investiga a origem do incêndio. O capitão Dias lembra que provocar incêndios é ilegal mesmo em área privada. “Não importa se colocado de forma acidental ou proposital, se enquadram como o mesmo crime”, pontua Dias. DecretosDiante da crise, os municípios de Alto Paraíso e Cavalcante decretaram estado de emergência ambiental. Os decretos buscam viabilizar recursos para reforçar o combate ao incêndio, além de possível socorro econômico para a população que vive, quase unicamente, do turismo. Os decretos dispensam licitações para contratos de “aquisição de bens necessários às atividades de resposta ao desastre, de prestação de serviços e de obras relacionadas com a reabilitação dos cenários dos desastres”.O prefeito de Cavalcante, Vilmar Kalunga (PSB), diz que o incêndio frustra a expectativa dos moradores de recuperarem a economia após a pandemia. “Com esse fogo, as pessoas não vão querer vir para cá”, reclama Vilmar.Turistas cancelam reservas em pousadas Os incêndios na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, completaram 12 dias nesta quinta-feira (23). Os desafios para combater o fogo permanecem e empresários passam por cancelamento de reservas.Recepcionista da Pousada Vila Toá, localizada em Alto Paraíso de Goiás, Arthur Bastos diz que, por causa dos incêndios, os hóspedes estão desmarcando. “As pessoas acham que toda a Chapada está pegando fogo. Mas os atrativos da cidade continuam. Eu cancelei três reservas essa semana”, afirma. Arthur ainda relata que, como as pessoas estão de férias ou recesso, elas só podem ir para a Chapada dos Veadeiros nessa época do ano, assim a solicitação dos cancelamentos é por reembolso.A mesma situação está ocorrendo na Casa da Lua Pousada. A recepcionista Jaciara Alves conta que até a semana passada as reservas estavam sendo realizadas normalmente. “Só nesta quinta-feira (23) foram dois cancelamentos. As pessoas ficam assustadas com o que está ocorrendo, mas as cachoeiras estão abertas”, afirma. (Joyce Vilela Merhi é estagiária do convênio GJC/PUC-GO)Terra Ronca também sofre com incêndiosO combate ao incêndio no Parque Estadual de Terra Ronca, em São Domingos, entrou no nono dia, nesta quinta-feira (23). O parque é composto por grutas e cavernas e tem 57 mil hectares. Mais de 8 mil hectares de vegetação já foram consumidos pelas chamas. Segundo o Corpo de Bombeiros, as chamas tiveram início na última quarta-feira (16). Desde então, militares, servidores da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (Semad Goiás) e Brigada Aliança da Terra combatem as chamas. Segundo o sargento Rafael Ângelo Dultra Sant’Ana, da 10ª Companhia Independente Bombeiro Militar, em Posse, imagens de satélite identificaram um grande foco na região das Veredas indo em direção ao Centro do Parque.O militar explicou ainda que os bombeiros e servidores da Semad monitoram para que as chamas não ultrapassem a GO-108 e atinjam o Cerrado. A força-tarefa é composta por 30 pessoas. De acordo com a corporação, as altas temperaturas, o clima seco e os ventos dificultam o trabalho.-Imagem (1.2325339)