Rio Quente, localizado na região Sul de Goiás, é um município ofuscado pela fama da cidade vizinha, Caldas Novas. E tem o nome muito mais relacionado à pousada que fica em seu território e que é a principal responsável pela atração de 1,1 milhão de pessoas anualmente – uma população flutuante 420 vezes maior que o número de habitantes locais, que é de cerca de 4,6 mil, segundo a última projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).Imagine, então, que todos os moradores deste município morressem em um intervalo de sete meses, e a eles se juntassem outros 400. Este é o tamanho do estrago que a Covid-19 fez em Goiás até agora: oficialmente, o Estado ultrapassou a simbólica marca de 5 mil mortos na manhã de quarta-feira (7). Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, foram 5.020 mortes pela doença até agora.Como Rio Quente, outros 94 municípios goianos têm população inferior ao número de mortes por Covid-19. Estão na lista Itaguari (4,6 mil moradores), Varjão (3,8 mil), Professor Jamil (3,2 mil), e dezenas de outros. O coronavírus Sars-CoV-2, portanto, ceifou a vida de uma quantidade de pessoas maior que a de moradores de 38% dos municípios goianos.A marca simbólica também é útil para acompanhar a velocidade com que a pandemia tem evoluído para formas fatais no Estado. A primeira morte pela doença em Goiás foi de uma mulher de 66 anos, moradora de Luziânia, confirmada no dia 26 de março. Segundo dados coletados na plataforma da Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO), dela até a milésima morte, passaram-se 112 dias. De mil para 2 mil, foram 23; até 3 mil, mais 20; para chegar às 4 mil, outros 21; e, até a morte número 5 mil, foram apenas 19 dias.A contagem dá a impressão de que a doença está acelerando. Porém, as autoridades de saúde consideram que está havendo desaceleração. Para dobrar de mil para 2 mil casos, foram necessários 23 dias, conforme dito acima. Para dobrar de 2 mil para 4 mil, o intervalo foi de 43 dias. No começo da pandemia, quando o número de casos era menor, a quantidade de mortes dobrava, em média, a cada 14 dias.Em entrevista ao POPULAR, publicada na edição da última terça-feira (6), o secretário de saúde do Estado, Ismael Alexandrino, afirmou que ocorre queda na notificação de novas mortes de forma sustentada no Estado. O mesmo ocorre, segundo ele, em relação às internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Na tarde de quarta-feira, o portal da SES-GO informava que a taxa de ocupação nas UTIs era de 71,6% - o menor índice desde o fim de semana, quando o indicador ficou, pela primeira vez, abaixo de 75%.Com a curva atual, a Secretaria Estadual de Saúde já planeja a desmobilização de algumas estruturas específicas para tratamento de pacientes com Covid-19. É o caso, por exemplo, do Hospital de Campanha de Águas Lindas. Mantido em parceria com o governo federal, a unidade deve funcionar até 22 de outubro. Os demais HCamps, 100% estaduais, seguirão em operação.MunicípiosDos mais de 5 mil mortos pela Covid-19 em Goiás, 2.996 mil eram homens (59%); 1.808 tinham doença cardiovascular e 2.612 mais de 70 anos. O município com maior número de mortes é Goiânia, com 1.495 registros, seguido por Aparecida de Goiânia (503) e Rio Verde (259).Em relação ao cenário brasileiro, Goiás é a nona unidade da federação com maior número absoluto de mortes. O líder neste recorte é São Paulo, com 36,6 mil óbitos confirmados até agora, segundo o Ministério da Saúde. Proporcionalmente, porém, Goiás ocupa a 16ª posição, com 70,6 mortes por grupo de 100 mil habitantes. Nesta taxa, quem lidera é o Distrito Federal, com 111 mortes por 100 mil, seguido do Rio de Janeiro (109/100 mil).Dos mais de 224 mil casos notificados em Goiás, 213 mil se curaram. Com isso, a taxa de letalidade da doença está em 2,24%. Número abaixo da pior projeçãoApesar de expressivo, o número de 5 mil mortes ficou abaixo do que poderia ter ocorrido em Goiás. As projeções iniciais do Grupo de Modelagem de Expansão da Covid-19 em Goiás, da Universidade Federal de Goiás (UFG), indicavam que até 12 mil pessoas poderiam morrer até o fim de setembro.Este número constava das notas técnicas elaboradas pelo grupo, no pior cenário possível, chamado de vermelho. No cenário verde, intermediário, a projeção era de até 6,5 mil mortos até o fim do mês passado. No mais otimista, o azul, seriam cerca de 3,5 mil.O pesquisador Thiago Rangel, que faz parte do grupo, diz que não houve erro por parte da UFG. “As projeções do modelo que fizemos em junho continuam bastante válidas, considerando todas as incertezas que existiam na época. O cenário intermediário sempre foi considerado o mais plausível”, afirma. Na nota técnica 7, os pesquisadores argumentam que a taxa de isolamento ficou em 38%, em média, acima do desenho inicial, que a calculava em 30%.Por causa do atraso nas notificações, Rangel estima que o número de mortos atualmente é superior aos dados divulgados nos boletins diários da SES. “Imaginamos que, quando chegarmos no fim de outubro e olharmos para o número de óbitos acumulados que aconteceram até fim de setembro, de acordo com a data do óbito, não data de notificação, o número total deve estar entre 5 e 6 mil”, afirma.