Presentes em todas as regiões da região metropolitana de Goiânia, os ginásios de esportes pertencentes ao governo estadual sofrem com sinais de abandono. Com as tutelas divididas entre o Estado e entidades, a minoria das estruturas está em pleno funcionamento. A principal dificuldade, conforme apontam gestores, seriam as características ultrapassadas dos prédios, mesmo que nenhum tenha mais de 40 anos. Abertos ou não, os locais são sinônimos de insegurança para suas comunidades vizinhas.Os dados da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer (SEL) indicam que o Estado tem 160 ginásios espalhados entre diversos municípios. A maioria foi construída nas décadas de 1980 e 1990. Na última atualização disponível, do ano de 2018, 100 já haviam sido transferidos, sendo 49 doados de forma definitiva para prefeituras e 51 repassados por meio de cessão de uso para entidades sem fins lucrativos.Em Goiânia são 16 ginásios e em Aparecida 6. Entre os da capital, nove são geridos por entidades e os outros sete são mantidos pelo Estado. Daqueles sob responsabilidade do poder público, nenhum está em pleno funcionamento. De acordo com o titular da SEL, Henderson Rodrigues, a gestão está colocando em prática um plano de reforma dos locais, mas reconhece dificuldades.RealidadeImponente visualmente, a estrutura do Ginásio do Setor Pedro Ludovico, na região Sul da capital, segue o padrão dos demais ginásios.Coberto por telhas de zinco, que nas laterais são pintadas de azul, o local está envolto de lixo, mato e pichações. Ainda pela parte de fora é possível ver janelas quebradas e, na parte de dentro, o piso coberto por penas e fezes de pombos, os únicos que frequentam a área interna nos últimos anos.A servidora pública Caroline Marina, de 29 anos, mora em frente ao ginásio do Pedro Ludovico. Ter a estrutura como vizinha se tornou sinônimo de problemas. Há mais de dois anos ela não vê atividades sendo realizadas na parte interna do ginásio. O lado externo virou ponto de descarte de lixo. À noite os problemas são ainda piores.“Retiraram os relógios de energia e não ligam as luzes. Fica extremamente escuro”, diz Carolina. Com a marginalização do local, virou rotina observar, em frente sua casa, a presença de usuários de drogas. “Cansei de colocar meu filho na rede na área de casa e do outro lado ver gente usando crack. Fazer o quê?”, reclama.No ginásio do Capuava, bairro da região Oeste de Goiânia, a degradação é ainda mais visível. Faltam telhas na cobertura. O comerciante Waldir Gomes, de 66 anos, tem uma lanchonete em frente ao espaço. Ele diz que o ginásio tem história de eventos esportivos e religiosos. “As igrejas usavam e os times do bairro também, mas ficou no passado”, diz Waldir, que afirma não se recordar de quando viu o ginásio sendo usado pela última vez.Em outro endereço, o ginásio do Setor Sudoeste, na região Sudoeste, é cercado por escolas e creches. Quem passa pela entrada principal pode ter a impressão de que o local está em funcionamento, já que a pintura está preservada e não há acúmulo de lixo e mato. Mas é um engano, afirma o autônomo Rafael Rodrigues, de 32 anos. Morador do bairro, o autônomo diz que o local não recebe jogos ou eventos desde o início da pandemia de Covid-19.“Durante o dia os moradores não têm medo, mas quando começa a escurecer ninguém passa perto. Com essa quantidade de escolas ao redor, a gente sempre pensa no risco de uma criança passar lá por perto e alguém puxar”, diz sobre o medo de insegurança, já que na parte de trás do ginásio a porta está arrombada e é acessada por usuários de drogas e pessoas em situação de rua.Mesmo quando os ginásios estão em área de grande movimento e comércio, como no caso do Parque Atheneu, ainda assim os moradores reclamam de insegurança. O ginásio do bairro fica em uma avenida de comércios e está sendo usado para práticas esportivas regularmente. “Seis da tarde eu já não passo mais na porta”, afirma uma vendedora de uma loja de açaí próxima do ginásio.EntidadesNos locais administrados por contratos de concessão de uso, alguns dos problemas persistem. No Ginásio de Campinas, por exemplo, que é gerido pela Federação Goiana de Futebol (FGF), a estrutura interna recebeu investimento de R$ 120 mil e hoje tem rotina constante de atividades esportivas. Do lado externo, porém, os moradores seguem encarando a insegurança durante a noite.O Ginásio do Balneário Meia Ponte é gerido pela Federação de Capoeira de Goiás (FCG) e enfrenta outro tipo de problema. O presidente da FCG, João Pereira, conhecido como Mestre Pança, diz que o quadro geral mudou completamente após assumir a gestão, há oito anos. “Passar próximo era algo impossível mesmo de dia. Do lado de dentro os vasos sanitários todos quebrados, a marginalidade muito intensa”, afirma Mestre Pança.Atualmente o espaço conta com rotina de iniciação esportiva durante o dia e com uso da comunidade em geral durante a noite. A chegada da pandemia de Covid-19, porém, dificultou a saúde financeira do espaço. A principal renda para a manutenção vinha de taxas pagas em torneios de capoeira e dos grupos que usam o ginásio à noite. A iniciação esportiva é gratuita, demandando reformas e reparos constantes.“Nós não damos conta de fazer tudo. Mesmo com contrato de comodato eu acho que tem que ter ajuda do Estado. Não precisa ser financeira, mas um apoio moral. Até do município, que não faz parte das atividades, mas porque nós recebemos muitas crianças que são de responsabilidade do município”, diz Mestre Pança, que cita a necessidade de aumento de monitores e a possibilidade de ajuda com materiais esportivos.Acessibilidade seria desafioO titular da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer (SEL), Henderson Rodrigues, diz que as principais dificuldades em conseguir reformar os ginásios vêm de como eles foram construídos. Segundo o gestor, as estruturas estão obsoletas com relação a protocolos estruturais e de vigilância sanitária. Mesmo assim, o secretário garante que as adaptações não são impossíveis, mas que têm custos elevados para a administração. “O importante de ser ressaltado é que nenhum desses ginásios teve a condição de acessibilidade. Na época não existia protocolo sobre isso. Os cadeirantes não entravam”, aponta o Rodrigues. Segundo o gestor, o paradesporto irá ganhar prioridade nas reformas dos ginásios, com expectativa de que o do Capuava seja o primeiro a ser transformado em local acessível. Sobre a necessidade de adaptação dos espaços para se tornarem acessíveis, o presidente da FCG, que faz a gestão do ginásio do Balneário Meia Ponte, diz que os contratos de uso não permitem modificações, mas reconhece a necessidade. “Se fizermos também seria muito oneroso, porque é claro que não pode ser feito de qualquer forma, é preciso um projeto que atenda ao que é recomendado atualmente”, argumenta. O secretário Rodrigues antecipou previsão para reformas na Vila Pedroso e a previsão de entrega dos ginásios do Jardim América e da Vila Brasília, todos para este semestre. Já para as estruturas do Pedro Ludovico, Urias e Parque Atheneu, não há estimativa, mas a gestão diz estar fazendo orçamentos. Em Aparecida, além do ginásio da Vila Brasília, os do Garavelo, Independência e Cruzeiro do Sul devem receber reformas em 2022. “Quando você tem um ginásio em funcionamento, além de ajudar a recreação dos moradores das redondezas, gera movimentação e até segurança”, diz Rodrigues.Transferência pode ajudar na manutenção de espaçosApesar de apontar dificuldades no dia a dia, o presidente da FCG diz que a transferência da gestão dos ginásios do Estado para entidades se mostra o melhor caminho. “A administração pública vai diminuir a despesa. Aqui no ginásio tinha que ter dois professores por turno, um guarda, um faxineiro, fora o dinheiro de manutenção e material, por exemplo. A gente ameniza esses custos”, defende. Os contratos de cessão têm cláusulas que determinam as obrigações da entidade. A validade da liberação é de dez anos, sendo possível prorrogar a cessão por mais dez anos. O titular da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer (SEL), Henderson Rodrigues, concorda que a transferência é o melhor caminho. “Quando você faz o termo e passa para a entidade, ela tem obrigação da limpeza, manutenção e segurança. A entidade tem a facilidade de buscar a iniciativa privada. Na rotina do Estado isso é mais difícil, porque é claro, você tem todas as questões de legislação.”Segundo Rodrigues, a SEL estuda conceder cessão de uso dos demais ginásios de Goiânia. “Mas é preciso que a gente tenha entidades que tenham vontade de fazer investimento. (Colaborou Victoria Lacerda)-Imagem (1.2411752)