Atualizada às 23h07Das 246 cidades goianas, 160 estão com dificuldade para atingir o índice de isolamento acima de 50% nos dias úteis. Levantamento feito pelo POPULAR com base em informações de monitoramento por telefonia móvel mostra que na semana passada apenas 85 conseguiram manter a média deste indicador acima do porcentual considerado o mínimo para impedir que o potencial de transmissão do novo coronavírus (Sars-CoV-2) comprometa o sistema de saúde em Goiás.O governo estadual trata os casos entre 40% e 50% de isolamento como um “sinal amarelo” que precisa ser monitorado, mas abaixo disso a situação seria crítica, com risco para a capacidade de absorção dos pacientes com Covid-19.A preocupação é maior com os 24 municípios com mais de 50 mil habitantes. Destes, 15 estão com os indicadores abaixo dos 50%, entre eles Goiânia, Anápolis, Goianésia, Rio Verde e Itumbiara, todos com mais de dez moradores com infecção confirmada de Covid-19. Entre as 160 cidades com menos de 10 mil habitantes, 54,4% estão abaixo do mínimo aceitável, mas nestes casos o tamanho da população pode minimizar o impacto do baixo isolamento.A situação foi mais crítica no dia 30 de abril, uma quinta-feira, quando Goiás pela primeira vez atingiu um índice abaixo de 50% desde que os goianos aderiram às medidas restritivas impostas pelo governo estadual por meio de decreto, no dia 19 de março. Neste dia, o Estado apresentou uma taxa de 43,5% e 183 municípios ficaram abaixo dos 40%. Apenas 20 cidades conseguiram se firmar acima de 50% nesta data.Com base nos índices fornecidos pela empresa In Loco, que faz o mapeamento por tecnologia de geolocalização, com dados criptografados, em todo o País, a reportagem identificou 55 cidades que não conseguiram atingir o patamar de 50% em nenhum dos dias úteis da semana passada, a pior desde que o governador Ronaldo Caiado (DEM) publicou decreto flexibilizando as medidas restritivas, no dia 19 de abril.Um novo estudo de modelagem feito pela equipe da Universidade Federal de Goiás (UFG) apontou uma queda diária de 2,5% no índice médio estadual de isolamento. Se mantiver esta tendência, o estudo indica uma situação trágica com impacto para todos os municípios, independentemente do tamanho, conforme explica o biólogo e professor da UFG, Thiago Rangel, um dos pesquisadores envolvidos no estudo de modelagem.Rangel comenta que cidades pequenas, com menos de 10 mil habitantes, terão menos impacto com uma taxa de isolamento abaixo de 40%. Isso porque nestes municípios as aglomerações são em menor volume e mais controláveis, além do que é mais fácil rastrear moradores que estejam infectados pelo novo coronavírus.“O índice de isolamento é uma das variáveis. Tem também a densidade demográfica, o tamanho da população idosa e o isolamento geográfico. Isso tudo precisa ser levado em consideração”, comentou Rangel.Ele destaca que em cidades pequenas com baixo índice de isolamento o vírus vai circular com mais velocidade, mas não tão rápido como localidades maiores. Não significa que estes municípios não devam impor alguma restrição de mobilidade, pois, segundo Rangel, locais como Anhanguera e Professor Jamil não deveriam ter, neste momento da epidemia, casos confirmados. A primeira já registrou um e a segunda, 6. Estas cidades devem ter pelo menos um mínimo de controle para evitar que estes casos se espalhem. Não ter caso confirmado não alivia situação de riscoVarjão é uma cidade com 3.827 habitantes a 71 km de Goiânia, não tem nenhum caso confirmado de Covid-19 (apenas um suspeito cujo teste deu inconclusivo há mais de 20 dias) e é uma das cidades com melhores índices de isolamento social: conseguiu manter uma média de 54,9% nos dias úteis da semana passada. Apesar de ser uma cidade considerada pequena, preocupa a proximidade com Goiânia, que não tem conseguido manter o índice nem perto dos 50%. No mesmo período, teve uma média de 40,4%. O prefeito de Varjão, Valdivino Martins da Silva, diz que seguiu o decreto estadual do dia 19 de abril, em relação ao que abre ou não na cidade, mas aumentou o rigor sobre como a abertura das atividades podem ocorrer. Nos comércios, segundo ele, só entra um cliente por vez, e a fiscalização é intensa para impedir a circulação de pessoas sem máscara. “A gente tem tido problema nos finais de semana, com as famílias se reunindo, mas estamos trabalhando nisso para evitar risco de contágio”, disse.Já em Iporá, cidade com 31,5 mil habitantes a 226 km de Goiânia, a situação é oposta, com um índice médio de 32% de isolamento, o pior do Estado na semana passada. No dia 30, a taxa ficou em apenas 24,1%. Lá não teve nenhum caso confirmado até o momento, e o prefeito Naiçotan Araújo Leite diz apostar na fiscalização firme para evitar que a maior mobilidade das pessoas faça o novo coronavírus se espalhar na cidade. A cidade é uma das que mais relaxaram as atividades comerciais e de serviço, com liberação inclusive de academias e restaurantes, com 50% da capacidade. O prefeito diz que a população tem colaborado, com praticamente todos, segundo ele, aderindo ao uso de máscaras. “A fiscalização também é muito rígida.” A dificuldade, diz Naiçotan, está em impedir filas e aglomerações na agência da Caixa e nas lotéricas. “Permitimos a abertura do banco no sábado e domingo, mas pouco adiantou”, disse.O biólogo e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Thiago Rangel, alerta para o fato de que estas cidades pequenas com baixo índice de isolamento podem sofrer as consequências de uma explosão de casos em cidades maiores. “Muitas são dependentes economicamente de Goiânia”, argumenta.A dificuldade em se manter a taxa de 50% de isolamento - única medida considerada comprovadamente eficaz para reduzir a taxa de transmissão do novo coronavírus - é percebida no fato de que apenas 8 municípios conseguiram atingir este patamar nos quatro dias úteis da semana passada, entre 27 e 30 de abril, entre eles, Cumari, Ipiranga e Três Ranchos, todas com cerca de 2,8 mil habitantes. Mesmo cidades que adotaram medidas mais extremas como fechamento de divisas para moradores de fora apresentam índices de isolamento baixos. Ou seja, apesar de ter poucos visitantes, a própria população se movimenta bastante internamente. Em Pirenópolis, de 24,9 mil habitantes, o índice de mobilidade médio ficou em 40,2% e em cidade de Goiás (22,6 mil), em 42,3%. Alto Paraíso, outra cidade conhecida pela movimentação de turistas antes da epidemia, com 7,6 mil habitantes, o índice ficou em 41,2%.Cinco cidades com bom isolamento têm Covid-19Ao contrário de Goiânia e Anápolis, Aparecida de Goiânia tem conseguido manter o índice de isolamento acima de 50%. Nos dias úteis da semana passada, ficou em 51,6%. Entretanto, é a segunda cidade com mais casos confirmados de novo coronavírus: 54 moradores infectados. Aparecida também destaca pelo maior número de testes aplicados no Estado. Quatro cidades estão entre as que apresentam mais de 10 ocorrências de Covid-19: Valparaíso de Goiás, Águas Lindas de Goiás, Trindade e Senador Canedo. Em comum, todas estão no entorno de uma capital considerada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) como foco epidêmico: Goiânia e Brasília. Relatórios da Fiocruz apontam que as cidades que compõem a região metropolitana destes dois centros urbanos estão entre as que mais correm risco de sofrer com explosão de casos de Covid-19, independente do tamanho populacional. -Imagem (Image_1.2046552)