Goiás chegou ao caso 1.000 de Covid-19 e, das 19 unidades da federação que já atingiram esta marca até esta quarta-feira (6), foi a que demorou mais tempo: 56 dias. São 1.024 casos, segundo o Ministério da Saúde, e 45 mortes. A data foi também a que teve mais novos casos registrados no Estado, a primeira vez que se superou 100 em 24 horas. Além disso, foram registradas neste período 7 mortes, uma a menos que na terça-feira (5), dia com maior notificação de óbitos até o momento de pessoas que contraíram o novo coronavírus (Sars-CoV-2).Apesar dos recordes, a evolução de casos confirmados de Covid-19 em Goiás segue em ritmo lento. Enquanto por aqui o número de registros cresceu 45% na última semana, o porcentual foi maior em 21 Estados. No Tocantins, foi de 203% e em Sergipe, de 196%, por exemplo.Se ampliar o período para desde quando o decreto estadual que flexibilizou as medidas restritivas de atividades comerciais e de serviços em Goiás, a partir de quando o índice de isolamento caiu significativamente, o aumento de casos foi de 161%. Neste contexto, 20 Estados tiveram um percentual maior, entre eles Sergipe (1.102%), Tocantins (964%) e Alagoas (971%).Até o fechamento desta edição a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) não tinha divulgado o boletim epidemiológico da quarta-feira (6), mas é possível afirmar que a maior parte dos novos casos é do interior. Isso porque de acordo com o boletim de Goiânia, a capital registrou apenas mais 15 novos casos, enquanto os de Aparecida e Anápolis juntos somam mais 35. As três cidades são as que registram mais ocorrências de Covid-19. Sobram mais 52 novos casos.Especialistas ouvidos pelo POPULAR apontam que o ritmo lento em relação ao resto do País tem mais a ver com as políticas adotadas pelos outros Estados e a falta de uma articulação centralizada pelo governo federal no enfrentamento à doença do que a alguma situação específica de Goiás.Aqui, os entrevistados afirmam que os goianos ainda colhem os resultados da adoção antecipada de medidas restritivas pelo governador Ronaldo Caiado (DEM), ainda em meados de março, quando o número de casos ainda estava em menos de 10, mas já sentem também o fato de a população ter relaxado com o isolamento social a partir principalmente do feriado da Páscoa.Para eles, ainda não dá para dizer que o aumento registrado hoje já seja reflexo da flexibilização das restrições a partir do decreto estadual de 19 de abril. Isso porque os resultados dos testes feitos pelo Laboratório Estadual de Saúde Pública de Goiás (Lacen-GO) continuam demorando muito para ficarem prontos e os laboratórios particulares acumulam os resultados antes de encaminhá-los à SES-GO.Já o titular da SES-GO, Ismael Alexandrino, acredita que os números vistos nesta quarta-feira sejam um pouco de tudo que foi citado acima: relaxamento com as regras de isolamento, já também após o decreto de 19 de abril, e o volume de resultados de casos mais antigos que ficaram prontos juntos. “Mas certamente com mais peso para a flexibilização que na segunda-feira completou duas semanas (ciclo do vírus), e Goiás caiu muito no quesito isolamento. Goiânia é uma das capitais com menor isolamento no País”, comentou Alexandrino.O secretário afirma ao atingir o caso mil, de acordo com o plano de contingência da pasta para o novo coronavírus, Goiás passa para o nível 4, onde toda a rede hospitalar pública passa a contribuir no enfrentamento, tendo de oferecer espaço para os casos de Covid-19.Isso não significa que, necessariamente, os hospitais que não são específicos para tratar da infecção tenham de começar a receber pacientes a partir de agora, já que, segundo frisa Alexandrino, o Hospital de Campanha de Goiânia (HCamp) ainda tem vagas para internação e o número de pessoas internadas segue em um nível que a unidade tem conseguido absorver.“Por enquanto, o HCamp tem bastante vaga e o número de internações está crescendo em um nível bem menor do que o de casos de Covid, felizmente”, afirmou.Alexandrino acrescentou que outra das medidas do nível 4 é a suspensão de cirurgias eletivas na rede pública de saúde e afirmou que todos os eventos que envolvam aglomeração seguem suspensos, inclusive os jogos de futebol, cujos organizadores estariam dialogando, segundo ele, com o governo para algum tipo de flexibilização. “Se daqui a um tempo a curva começar a cair de novo, como estava há 20 e poucos dias, aí a gente começa a pensar (na liberação).”O secretário nega que o ritmo lento em comparação com outros Estados tenha a ver com um menor número de testagem, afirmando que em Goiás os exames são aplicados, proporcionalmente, no mesmo volume que lugares que testam bastante. A SES-GO também tem dito que segue o protocolo do Ministério da Saúde, que prioriza casos graves de pessoas internadas. Entretanto, reportagem do POPULAR no final de abril mostrou que o Estado estava entre os que menos testavam.O titular da SES-GO diz acreditar que o ritmo lento tenha a ver com o potencial de transmissão do vírus em Goiás, que seria mais baixo que em outros Estados por causa das medidas adotadas pelo governo e pelo comportamento da população antes de o isolamento começar a cair.“A tendência é que nesta semana aumentaria significativamente (o número de casos), mas tomara que este aumento de casos não represente aumento de internações nem de óbitos”, disse o secretário. Especialistas demonstram preocupação com númeroA forma como Goiás chegou ao caso 1.000 de Covid-19, com recorde de notificações em 24 horas, deixou a doutora em Saúde Pública e epidemiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG), Erika Silveira, bastante preocupada, segundo a própria. Para ela, os números dos últimos dias são reflexos da queda notada nos índices de isolamento a partir da Páscoa e a situação deve piorar nos próximos dias quando será percebido o impacto da flexibilização das medidas restritivas após o decreto estadual de 19 de abril.“Parece que as pessoas ainda não estão se importando com a gravidade da situação”, reclamou Erika, que traça um paralelo com tempos de guerra ao falar sobre a necessidade de respeitar as orientações para isolamento social.A professora afirma que as medidas adotadas pelo governo estadual em março foram muito importantes e a adesão das prefeituras na época ajudou bastante a manter a curva de casos e o número de internações baixos. Mas com o tempo os prefeitos foram liberando atividades, principalmente após 19 de abril, e a população e os comerciantes relaxando nos cuidados contra o novo coronavírus. Isso estaria refletindo agora.O professor José Alexandre Felizola Diniz Filho, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG, acredita que ainda é cedo para falar em “salto” nos casos e que é preciso observar os números dos próximos boletins. Para ele, ainda estamos observando os efeitos da lentidão das notificações feitas pelas unidades de saúde, sejam elas públicas ou particulares. “Continuamos numa velocidade relativamente baixa. A nossa taxa de transmissão ainda está baixa. Com novos dados, o padrão vai ficando mais claro”, afirmou.Goiânia tem 20 mortes e Brasil registra novo recorde de óbitosCom a confirmação de mais 6 óbitos nas últimas 24 horas em decorrência do novo coronavírus, Goiânia registrou nesta quarta-feira (6) 20 vítimas da doença. Ao todo, 560 pessoas foram infectadas pelo vírus na capital. As informações foram repassadas pela Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS).Das 20 vítimas, 13 são homens e sete mulheres. E a maioria dos pacientes que faleceu na cidade por Covid-19 é idosa – 17 tinham mais de 60 anos. Duas vítimas tinham entre 40 e 59 anos. E uma tinha entre 20 e 39 anos. A SMS reforçou que os 6 novos óbitos não ocorreram nas últimas 24 horas. “Os exames que foram liberados somente hoje (quarta-feira, 6)”.Nesta quarta-feira, o Brasil registrou 615 mortes decorrentes do novo coronavírus em 24 horas, segundo atualização feita pelo Ministério da Saúde. É o segundo recorde consecutivo de óbitos. Em dois dias, as mortes chegaram a 1.215. O total oficial de vítimas do novo coronavírus no Brasil subiu na última terça-feira (5) de 7.921 para 8.536 nesta quarta-feira, conforme balanço do início da noite.O ministro da Saúde, Nelson Teich, admitiu, pela primeira vez, que a adoção de medidas de fechamento total (lockdown) de cidades, com manutenção apenas de serviços essenciais, devem ser adotadas no País em determinados casos.-Imagem (1.2048505)