Apontado na última semana como um novo vírus transitando no Rio de Janeiro, o mayaro, uma espécie de primo do chikungunya, não é novidade em território goiano. No Estado, o primeiro registro de paciente infectado é de 1987, mas foi em 2015 que houve o maior número de casos confirmados, 63, de acordo com a Secretaria da Saúde de Goiás. Em 2018 a pasta apontou o registro de apenas três casos por aqui. Esse quantitativo, porém, pode ser maior. Ano passado, pesquisadores ligados à Universidade Federal de Goiás (UFG) identificaram o vírus mayaro em 78 de 468 amostras coletadas de pacientes do Cais Novo Mundo, na capital, com suspeitas de dengue, zika ou chikungnya, o equivalente a 16,6% do total.Conforme dados do Ministério da Saúde, os sintomas da doença são muito parecidos com os da dengue e/ou chikungunya, começando com uma febre inespecífica e cansaço, possibilidade de surgir posteriormente manchas vermelhas pelo corpo, acompanhadas de dor de cabeça e dores nas articulações, sendo que estas podem ser mais limitantes e durar meses para passar. Goiás, conforme dados da pasta, é o Estado brasileiro que mais acumula casos confirmados da doença no País entre dezembro de 2014 a janeiro de 2016: 86. Na sequência aparecem Tocantins, com nove, e Pará, com um.O Ministério da Saúde informa, porém, que não há registro recente de casos da febre mayaro no País, nem registro da doença no Estado do Rio de Janeiro. Mas ressalta que o diagnóstico de mayaro pode ser confundido com o de chikungunya. Em relação ao achado de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que diagnosticou três casos por lá, o ministério diz que ‘tratam-se de ‘casos’ identificados em atividade de pesquisa, realizada no ano de 2015” e que “a pasta não foi notificada”. Quanto à descoberta do grupo de pesquisa em Goiás, um dos integrantes, o professor Carlos Eduardo Anunciação, especialista em biologia molecular, informa que eles deverão notificar a pasta sobre os casos que identificaram nesta semana. Segundo informações da Secretaria de Estado da Saúde (SES), repassadas por meio de sua assessoria de imprensa, não há alerta para epidemia de febre mayaro no Estado. Conforme a SES, o primeiro caso documentado da doença por aqui, na década de 1980, ocorreu em Itarumã. Entre 2017 e 2019, os dez casos confirmados, no total, ficaram distribuídos em oito municípios: Avelinópolis, Britânia, Campestre de Goiás, Inhumas, Joviânia, Mutunópolis, Santa Bárbara de Goiás e Trindade.Em 2015, ano com o maior registro da doença no Estado até agora, três casos foram registrados no município de Rio Quente, a 135 quilômetros de Goiânia, conforme registrou reportagem do POPULAR de março daquele ano. O biólogo Carlos Eduardo, integrante do grupo de pesquisa da UFG, informa que a coleta de amostras dos mais de 450 pacientes o Cais Novo Mundo, em Goiânia, ocorreu de janeiro a agosto do ano passado. “As análises duraram até dezembro, porque precisávamos confirmar todos os casos de arboviroses (doenças causadas pelos chamados arbovírus, que incluem o vírus da dengue, zika vírus, febre chikungunya e febre amarela)”, informa. Segundo ele, 350 delas deram positivas para dengue. “(Houve) poucos casos pra chikungunya e menos para zika. Além de coinfecção”. Ao identificarem que muitas pessoas com sintomas de arbovírus não apresentavam nem dengue, nem zika, nem chicungunya, diz que começaram a identificar que o resultado negativo para essas doenças poderia ser um indicativo para outro tipo de vírus. “Aí desenvolvemos novo teste molecular baseado na técnica da PCR (reação em cadeia da polimerase). A partir desse teste todas as amostras (de sangue) foram analisadas e começaram a surgir os positivos para mayaro.”Ele afirma que circulação desse vírus pode se adaptar a áreas urbanas e levar a uma epidemia, como a dengue, com possibilidade do Aedes Aegypti se tornar transmissor. “Já foi constado em pesquisas o Aedes como vetor. Precisa se conhecer mais (sobre o vírus mayaro). Ampliar a pesquisa”, cita.De acordo com o Ministério da Saúde, até o momento, não há registro de casos da febre mayaro pela transmissão do Aedes aegypti. “Os casos detectados pelos serviços de saúde do Brasil são esporádicos, ocorrem em área de mata, rural ou silvestre (não há casos urbanos) e afetam pessoas que adentraram espaços onde têm macacos e vetores silvestres”, informou, em nota. Ainda segundo a pasta, na América do Sul, a doença tem sido associada ao ciclo do vírus da febre amarela, tendo o Haemagogus janthinomys como vetor primário. Não há óbitos associados ou registrados ao mayaro no Brasil.-Imagem (1.1801769)