Goiás participa de pesquisas internacionais na busca de tratamentos contra a Covid-19. Um dos estudos foi publicado na última semana na revista The Lancet, uma das mais respeitadas na comunidade científica. Coordenador em Goiás, o professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG) e coordenador da Liga de Hipertensão Arterial, Weimar Kunz Sebba Barroso destaca a importância da participação e adianta que o estado deve colaborar com novas análises.Barroso explica que a pesquisa é internacional, coordenada por um médico norte-americano e que no Brasil também tem um responsável geral, que convidou a Liga para participar do estudo. Weimar Barroso detalha que decidiu, então, propor parceria para a Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO) para que pudessem atuar no Hospital de Campanha para o Enfrentamento do Coronavírus (HCamp). “Um diferencial é mostrar que a parceria entre a universidade e um hospital público pode contribuir para a ciência de maneiro relevante e satisfatória.”O médico informa que, além deste estudo publicado, existe outro em andamento e mais quatro sendo analisados na comissão de ética da UFG para serem aprovados. Todos eles analisam medicamentos que possam, de alguma maneira, apresentar respostas positivas no tratamento de pessoas com Covid-19. “O estudo é capaz de nos dar duas respostas importantes. Se o medicamento testado é eficaz, é um indício de que poderá ser usado contra a doença. Do contrário, o estudo também nos mostra, de maneira científica e comprovada, que ele não tem eficácia e não deve ser usado para este tratamento específico.”No caso do estudo publicado na The Lancet, no dia 21 de julho, foram analisados pacientes internados com Covid-19 e que apresentavam, pelo menos, um fator de risco como hipertensão, diabetes tipo 2, doença cardiovascular aterosclerótica, insuficiência cardíaca e doença renal crônica. Esses pacientes foram avaliados depois do uso de um tratamento usado contra o diabetes: a Dapagliflozina. Weimar detalha que a Covid é uma doença que aumenta a atividade inflamatória que pode causar dano aos rins e que existia a hipótese de que este medicamento poderia reduzir a complicação de quem estivesse internado.Ao final, o estudo não apresentou a resposta positiva contra a doença. “Mas a pesquisa não está completamente encerrada. Enquanto a comunidade científica não tiver uma resposta positiva no tratamento eficaz contra a doença, o estudo não para. Temos visto coisas absurdas, baseadas em achismos, ataques à ciência, mas no final, quem salva vida é a ciência. E os estudos seguem com outros medicamentos, com outras metodologias, até que se encontre um caminho para salvar vidas”, disse o professor.PrazoWeimar Barroso destaca que estudo como estes demoravam de três a cinco anos para serem finalizados, mas que desta vez demorou pouco mais de um ano entre a elaboração, aprovação e conclusão. “Existe um trabalho muito grande, em várias partes do mundo, até que uma publicação seja feita. Sempre existe muito esforço, mas neste caso foi ainda maior, para que a resposta fosse rápida. E neste caso, da Covid-19, existe um esforço mundial para encontrar o tratamento adequado porque precisamos dessas respostas ágeis para conseguir salvar pessoas.”Superintendente de Atenção Integral à Saúde da SES-GO, Sandro Rodrigues diz que Goiás vê a participação no estudo como importante. “A ciência é o melhor caminho e em Goiás somos pautados na ciência. É relevante estar neste estudo na busca de ajudar a comunidade científica a descobrir novas perspectivas contra a doença.” Ele comenta que o outro estudo em andamento avalia pacientes tratados em ambulatório. “Estamos ajudando os cientistas a provarem ou não a eficácia de medicamentos contra essa doença. Isso ajuda a mitigar informações erradas contra tratamentos sem comprovação.”Weimar Barroso destaca que o Brasil teve papel fundamental neste estudo, já que de 1,2 mil análises de pacientes, cerca de 700 foram brasileiros. Este estudo contou com informações de 15 unidades de saúde, sendo que nove são brasileiras, quatro norte-americanas e duas mexicanas. O HCamp foi o segundo hospital a conseguir cadastrar mais pacientes, 72 ao todo. “Isso é muito importante porque contribuímos com a construção do conhecimento científico para levar proteção ao pacientes.”OutrosWeimar Barroso diz que Goiás já figura nos cenários de pesquisas internacionais há muito tempo, com diversas publicações em várias áreas. Ele diz que este é o primeiro para tratar da Covid-19 e acredita que o estado deverá contribuir em outras situações. Ele ressalta a estrutura do HCamp que conseguiu atender aos critérios de participação. Ele informou que o estudo foi aprovado nos órgãos regulatórios americanos, latino-americanos e brasileiros.No Brasil, o trabalho foi coordenado pelo grupo do Hospital Albert Einsten e contou com a participação de vários centros de pesquisa, incluindo a UFG, Liga de Hipertensão Arterial e HCamp.Pesquisa ajuda em evoluçãoDiretor do Hospital de Campanha para o Enfrentamento do Coronavírus (HCamp), Guilhermo Sócrates destaca que participar das pesquisas em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG) traz vários benefícios. “Além da parte científica, em que podemos contribuir na busca de tratamentos eficazes e comprovados, tivemos um ganho enorme com nossos processos internos. A equipe já sabe o que fazer”.Ele ressalta que, por ser estudo internacional, a unidade precisou se adequar à padrões extremamente rigorosos para coleta de exames, identificação de fatores de risco, identificação do paciente, além de acompanhamento destes voluntários, que assinaram documentos aceitando participar. “A relevância do hospital nessa participação foi de atender às exigências e sermos o segundo hospital dentro da pesquisa a conseguir cadastrar o maior número de pacientes.”Ele justifica que isso mostra que a equipe está comprometida. Ele cita que um paciente que chega à unidade passa pela triagem e precisa ter todos seus dados cadastrados. “Em um prazo de 24 horas eu preciso de uma lista de exames. Em 48 horas precisamos incluir outras informações e assim ocorre durante todo a internação e até depois dela. Se as coisas não acontecerem dentro do prazo correto, esse paciente está fora do estudo. “De um ponto de vista geral, a equipe se sente motivada e prestigiada. Em um hospital de campanha, que praticamente era pra ser temporário, estamos conseguindo produzir ciência. Não só usar a medicina baseado em ciência, mas também produzir.”