Goiás registrou um aumento de 89% de novos casos confirmados do novo coronavírus na última semana, entre os dias 13 e 20 de junho. É o maior acréscimo no mesmo período quando se compara com as outras unidades da federação (UFs). Das cerca de 7 mil novas confirmações neste período, uma média de mil por dia, 25% são da cidade de Rio Verde, onde foi identificado um surto do vírus após serem realizados mais de 15 mil testes de Covid-19 em 7 indústrias.No entanto, mesmo em um cenário hipotético sem os novos testes de Rio Verde, Goiás continuaria liderando o aumento de novos casos, mas com uma porcentagem de aumento menor, de 66%. Todas as três posições seguintes do ranking são de UFs da região Centro-Oeste: Mato Grosso (61%), Mato Grosso do Sul (45%) e Distrito Federal (44%).Os resultados foram extraídos a partir da plataforma de dados abertos Brasil.io, que reúne estatísticas de Covid-19 por município brasileiro. Por isso, alguns números podem divergir um pouco dos divulgados pelas secretarias estaduais.A proporção do aumento de novos casos de coronavírus nos Estados varia. Na última semana de maio, Goiás registrou um incremento de 48%, ficando na 15ª posição do ranking nacional. Já na primeira semana de junho houve 60% de confirmados a mais, 4ª posição entre os Estados naquele período.Na segunda semana de junho, a velocidade de aumento de novos casos confirmados de Covid-19 caiu. O acréscimo registrado em Goiás de 6 a 13 de junho foi de 27%, colocando o Estado na 10ª posição do ranking nacional. E agora, na última semana, registrou aumento de 89%, maior entre as UFs no mesmo período.Reportagens do POPULAR já mostraram que a quantidade de casos confirmados não é um retrato preciso e atual da pandemia nos Estados e municípios. Além do tempo para o resultado do teste ficar pronto, também há o intervalo de tempo para que cada novo caso positivo seja inserido na estatística.Os dados de Rio Verde, por exemplo, só foram adicionados no sistema no domingo (14), mas os testes em massa feitos nas indústrias da cidade haviam sido realizados na semana anterior. O município teve de fazer uma força-tarefa para inserir todos os novos dados de casos confirmados no sistema.Por isso, há outros indicadores para avaliar o avanço da pandemia, como estatísticas baseadas na quantidade de novos casos por data de primeiros sintomas e data de exame, números de óbitos por data da morte e não só notificação, números de internações e números de internações e óbitos por síndrome respiratória aguda grave (Srag).Aumento realA Superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO), Flúvia Pereira Amorim da Silva, avalia que houve um aumento real na velocidade de crescimento dos casos de coronavírus na última semana, além do acréscimo da testagem em Rio Verde e Anápolis, onde indústrias fizeram exames em massa nos funcionários.“Nós começamos com medidas restritivas de forma bem mais adequada, lá em março. Isso fez com que se conseguisse segurar essa aceleração por mais tempo. A partir do momento que começa a ter mais mobilidade nas ruas e diminui a taxa de isolamento, é visível o aumento mais frequente”, explica a gestora. Em outras reportagens do POPULAR, Flúvia costuma alertar que primeiro há um aumento de casos, depois de hospitalização e em seguida de óbitos.A superintendente também avalia que há uma aceleração da pandemia no Centro-Oeste e no Paraná, depois de um foco maior no Norte, Sudeste e Nordeste do Brasil. “Em um país com dimensões continentais como o Brasil, isso pode acontecer. Isso também acontece nos Estados Unidos. A pandemia não vem ao mesmo tempo. Primeiro uma região, depois outra”, avalia.Flúvia alerta que este aumento da velocidade de infectados demonstra o aumento exponencial da Covid-19, que tanto se falava no início da pandemia. “Não custa lembrar que é uma doença que não tem vacina, não tem tratamento eficaz ainda e a única forma de combate é fazendo o isolamento social.” Estado tem elevada taxa de transmissão, diz estudoGoiás é o Estado com a segunda maior taxa de transmissão do novo coronavírus no Brasil, segundo cálculo do projeto Covid-19 Analytics, parceria entre a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Os pesquisadores calcularam o Rt de todas as unidades da federação. O Rt é a média de novas pessoas com a Covid-19 que cada contaminado é capaz de infectar. Quando essa taxa está abaixo de 1,0 é sinal de que o vírus está se propagando de maneira mais lenta. Segundo o estudo da PUC-RJ e FGV, o Rt de Goiás é de 1,86, abaixo apenas do de Sergipe, que é de 1,96. Unidades da Federação do Centro-Oeste se destacaram no mapa, com taxa altas, de 1,47 no Mato Grosso, 1,5 no Mato Grosso do Sul e 1,42 no Distrito Federal. Estados como São Paulo e Rio de Janeiro apresentaram taxa abaixo de 1,3, com 1,23 e 1,02 respectivamente. O cálculo da taxa de transmissão feito pelo Covid-19 Analytics é diferente do apurado por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG), que vêm monitorando o avanço do vírus no Estado desde o início da pandemia. Segundo estimativas dos pesquisadores da UFG, o Rt de Goiás tem variado entre 1,35 e 1,45, chegando no máximo a 1,50, segundo o professor José Alexandre Felizola Diniz Filho, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG.Não é a primeira vez que há divergência no cálculo entre os dois grupos. No fim de maio, o Covid-19 Analytics chegou a calcular um Rt de mais de 6,0 para Goiás. O resultado foi rebatido pelos pesquisadores da UFG. Em nota técnica, publicada no dia 29 de maio, os pesquisadores da UFG avaliaram que o então Rt superior a 6,0 era extremamente elevado em relação ao número reprodutivo básico inicial do Covid-19, estimado entre 2,0 e 3,0, e bem acima da média estimada em meta-análises internacionais. Ainda na nota de maio, os pesquisadores da UFG explicaram que há várias formas de calcular a taxa de transmissão e detalhou tecnicamente a forma como o Rt era calculado por eles. Alexandre Felizola avalia que o atual Rt calculado pela PUC-RJ para Goiás, de 1,86, está mais realista, mas ainda assim muito alto. Em sua página na internet, o Covid-19 Analytics faz uma ressalva sobre o seu cálculo. “Como estes dados podem ser impactados por mudanças no padrão de divulgação e/ou de testagem, os resultados devem ser interpretados com cautela, e se tornam mais confiáveis conforme a região se estabiliza em uma determinada faixa de número de reprodução por muitos dias”, diz trecho de texto introdutório.A superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO), Flúvia Pereira Amorim Silva, diz que não conhece a metodologia do estudo do Rio de Janeiro, mas lembra que as projeções feitas pela equipe da UFG têm se mostrada assertivas, inclusive nas previsões de óbitos.