Apenas nesta segunda-feira (1º), Goiás confirmou 14 novos casos de monkeypox, conhecida inicialmente como varíola dos macacos, o que representa um aumento de 133% se comparado com o número de novos registros dos últimos sete dias, quando foram confirmados seis infectados entre os dias 25 e 31 de julho.Ao todo, são 32 casos em Goiás. De acordo com dados do Ministério da Saúde coletados no final da tarde desta segunda, o estado é o sexto com mais casos no País, que já acumula 1,3 mil registros.Até agora, todos os casos de Goiás são de homens com idade de 23 a 43 anos. Só em Goiânia, são 26 confirmações. As cidades de Goiás e Luziânia tiveram os primeiros registros. Aparecida de Goiânia tem dois casos. Já Itaberaí e Inhumas contabilizam um caso cada. Os dados são do boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) nesta segunda.A pasta ainda aguarda o resultado de 54 casos suspeitos. Os exames de diagnóstico são processados na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Outros 17 notificações já foram descartadas.A primeira vítima da doença no Brasil foi um homem de 41 anos apresentava graves problemas de imunidade e estava internado no Hospital Eduardo de Menezes, em Belo Horizonte. A morte foi confirmada pelo governo federal na última sexta-feira (29). No mesmo dia, a pasta ativou o Centro de Operação de Emergências para monkeypox.As primeiras doses da vacina contra a doença deverão chegar ao Brasil em setembro, de acordo com o MS. Inicialmente, apenas grupos específicos receberão o imunizante. A aquisição será feita por meio de convênio com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).Em entrevista ao POPULAR, a professora de Virologia do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTPS), da Universidade Federal de Goiás (UFG), Marcelle Sales, comenta o aumento de casos, a importância de se ampliar os diagnósticos, os estigmas relacionados a transmissão e as estratégias de vacinação adotadas neste primeiro momento. (Colaborou Malu Longo)ENTREVISTA Marcelle Sales / pesquisadora e professora de Virologia“Todos nós estamos passíveis de nos infectar”O que já sabemos sobre a monkeypox?Este vírus foi descrito pela primeira vez, em 1938, quando foi encontrado em macacos. Atualmente, vemos casos de humanos para humanos. Para evitar estigmas, estamos procurando usar o termo varíola símia. O vírus monkeypox pertence a mesma família do vírus da varíola humana. Atualmente, sabemos de duas cepas. Uma e originária da África Central e outra da África Ocidental. Pelo que vimos nos últimos meses, as infecções humanas são associadas à cepa da África Ocidental, parece causar uma doença menos grave em comparação com a outra.Qual o risco da doença evoluir com gravidade?A maioria das pessoas tem um quadro leve e que se resolve sozinho e em poucas semanas. Os sintomas mais comuns são febre, dor de cabeça e muscular, dor nas costas, inchaço dos gânglios linfáticos e o surgimento de lesões cutâneas. Entretanto, algumas pessoas evoluem com infecções secundárias na pele, pneumonia, problemas oculares que podem levar a perda da visão, confusão mental e morte. Os grupos com maior risco são os recém-nascidos, crianças e pessoas vivendo com algum tipo de imunossupressão.Há possibilidade de a doença ser transmitida por animais domésticos?Atualmente, os principais animais transmissores da doença são os roedores e primatas, mas pode ser que com o avanço do conhecimento da doença gatos e cachorros também sejam incluídos na lista. Ainda não temos relatos na literatura de casos em que humanos passaram a doença para animais.Existe a possibilidade de letalidade pediátrica?Sim. A varíola é congênita. Essa transmissão pode acontecer via placentária ou pelo contato da pele da mãe infectada com a pele do bebê. No Brasil, já temos casos de crianças infectadas sendo monitoradas, sem sinal de agravamentos.Atualmente, se fala em países endêmicos ou não da doença. Qual a diferença?Dizer que uma doença é endêmica, significa que ela ocorre naturalmente e continuamente em uma determinada região, como é o caso da dengue no Brasil. Temos vários países da África onde isso acontece com o monkeypox. A situação de emergência surgiu porque tivemos um aumento de casos em vários países que não tinham a circulação deste vírus.Como podemos interpretar este recente aumento de casos em Goiás e no Brasil?Considerando que a contaminação não é difícil, é normal que ocorra um aumento da circulação do vírus. Além disso, temos de levar em conta que também estamos testando mais, o que faz crescer o número de casos confirmados. Ao declarar a doença como uma emergência de saúde pública de interesse internacional, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, disse que o surto se concentra entre homens que fazem sexo com homens, especialmente aqueles com múltiplos parceiros sexuais. Ao fazer isso, ele coloca em questão outro desafio: o estigma. Como lidar com isso?Atualmente, 98% dos infectados são pessoas homens jovens que fazem sexo com outros homens. Entretanto, é preciso deixar claro que ainda não foi detectado o vírus em fluidos genitais. Por isso, ainda não se consegue comprovar a transmissão pela via sexual. Porém, o perfil da maioria dos infectados os torna um grupo de interesse no momento. A fala do diretor-geral da OMS recomendando que esse grupo diminuía o número de parceiros sexuais foi no sentido de reduzir a exposição ao risco. Precisamos deixar claro que todos nos estamos passíveis de nos infectar, seja entrando em contato diretamente com as lesões ou com a secreção do trato respiratório.Quais são as vacinas disponíveis para a doença?Temos três imunizantes diferentes. Eles foram desenvolvidos para proteger as pessoas contra a varíola humana, mas também podem ser usados contra a monkeypox, pois são doenças da mesma família. A vacina pode causar efeitos adversos leves como febre e dor no local da aplicação. É importante lembrar que os imunizantes não conferem proteção imediata. Isso leva algumas semanas. Por isso, as pessoas vacinadas ainda devem se proteger mesmo depois de serem imunizadas.No Brasil, inicialmente, apenas profissionais da saúde que lidam diretamente com o vírus e pessoas que tiveram contato próximos com infectados são vacinadas. Esta é a estratégia mais acertada?Frente a escassez de doses, é o que o mundo todo tem feito. Precisamos priorizar as pessoas com mais chance de se infectarem. A ampliação do diagnóstico também deve ser uma prioridade. Com mais confiança na real quantidade de pessoas infectadas junto com outros dados como, por exemplo, a ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva, podemos avaliar a necessidade de uma vacinação além dos grupos prioritários. Além disso, a solução sempre passa pela educação da população, que precisa tentar reduzir ao máximo a exposição ao contágio.Leia também:- Casos confirmados de varíola dos macacos em Goiás saltam de 18 para 32- Confira onde se vacinar contra a Covid-19 em Goiânia durante a semana- Ministério da Saúde confirma primeira morte por varíola dos macacos no Brasil-Imagem (1.2501924)