A idade média da frota brasileira de caminhões, que era de 10 anos e meio em 2017, já subiu para quase 12 anos em 2021. Entretanto, levamento da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) mostra que, considerando apenas os veículos dirigidos por profissionais autônomos, que respondem por 68% das cargas transportadas no País, a idade média da frota já chega aos 16,3 anos. Os caminhoneiros alegam dificuldades financeiras para trocar seus caminhões por modelos mais novos, principalmente por causa do alto preço do diesel e baixo valor dos fretes. Por isto, para tentar incentivar a renovação, o governo federal criou o Programa de Aumento da Produtividade da Frota Rodoviária no País (Renovar). O objetivo seria reduzir os custos da logística, aumentar a produtividade, a competitividade e a eficiência do transporte rodoviário. No primeiro momento, o programa promoverá a recompra do caminhão a ser sucateado e o caminhoneiro receberá o valor de mercado do veículo. Mas o presidente Jair Bolsonaro vetou três trechos da lei, como um que previa condições favorecidas na taxa de juros.Para o presidente do Sindicato do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas (Sinditac), Vantuir José Rodrigues, a alta de boas condições de crédito é justamente a maior dificuldade para renovação da frota, num momento de baixa remuneração para a categoria. “Hoje, 68% do transporte de cargas no País é feito por caminhoneiros que estão com seus caminhões sucateados”, destaca. Segundo ele, os autônomos precisam das mesmas condições favorecidas de crédito que os empresários do agronegócio têm hoje, por exemplo.Vantuir alega que os caminhoneiros autônomos não estão conseguindo dar a manutenção mínima em seus veículos por falta de uma remuneração adequada. “Já vi caminhões parados na estrada por falta de óleo porque o proprietário não tinha condições de fazer a troca. A situação hoje é caótica para nossa categoria. O governo atual só ajudou os grandes empresários que já têm muito dinheiro”, afirma. Leia também:- Goiás tem 1,3 milhão de carros a mais do que motoristas- STF invalida lei de Goiás que regulamenta profissão de despachante- Nerópolis é segunda cidade com meia-tarifa no transporte coletivoPara ele, a renovação da frota só será possível com a concessão de um crédito subsidiado, com juros reduzidos e facilidade para pagamento. Por isso, o programa Ronavar, da forma como está hoje, ainda não atende as demandas da categoria. SegurançaDe acordo com dados da Secretaria Nacional de Trânsito, do Ministério da Infraestrutura, dos mais de 3,5 milhões de caminhões em circulação no Brasil, cerca de 26% já têm mais de 30 anos de fabricação. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) já informou que metade dos acidentes registrados nas estradas federais envolvem veículos mais antigos. A necessidade mais frequente de manutenção também reduz a produtividade e aumenta os custos para o proprietário do caminhão.O Renovar também visa reduzir a poluição provocada por veículos mais antigos. Luiz Mauro de Castro Santana Alvarenga, diretor da Águia Diesel, empresa do segmento de reparação de sistemas de injeção aplicados em veículos diesel, lembra que, ao adquirirem veículos mais novos, os caminhoneiros contam com novas tecnologias que, além dos aspectos ambientais, como a redução da emissão de gases poluentes, trazem maior conforto e segurança.Veículos novos também possibilitam uma gestão do veículo através de diagnósticos de falhas e defeitos que reduzem custos com manutenção e contribuem para diminuir o consumo de combustíveis. “Isso melhora os resultados financeiros tanto para empresas do ramo quanto para o caminhoneiro autônomo”, alerta Luiz Mauro.Ele lembra que a manutenção preventiva quase que diária também é muito importante para uma vida útil maior e mais rentável, como a substituição de filtros e trocas de óleo dentro dos prazos estabelecidos pelos fabricantes. E a medida também ajuda no controle da média de consumo de combustível e na redução de gastos desnecessários com a substituição precoce de peças.Luiz Mauro ressalta que estes gastos altos também acabam impedindo a troca por um caminhão novo. “Uma das maiores dificuldades atuais da categoria é o alto preço do diesel e o valor muito oscilante do frete no mercado. Só o diesel já representa mais de 50% do custo de operação do caminhão”, acredita.O Renovar também prevê o perdão de alguns débitos dos bens cuja baixa definitiva de registro seja solicitada no âmbito do programa, desde que sejam inferiores a R$ 5 mil. Mas a categoria acredita que é preciso mais incentivo.Proprietário de um caminhão fabricado em 1982, Varcilei Antônio Buraneli concorda que o alto preço do diesel e o baixo preço do frete dificultam a adesão ao financiamento de um veículo mais novo. “Estamos cobrando barato pelo frete para conseguir pegar o serviço, por isso nosso ganho hoje é baixo e temos medo de fazer este compromisso”, justifica.Varcilei acredita que uma troca só seria viável se o preço do caminhão ficasse mais em conta e se as condições do financiamento fossem bastante favoráveis, com juros e um valor da prestação mais baixos. “Se pelo menos o combustível estivesse mais barato e o preço do frete mais alto e mais estável, nos ajudaria mais a fazer um compromisso como este”, avalia.-Imagem (1.2569224)