A cada uma hora, uma família em Goiás perde um ente querido por Covid-19. O Estado chegou oficialmente a 7.007 mortes pelo coronavírus (Sars-CoV-2) na tarde desta terça-feira (12), conforme o portal da Secretaria Estadual de Saúde. Foram 292 dias desde o primeiro registro de óbito, no dia 26 de março, quando a dona de casa Maria Lopes de Souza, de 66 anos, então moradora de Luziânia, no Entorno do Distrito Federal, faleceu.Desde então, a expansão da pandemia fez com que se chegasse a estatística da média de 24 mortes por dia, em um momento no qual as autoridades de saúde estão atentas ao início de uma segunda onda na curva epidemiológica após praticamente dois meses de queda nos números de casos e óbitos.Para se ter uma ideia de como esta curva se movimentou ao longo destes dias, entre o primeiro óbito e o centésimo se passaram 55 dias. Na época, a maior parte dos contaminados pelo coronavírus (Sars-CoV-2) ainda era de pessoas com histórico de viagem para o exterior ou contato com quem esteve em outros países, mas a transmissão já começava a ser local. Trinta e cinco dias após, o Estado já registrava 500 óbitos e foram apenas mais 15 dias para a milésima vida perdida, no dia 7 de julho. Goiás chegava ao estágio de crescimento exponencial da doença, com a expectativa para que o pico ocorresse no mês de agosto.Desde o milésimo óbito, foram mais 20 dias para se chegar a 2.000 óbitos e 34 dias depois, o Estado já tinha dobrado a quantidade de vítimas da Covid-19, justamente no último dia de agosto. A partir daí a evolução da pandemia se deu com uma queda lenta, demorando 19 dias para mais mil óbitos registrados e depois 30 dias para se chegar a 6 mil mortos. Neste momento, já em outubro, a curva epidemiológica apresentava queda e foram 85 dias para se chegar a 7.007 óbitos. No auge da pandemia, o Estado chegou a registrar 69 mortes em um mesmo dia, o que ocorreu no dia 28 de agosto.A sequência mais trágica, no entanto, ocorreu entre os dias 18 e 20 deste mesmo mês, com 196 registros, uma média de 65,3 óbitos a cada dia. Neste ano, os boletins epidemiológicos divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) têm registrado uma média de 20 óbitos por dia, mas entre 8 e 9 possuem como data de ocorrência em 2021, o que mostra uma defasagem de cerca de 57% de dados ainda do ano passado. O biólogo Thiago Rangel, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e que faz parte de grupo de especialistas da instituição que avalia a pandemia no Estado, acredita que a chegada dos 7 mil óbitos já tenha ocorrido anteriormente.“Os atrasos continuam existindo e estão até mais graves. Em dezembro tivemos uma ou duas semanas de um apagão nacional e depois tiveram os feriados em que os registros caíram muito. Goiás está sistematicamente atrasado nesses registros”, avalia Rangel. Ele conta que o atraso para a notificação de casos se dá entre 10 e 15 dias e o de óbitos pode demorar até mais. O mesmo ocorre em todo o País. Na semana passada, quando o Brasil registrou oficialmente 200 mil óbitos por Covid-19, os especialistas que avaliam as curvas epidemiológicas calculavam que o dado já estivesse em cerca de 240 mil. “Temos entre 15% a 25% a mais do que está registrado”, diz o professor.PrejuízoPara se ter uma ideia do atraso de registro dos óbitos, a milésima vítima da Covid-19 em Goiás foi registrada no dia 16 de julho de 2020, mas a contar pela data de ocorrência, esse número se deu no dia 7 de julho, ou seja, 8 dias antes. Com o avanço da pandemia, esta diferença foi ficando ainda pior, como em relação ao óbito 5.000, que ocorreu no dia 19 de setembro, mas o boletim da SES-GO só trouxe esse número no dia 7 de outubro. Para Rangel, os atrasos dificultam a análise da situação da pandemia no Estado, mas de qualquer forma não é possível considerar que não se trata de algo grave.“Ser grave ou não é algo subjetivo e comparativo. Mas chegar a 7 mil óbitos e achar que está tudo bem, não tem jeito, não consigo ver isso como normal. Se chegasse em janeiro de 2020 e falasse que surgiria uma doença que mataria 7 mil pessoas em Goiás ninguém acreditaria, todo mundo acharia um absurdo, mas está aí”, avalia o professor. Ele ainda acredita que no momento em que governantes minimizam esta gravidade mostra que eles estão contemporizando “a vida e relaxando princípios morais, procurando argumentos que tranquilizem ou diminua a situação”.-Imagem (1.2180070)