A cada três dias, desde 2017 e até 10 de março, algum município de Goiás registra um desastre de alta magnitude, especialmente relacionado a incêndios florestais e tempestades com chuvas intensas. Neste período mencionado, foram 722 ocorrências relatadas ao governo federal, o que ocorre, normalmente, quando o município entende que o caso está acima do que consegue atender com a Defesa Civil Municipal e recorre a outras esferas de poder para receber ajuda. Os desastres relatados ao governo federal vão desde a tempestade de granizo que cobriu as ruas de Abadiânia de gelo em 2017 a até os temporais em cidades do nordeste goiano em janeiro deste ano.Os dados fazem parte do Relatório Gerencial - Danos Informados, que é disponibilizado pelo Ministério de Desenvolvimento Regional (MDR). O documento é atualizado pelos próprios municípios de forma espontânea, ou seja, sem qualquer obrigação legal. Na prática, segundo explica o assessor de comunicação da Defesa Civil de Goiânia, Cidicley Santana, é um instrumento de gestão que serve para registrar uma ocorrência junto ao governo federal e que possibilita a obtenção de ajuda humanitária, de recursos humanos e, especialmente, financeira. “É usado quando temos desastres de grande magnitude para o município”, diz.Nesta série histórica, Goiânia e Morrinhos são os municípios que mais registraram desastres ao governo federal, com nove cada um. A capital já possui relatados dois alagamentos ocorridos em 2018 e uma tempestade no ano de 2019. Em 2020, há registros de inundação, incêndio florestal e alagamento, enquanto que no ano passado foram registrados no relatório os acontecimentos em decorrência das fortes chuvas de janeiro, entre os dias 14 e 18, e o incêndio no Parque Altamiro de Moura Pacheco em setembro, que consumiu cerca de 10% da área total da unidade de conservação que possui 3.183 hectares.Já Morrinhos relatou ao MDR três incêndios florestais e um em aglomerado residencial, duas tempestades, um deslizamento, um colapso de edificações e uma ocorrência envolvendo o transporte rodoviário de produtos perigosos. Válido lembrar, porém, que por ser de critério municipal não há um indicativo do que representa um desastre de alta magnitude, servindo mais como uma opção de gestão, ou seja, quando o caso é grave ao ponto da Defesa Civil municipal e prefeitura precisarem de ajuda estadual ou federal.Santana explica que a Defesa Civil tem sua esfera municipal, normalmente ligada à Guarda Municipal, a estadual, quase sempre parte do Corpo de Bombeiros Militar, e a federal, que é do MDR. Casos corriqueiros ficam no município e os relatos mudam de esfera a partir de sua complexidade. Ele lembra, por exemplo, que Goiânia demorou a obter recursos federais para a reconstrução da Marginal Botafogo em 2017, após uma série de alagamentos e erosões, por não ter na época uma Defesa Civil ativa e não ter feito o cadastro do desastre para a União no sistema. É a partir destes registros que uma cidade pode decretar uma situação de calamidade pública, por exemplo.Para se ter uma ideia, entre janeiro de 2017 e março de 2022, os desastres em solo goiano registrados no relatório levaram duas pessoas a morte. A primeira ocorreu em março de 2017, como consequência de um alagamento em Planaltina. Já em janeiro deste ano, uma tempestade em Guarani de Goiás, a 600 quilômetros de Goiânia, vitimou outra pessoa. Além disso, as ocorrências somaram 37 feridos e 104 enfermos, e ainda 1.169 desabrigados e 8.350 desalojados em todo o Estado (ver quadro).Segundo o MDR, “os prejuízos estimados neste relatório são inseridos pelos entes – Prefeituras ou Governos Estaduais. Os dados são, portanto, responsabilidade dos órgãos. A ação da Defesa Civil Nacional é complementar a dos estados e municípios e deve ser acionada pelos entes, já que respeita o pacto federativo”.A reportagem retirou da contagem do Relatório Gerencial os registros de desastres de 2020 e 2021 com fins de calamidade pública a respeito da pandemia de Covid-19. O sistema também permite o relato de casos de doenças infecciosas. Neste período, no entanto, os 246 municípios goianos registraram 550 desastres deste tipo.Flores de Goiás ainda espera ajuda federalEm janeiro deste ano, municípios da região Nordeste de Goiás foram assolados com chuvas intensas e os casos foram registrados do Relatório Gerencial - Danos Informados, do Ministério de Desenvolvimento Regional (MDR). Em Flores de Goiás, a situação de emergência foi decretada no dia 4 de janeiro, após as chuvas terem iniciado ainda no dia 23 de dezembro, conforme atesta o prefeito Altran Avela (UB). “Até hoje está chovendo e estamos com problemas ainda. Já fiz pedido no governo federal para receber mais de R$ 1 milhão para ajudar a reconstruir as estradas e as pontes, mas ainda não chegou nada.”Avelar conta que o registro feito no Relatório do MDR foi feito para protocolar o pedido de ajuda. Em janeiro, ele chegou a receber apoio federal com kits de higiene, água mineral e colchões, e do governo estadual com 600 cestas básicas. “Ajudaram naquela fez, foi uma ajuda de cada. Mas a gente ainda precisa. Ainda temos cerca de 300 famílias isoladas em razão das chuvas. Precisamos muito de maquinário para fazer esse serviço e apoio financeiro”, conta.Para se ter uma ideia, no dia 6 de janeiro, uma casa na zona rural do município ficou submersa em decorrência das chuvas que provocaram a cheia do Rio Paranã. Outras cidades da região também ficaram em situação de calamidade após as chuvas. Para se ter uma ideia, todos os 19 registros de desastres em Goiás ao MDR neste ano são com relação a chuvas intensas e nas regiões Norte e Nordeste do estado. Em Flores de Goiás, os registros ocorreram nos dias 2 e 3 de janeiro.De acordo com o MDR, o “Governo Federal apoia com repasse financeiro quando é acionado pelos entes – após reconhecimento federal de situação de emergência/calamidade e o envio dos planos de trabalho dos Municípios/Estados com a solicitação de recursos de acordo com os danos apresentados”. O ministério reforça ainda “que essas solicitações devem ser realizadas via s2iD (Sistema Integrado de Informações sobre Desastres, do governo federal)”.Prejuízos após desastres no estado já somam mais de R$ 1,16 bilhãoOs desastres registrados em Goiás junto ao Ministério de Desenvolvimento Regional (MDR) de janeiro de 2017 a março de 2022 causaram prejuízos a populares e ao poder público na ordem deR$ 1.162.026.945,14. O valor é relativo a residências danificadas ou destruídas, prédios públicos de saúde, educação ou outras pastas que tiveram de ser reformados ou reconstruídos após as ocorrências, e mesmo obras de infraestruturas, como estradas e pontes. Este último ponto é o que mais trouxe prejuízo a Goiás, chegando a custarR$ 1.117.292.996,00, relativos a 817 obras de infraestrutura danificadas e outras 753 destruídas. O caso que mais gerou custos aos cofres foi após uma tempestade em que caiu mais de 70 milímetros de água por metros quadrados em um período de três horas em Ceres, a 178 quilômetros de Goiânia, que danificou 8 locais e destruiu 2, deixando um custo de R$ 17,54 milhões em 2018. No ano anterior a este, o valor de R$ 17,50 milhões foi o estimado pela prefeitura de Aparecida de Goiânia para a reconstrução de cinco obras de infraestrutura destruídas após uma enxurrada. O mesmo desastre derrubou uma escola no município.-Imagem (1.2422384)