Mesmo com avanço de novas variantes mais transmissíveis do coronavírus, não há medidas específicas de controle para evitar ou pelo menos amenizar o impacto da chegada delas em Goiás. Oito meses após o surgimento da primeira variante de preocupação do coronavírus, a Alpha, não são feitas barreiras nem nos terminais rodoviários nem no Aeroporto Internacional de Goiânia, assim como não há ações neste sentido desenvolvidas nem pela Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) nem pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia.Para a especialista em biossegurança e professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Mel Markowski, esta situação é preocupante. “A ausência de barreiras sanitárias eficientes vai facilitar não só o fluxo de variantes, mas da doença em si, como tem ocorrido desde o início da pandemia.”Barreiras sanitárias “eficientes” significa, segundo Mel, barreiras mais ativas em que as pessoas vindas de outros Estados passem, por exemplo, por triagem, conscientização e testes rápidos para verificar se estão contaminados de Covid-19, com a possibilidade de quarentena para quebrar cadeias de transmissão. A Organização Mundial de Saúde alterou as diretrizes para nomear as variantes de preocupação (VOC) da Covid-19 para deixar de estigmatizar os países de origem. A variante de origem no Reino Unido se chama Alpha, a segunda variante identificada, que surgiu na África do Sul, se chama Beta, a terceira variante, que surgiu em Manaus, é a Gamma, e a variante identificada na Índia, mais recente, se chama Delta.No Terminal Rodoviário de Goiânia, segundo a administração do local, é feito apenas a comunicação em painéis e placas sobre os cuidados necessários e aferição de temperatura dos usuários da rodoviária, mas de forma aleatória. A assessoria do terminal informou que a SMS de Goiânia a orientou que não seriam necessárias medidas específicas para os viajantes em viagem interestadual.A rodoviária possui um shopping com área de alimentação dentro do prédio e se localiza ao lado de um dos maiores polos de venda em atacado de roupas do Brasil, espaço em que circulam com intensidade e frequência pessoas de todo o País.Já no aeroporto, os procedimentos são padronizados pela Anvisa. Não há testagem de passageiros, nem organização de um isolamento caso haja confirmação de pessoas com Covid-19 chegando ao Estado.Cepa indiana O aumento do sequenciamento genético de amostras do coronavírus em Goiás é essencial para que haja o monitoramento da circulação da variante mais recente e considerada mais transmissível, que encontrada na Índia e já foi identificada em outras partes do Brasil. A cepa levanta alertas por parte da Organização Mundial da Saúde (OMS).A variante indiana possui três versões identificadas até o momento: B.1.617.1, B.1.617.2 e B.1.617.3. Todas foram descobertas primeiramente na Índia, mas de acordo com atualização mais recente da OMS, apenas a segunda é considerada uma variante de preocupação.Especialistas acreditam que ela seja a responsável pelo agravamento da situação de emergência em saúde que existe no país. Ainda não se sabe se essa variante é mais agressiva ou mais letal, mas se tem evidências de que assim como outras variantes de preocupação ela é mais infecciosa. As “taxas de ataque” da sub-linhagem B.1.617.2 da variante Delta, segundo a OMS, parecem ser superiores às da variante Alpha. Preocupação em GoiásA circulação da variante indiana pode contribuir diretamente para uma terceira onda em Goiás no momento em que o Estado enfrenta um aumento de casos e da taxa de ocupação de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI). Especialistas apontam que Goiás poderia fazer mais sequenciamentos genéticos, especialmente da população geral. Atualmente, de acordo com a SES-GO, já foram sequenciadas 120 amostras através de uma parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG) e Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e outras 91, entre janeiro e março, pelo Laboratório Adolfo Lutz, em São Paulo.No momento, existem 32 amostras de diferentes municípios goianos em análise no Laboratório Adolfo Lutz. Ou seja, nos últimos dois meses só esse quantitativo - além das amostras dos asilos enviadas para o sequenciamento nesta quarta - foi coletado e enviado para análise.O infectologista Marcelo Daher aponta que o sequenciamento é essencial para entender o cenário epidemiológico estadual. “O Reino Unido fez isso muito bem. É o único jeito da gente saber quais variantes e cepas estão circulando. A gente precisava sequenciar mais, para tomar medidas mais rápidas e mais acertadas”, relata.Entretanto, Daher aponta que apesar de já circular de maneira comunitária no Estado, também é preciso atenção à variante P1. “Ela é altamente infecciosa e pode ser a responsável pelo aumento de casos”, finaliza o médico. SequenciamentoSessenta amostras de exames RT-PCR usadas para a detecção da Covid-19 dos idosos infectados nos surtos ocorridos em abrigos de Anápolis e Inhumas, onde os internados já foram vacinados contra a doença foram enviadas pelo Estado para sequenciamento genético (teste que identifica qual variante do coronavírus está presente naquela amostra).As amostras foram enviadas para análise nesta quarta-feira (2) e serão trabalhadas pela UFG e pela PUC-GO, em uma parceria com a SES-GO.Em Anápolis, o surto de Covid-19 no Abrigo dos Velhos Professor Nicéphoro Pereira da Silva, vitimou dois idosos e outros dois óbitos de internos que também testaram positivo são suspeitos. Existem ainda 14 idosos internados. Dos 76 moradores, 65 testaram positivo e 10 funcionários contraíram o vírus. Já em Inhumas, no abrigo Associação Espírita Casa do Caminho, 54 internos testaram positivo para a doença, sendo 28 deles idosos e 26 portadores de deficiência.-Imagem (1.2263118)